Eduardo Martini vive Clodovil Hernandes no teatro
Ator volta a interpretar o estilista na peça Clô, pra sempre! em São Paulo
Dos nomes que já passaram pela moda brasileira, Clodovil Hernandes certamente é um dos mais lembrados. Polêmico dentro e fora de programas de televisão, o estilista ajudou a construir a identidade da moda nacional com inspiração na alta-costura. O contato com estilismo desde criança o fez percorrer uma carreira que se consolidou na década de 1970 vestindo celebridades e desenhando para boutiques de São Paulo, como a Casa Canadá e seu próprio ateliê.
Clodovil pertenceu a uma geração de criadores de moda que valorizou o produto brasileiro frente à influência estrangeira, promovendo a diversidade têxtil no Brasil.
Neste mês, o ator paulistano Eduardo Martini voltou a interpretar o estilista no monólogo Clô, pra sempre!. Depois do sucesso da peça Simplesmente Clô, que encaminhou o ator a ser indicado a nove prêmios, inclusive ao Prêmio de Humor, o ator retorna aos palcos com caracterização extraordinária.
Com texto de Raphael Gama e direção de Viviane Alfano, o monólogo aborda as inspirações de Clodovil nos mais de 40 anos de vida pública, envolvendo moda, televisão, amigos, seu único amor e seu primeiro mandato como deputado federal. Em cartaz no Teatro União Cultural em São Paulo até 27 de maio, a peça faz um verdadeiro inventário dos episódios mais relevantes da vida do estilista brasileiro falecido em 2011.
Em entrevista à L’Officiel Brasil, Eduardo Martini revela curiosidades sobre a personalidade e o legado de Clodovil, além do processo de criação da peça que lhe rendeu o Prêmio Bibi Ferreira de Melhor Ator em 2022. “Não há como inventar ou criar. Eu tenho que ser o Clodovil”, declarou o ator.
L'OFFICIEL: Como é reviver um personagem tão marcante da história da moda brasileira no teatro?
EDUARDO MARTINI: Eu nunca pensei que fosse chegar onde cheguei dando vida ao Clô. É muito engraçado e as pessoas podem achar muitas coisas, mas eu aprendo com o Clodovil em todos os espetáculos. Sempre descubro alguma coisa nova.
L'OFFICIEL: Clodovil foi polêmico e controverso algumas vezes em suas falas e atitudes na televisão e na política. Como você espera que o público reagirá aos temas abordados nas peças?
EDUARDO MARTINI: Eu fiz um outro texto sobre o Clodovil durante quase 3 anos e o público adora. Eles vibram de uma maneira que eu não consigo explicar. Clodovil falava sobre assuntos há mais de 15 anos e que, hoje, cabem direitinho no nosso dia a dia.
L'OFFICIEL: Em entrevista, você afirmou que Clodovil não era um personagem, mas, sim, uma personalidade. Como foi trazer esse conceito para o palco?
EDUARDO MARTINI: Eu consegui humanizar a interpretação de forma muito séria. Você cria um personagem da sua maneira, mas o Clodovil existiu e todos o conheceram. Eu quis chegar muito perto do que ele foi e não de uma caricatura.
L'OFFICIEL: No auge da carreira, Clodovil mantinha certa rivalidade com o estilista carioca Dener Pamplona de Abreu, responsável por vestir personalidades da política brasileira como Maria Thereza Goulart, esposa do ex-presidente João Goulart. Como os temas polêmicos foram tratados na peça?
EDUARDO MARTINI: De forma muito delicada e sempre falando a verdade. É muito difícil separar o Clodovil da vida íntima e o da vida pública. Não há como inventar ou criar. Eu tenho que SER o Clodovil, entende? Aquele que sempre falou a verdade doa a quem doer.
L'OFFICIEL: Em Simplesmente Clô, é possível nos lembrarmos de alguns momentos da vida do estilista. O que Clô, pra sempre! traz de novo para o público?
EDUARDO MARTINI: A peça traz um aprofundamento de todos os temas. O Raphael [Gama] é um talento e conseguiu, na escrita do texto, garimpar fatos relevantes da vida de Clodovil em todos os sentidos.
L'OFFICIEL: Elegância sempre esteve na vida de Clodovil, especialmente em seu trabalho como estilista e apresentador de televisão. Como ocorreu a construção do figurino da peça?
EDUARDO MARTINI: O Olivieri [figurinista] me vestiu agora com um terno cinza prata - a cara do Clodovil - e, na primeira versão, eu quis um terno branco porque eu me apaixonei quando o vi de branco em um programa. Ele era uma mistura de clássico com moderninho. Nem sei explicar muito, mas é este estilo.
L'OFFICIEL: Em se tratando de moda, o que mais representa Clodovil em cena?
EDUARDO MARTINI: Elegância sempre. Os vestidos [do cenário] da primeira versão são cópias inspiradas em modelos originais. É claro que foram feitas em malha porque não tenho patrocínio e agora me deram um vestido de noiva. Tudo tem que ser de bom gosto. Não precisa ser caro, mas é preciso ser de bom gosto.
L'OFFICIEL: Qual é o legado de Clodovil Hernandes para a sociedade brasileira?
EDUARDO MARTINI: O carisma, a verdade, a sujeira política e a valorização do artista nacional. Clodovil falou de tantos assuntos, mas sabemos que temos vários níveis de entendimento da vida. Então, cada um pega o que pode.
L'OFFICIEL: O que Clodovil diria para o Brasil de hoje?
EDUARDO MARTINI: Que vergonha!