Cultura

Relacionamentos: o futuro da comunicação com interferência da tecnologia

Quer me namorar? Relacionamentos entram definitivamente na era digital, mas encontros românticos analógicos ainda não saíram de cena.

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Desde que um homem de coração solitário fez o primeiro anúncio para encontrar uma boa esposa, no ano de 1695, em um jornal do Reino Unido, até o lançamento do primeiro site de encontro, o match.com, em 1995, parece que a única coisa que não mudou foi a vontade de encontrar o par perfeito.

Se, antes, na maioria das vezes, as pessoas namoravam e se casavam por meio das redes de amigos e conhecidos, sendo os parceiros em potencial da mesma área geográfica, atualmente isso tudo mudou, e muito. Hoje, pipocam opções de conexões amorosas virtuais pela web e os efeitos disso, já apontados por estudos, são as novas ligações que independem da distância e das relações próximas. A amplitude da internet acabou por unir pessoas que naturalmente nunca teriam a oportunidade de se conhecer. Porém esse mesmo estudo, feito por dois cientistas, Josue Ortega, da Universidade de Essex, na Inglaterra, e Philipp Hergovich, da Universidade de Viena, na Áustria, aponta que na internet os relacionamentos que nela começam são muito mais duradouros.

Mas nem tudo são flores nesse novo tipo de conexão, uma vez que outros estudos nos mostram que depois da entrada do mundo digital na nossa vida houve um aumento significativo da sensação de solidão, principalmente em grandes centros urbanos, pois embora a tecnologia possa ajudar a conectar as pessoas, também pode aprofundar a distância emocional entre elas, como afirma Sherry Turkle, professora de Estudos Sociais e Tecnológicos do MIT (Massachusetts Institute of Technology), em seu livro Alone Together (Sozinhos juntos, em tradução livre), em que examina como a tecnologia tem mudado a maneira como nos relacionamos com outras pessoas, e argumenta que o uso excessivo de dispositivos eletrônicos pode levar à solidão, apesar da sensação inicial de conexão.

Ela escreveu que, com o aumento do uso das redes sociais, percebe-se uma diminuição na comunicação face a face e uma maior dependência da tecnologia para manter os relacionamentos, o que pode nos levar a problemas futuros de vínculos, e, provavelmente, serão necessários mais esforços para manter as conexões entre as pessoas. Resumindo: podemos falar com muita gente e ao mesmo tempo nos sentir sós. O que pode parecer um contrassenso na verdade é apenas mais um capítulo da eterna busca pelo amor, porém agora temos novas ferramentas para nos ajudar nessa caça ao tesouro. Mas, então, qual será o futuro dos relacionamentos com essas novas possibilidades a nosso dispor? Difícil adivinhar como serão as conexões logo adiante, mas já sabemos que muita coisa mudou nesse aspecto depois de 1995. Em termos de escolha do parceiro, o sociólogo britânico Anthony Giddens sugere que as pessoas estão cada vez mais interessadas em encontrar pares que correspondam às suas próprias necessidades, desejos e objetivos pessoais, e alerta para os possíveis riscos da tecnologia e da ênfase excessiva na escolha individual.

Já a socióloga Eva Illouz argumenta que a tecnologia tem um papel cada vez mais importante na criação e manutenção de relacionamentos amorosos, sugerindo que as inovações permitem que as pessoas se conectem de maneiras antes impossíveis, mas, por outro lado, podem criar novos desafios para a intimidade e a comunicação. Também alerta: a tecnologia pode levar a uma cultura de descarte, na qual estamos sempre procurando algo melhor, em vez de trabalhar em relacionamentos existentes.

Em contrapartida, depois do casal formado, sabemos que com as novas interfaces tornou-se mais fácil e conveniente a comunicação, independentemente da distância. Mensagens de texto, chamadas de vídeo e aplicativos de mensagens instantâneas são aliados para os apaixonados manterem contato, mesmo quando estão separados. No entanto, isso já é quase coisa do passado, pois hoje, com o avanço da Realidade Virtual e Realidade Aumentada, casais já podem experimentar atividades românticas em ambientes virtuais ou aumentados, como visitar lugares diferentes, praticar esportes radicais ou até mesmo criar suas próprias aventuras em mundos virtuais.

Seja lá qual for o caminho que vamos trilhar, tenho certeza de que ainda vamos presenciar muitos avanços sobre o assunto, como também de que é provável que a tecnologia desempenhe um papel cada vez mais importante nas relações amorosas. Para os românticos que acreditam nos encontros analógicos cito Eli Finkel, especialista em psicologia da Northwestern University, que afirma que mesmo com toda a tecnologia devemos continuar indo aos encontros face a face: “Afinal, o algoritmo que você tem entre suas orelhas é melhor do que qualquer outro programa de computador”, diz ele.

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