PFW: Miu Miu traz reflexões para a passarela da capital francesa

Miuccia Prada está sempre alguns passos à frente, adiantando comportamentos, propondo estéticas que vão influenciar muitos, afinal, moda é um ato político enquanto reflexo da e reflexão sobre a sociedade presente. Doutora em Ciências Políticas, nada escapa do radar de Miuccia, o que ela bem traduz para a Prada e, também, na Miu Miu que desfilou neste início de tarde, em Paris. É fato que, aqui, Miuccia se diverte exercitando referências de sua juventude, politizada e fashionista, vale dizer. Para ela, os dois caminhos sempre estiveram juntos. A Miu Miu não é sobre idade, é sobre jovialidade. Mas como ela dialoga bastante com millenials, qual a mensagem que a diretora criativa deixa para essa turma com este show?

Tudo começou pelo convite: dois torrões – açúcar e sal, opostos complementares, levando para o projeto “Salt Looks Like Sugar”, desenvolvido pela artista Goshka Macuga especialmente para o verão 2025 da marca. Na cenografia da sala de desfile havia um filme com imagens de uma gráfica imprimindo exemplares de jornal que, uma vez impressos, rodavam em um varal pelo teto do espaço. Era o “The Truthless Times”. A proposta foi trabalhar o conceito de verdade e representação convidando o espectador a entender o que é real no mundo de hoje. E essa verdade tem que ser encontrada por investigação individual em vez do caminho mais fácil: o que está disponível em fontes comumente distribuídas e acessíveis em vários canais.

O texto sobre a coleção encoraja os convidados a refletirem de maneira crítica, argumentando que no contexto da era pós-verdade, em que os limites entre fato e ficção estão cada vez mais confusos, entender quem controla as narrativas relacionadas aos acontecimentos se torna mais crítico. Questões de verdade, desinformação e manipulação estão intrinsecamente ligadas a questões de poder, liberdade de expressão e representação.

E como transformar tudo isso em roupa? Miuccia trabalhou sobreposições até chegar na lingerie, a camada mais próxima do corpo, apostou em recortes redondos como a Terra na altura do plexo solar – o nosso centro de força e de vitalidade –, exaltou o conforto dando continuidade ao flerte com os esportes. E se voltou para peças com aspecto vintage, fortalecendo o passado – porto seguro para a construção de um futuro digno. Para fechar o desfile, um convidado muito especial, o ator Willem Dafoe, que no novo filme de Yorgos Lanthimos, “Pobres Criaturas”, vive o excêntrico cientista lobotomista Godwin Baxter, que “inventa” um cérebro para Bella, a personagem de Emma Stone. Touché!