Prada: a estética versus o mundo real

Qual a função de beleza e delicadeza contra a brutalidade? Esse embate da estética versus o mundo real, numa realidade em que a moda tem convivido e questionado seu verdadeiro papel em meio a tantas problemáticas práticas, guia o inverno da Prada. Como no cenário — dentro do já tradicional brutalismo da Fondazione Prada, desenhada por Rem Koolhaas — em que o teto se move para revelar uma ocupação de flores brancas nas colunas de concreto. Flores em origami de algodão eram os convites da vez, representando muito do que foi a coleção. Em parte, de maneira óbvia — aplicações floridas salpicavam saias, enquanto a lógica das dobradiças orientavam peças e os desenhos dos recortes sobre os escarpins angulosos que atraíram os olhos de geral na passarela. Mas, falando da dupla Miuccia e Raf Simons, são as sutilezas que valem mais. E aqui ambos agarram-se nas consecutivas paixões pelos uniformes para refletir sobre a humildade da indústria perante o mundo, de certa forma, enquanto revêem esses códigos estéticos em busca de novas silhuetas (nem tão humildes, necessariamente). A abrangência sobre o assunto é grande — dos beges e cáquis, das dragonas, dos trenchs ou das malhas cinza mescla, até questionamentos diversos sobre uniformizações, vindo através workwear feminista ou dos vestidos de noiva, outra versão (talvez conflituosa) sobre tal gênero de vestuário de onde partiiu muito do imaginário florido. Nessa caça pela identidade própria, quem nunca buscou certo conforto em regras já estabelecidas dentro da sua própria bolha? Aí que couros resinados convivem com malhas caneladas (na transparência da vez nesta temporada de inverno), nos efeitos estufados que remetem a alvas roupas de cama e — principalmente — nas modelagens que transformam as silhuetas de casacos em arredondados casulos de proteção. Talvez num sentido de que, em grande parte dentro de um mundo cheio de quebradiços, a beleza da moda esteja no acolhimento.