Schiaparelli: a polêmica das cabeças de animais selvagens
Os infernos de Dante n’A Divina Comédia e a polêmica pos trás das novas peças de Schiaparelli para a alta-costura
Se você gastou mais que cinco minutos pelo Instagram hoje, já notou que a Internet está enfurecida com o desfile da Schiaparelli durante a semana de moda de alta-costura, em Paris. Tudo por conta de três looks que carregavam imensas cabeças ultrarrealistas de animais selvagens — um leão, um leopardo e um lobo de pelos negros (ou loba, devidamente montada nos ombros de @naomi). O choque ficou por conta da aparente loucura taxidérmica e suscitou discussões sobre o mal gosto por parte de fashionistas, defensores dos animais e virtualmente qualquer um que veja a caça esportiva como uma barbaridade — mesmo que as cabeçorras tenham sido milimetricamente feitas com pelúcia, resina e impressão 3D, o buzz já estava feito e deve durar alguns dias no TikTok. Daniel Roseberry jura que não fez isso para provocar, mas como referência direta dos infernos de Dante n’A Divina Comédia, inspiração da vez, onde esses mesmos animais são bestas metafóricas que atravessam o caminho do autor — e, agora, do estilista. O drama de Roseberry, pelo visto, será forçar o olhar da audiência, bichos à parte, para o resto da coleção. Apesar das máscaras douradas, os momentos de opulência surrealista são menores (de certa forma) e se desafogam a partir da silhueta ampulheta que Daniel tanto ama e que vem do perfume Shocking, lançado por Schiap nos anos 1930 — compensados em ombros angulosíssimos e proporções exageradas, inclusive na alfaiaria boyish. A pompa vem por conta dos bordados de pérolas, madrepérolas, marchetados e laqueados; já os animais, são outra história.