SPFW 58: A construção da identidade nordestina pelos olhos da Foz

Com a coleção desfilada nesta tarde, a Foz mostrou que as melhores inspirações são as que estão mais próximas. A referência vem de Laura Alves, tia-avó do estilista Antônio Castro, que fugiu da casa dos pais para se juntar ao Cangaço, na década de 1930. Intitulada “O Conto de Laura”, a coleção reflete o olhar sobre histórias do interior de Alagoas que falam sobre a construção da identidade nordestina. Ao invés de explorar as populares imagens de Lampião ou Maria Bonita, Antônio preferiu personagens que foram invisibilizados ou romantizados em histórias de violência, solidão, amor e coragem. Esta conexão se fortalece com a utilização de bordados, cestaria, patchwork e fuxico.

"O tema dessa coleção vive dentro de mim há algum tempo. Em “Alambique Fantasia”, minha coleção anterior, já havia trazido vivências minhas, mas recorri a metáforas por não me sentir tão confortável em me expor. Já neste momento de “O Conto de Laura”, me sinto pronto para abordar histórias mais pessoais. Que acabam não sendo só minhas, são a história de um povo. De uma maneira bem literal, essa coleção faz uma construção biográfica, partindo da carta perdida no tempo, em busca de um desfecho para a memória de Laura", explicou o estilista.

A coleção foi dividida em três partes: Sonho, Sina e Lenda, que narram a trajetória de Laura. As roupas brancas que abriram o desfile traziam botões bordados com pedraria em forma de arabescos, representando os portões das casas do interior. Na sequência, vieram looks com flores bordadas em rendendê, manualidade típica de Entremontes, no Baixo São Francisco, ilustrando o desabrochar de Laura para a vida, desdobrando-se em seguida em jacquards simbolizando a transição do jardim de casa até a vegetação espinhosa da caatinga. Uma das vedetes da coleção são as estampas e os bordados desenvolvidos a partir de telas pintadas por Sil de Capela, artesã alagoana conhecida por seu trabalho em barro.