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Alok no Coachella 2025

Questionando o uso desfreado da IA, Alok traz a música como manifesto

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Alok no Coachella 2025 - Foto: Filipe Miranda

Logo após sua última apresentação no dia 19 de abril no Coachella 2025, o DJ Alok — classificado entre os quatro melhores DJs do mundo pela DJ Mag em 2024 — concedeu uma entrevista exclusiva à L’Officiel Brasil, compartilhando bastidores e reflexões sobre um dos momentos mais marcantes de sua carreira.

Em meio ao deserto da Califórnia, quando o pôr do sol tingia o céu de dourado e vermelho, e a noite lentamente invadia a planície estrelada que se misturava às luzes do festival, Alok, 33 anos, tomou o palco da 24ª edição do Coachella Valley Music and Arts Festival. Pouco depois de sua segunda apresentação no icônico Sahara Tent, o DJ falou sobre sua trajetória e as escolhas artísticas que moldaram este momento.

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Alok no Coachella 2025 - Foto: Filipe Miranda

Reconhecido entre os quatro melhores DJs do mundo pela revista britânica DJ Mag, Alok protagonizou dois shows no festival — nos dias 12 e 19 de abril — em horários de prestígio. Em tempos em que a criação artística parece cada vez mais capturada pelas engrenagens da tecnologia, o artista reafirmou no Coachella a intrínseca supremacia da expressão humana.

Alok apostou em menos uso dos recursos digitais para dar lugar a cinquenta dançarinos do coletivo italiano Urban Theory, que cruzaram o palco em coreografias desenhadas com precisão quase escultórica. Em uma composição multifacetada e pulsante, Alok subverteu as expectativas do festival, oferecendo uma experiência ritualística. Nos telões, a frase “This is not AI” surgia como uma advertência elegante e metafórica, sublinhando sua visão de que a arte, para existir, precisa vibrar de alma e presença. Em um gesto simples e poderoso, trajava uma camiseta com a mensagem “Arte Precisa de Alma”, sintetizando no próprio corpo a essência do manifesto. 

Sua performance ressoou como um ato emblemático, capaz de transcender o entretenimento e instaurar uma reflexão profunda sobre o que torna a criação verdadeiramente humana.

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Alok no Coachella 2025 - Foto: Filipe Miranda

O Coachella 2025 consolidou-se como um mosaico das vozes mais distintas da música contemporânea. Além do show histórico de Alok, passaram pelos palcos nomes como Lady Gaga, Green Day, Post Malone, Travis Scott, Vintage Culture, Benson Boone, Billie Eilish, Charli XCX e Ed Sheeran. 

Lady Gaga, fiel à sua natureza performática, entregou um espetáculo teatral em que faixas como “Killah” e “Abracadabra” rapidamente ecoaram pelas redes sociais. Green Day, estreando como headliner, reafirmou seu vigor em uma apresentação energética, enquanto Benson Boone, com a emotiva “Beautiful Things”, ofereceu ao público um dos momentos mais arrebatadores do festival. Billie Eilish surpreendeu ao fazer uma participação especial no show de Charli XCX, unindo as vozes na canção “Guess”.

Este ano, o festival enfrentou ainda cancelamentos de diversos artistas internacionais devido a problemas com vistos de entrada nos Estados Unidos.

 

Alok também trouxe ao Sahara Tent a nova versão de seu sucesso “Hear Me Now”, entrelaçada aos sons da floresta Amazônica, como parte de seu projeto The Future is Ancestral, propondo um elo autêntico entre inovação e herança cultural. 

O festival, que já consagrou performances históricas de Paul McCartney, Madonna, Daft Punk, Prince, Red Hot Chili Peppers, The Cure, The Killers, Blur e Ariana Grande, agora guarda também na memória o manifesto de Alok — uma noite em que a música eletrônica dançou entre as estrelas, desafiando algoritmos e reafirmando que, enquanto houver alma, haverá música. 

Confira a seguir entrevista exclusiva com Alok:

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Alok no Coachella 2025 - Foto: Filipe Miranda

O Coachella é reconhecido mundialmente como um espaço de inovação e diversidade musical. Como você pensa e constrói seu set para um público tão plural e atento, sabendo da visibilidade global que o festival proporciona?

A performance que desenvolvi para o Coachella foi a mais desafiadora da minha carreira, não por ter uma audiência plural ou pela visibilidade global, mas por ser algo inédito para mim. Estou acostumado aos recursos tecnológicos nos meus shows e, desta vez, com a colaboração do grupo Urban Theory, optamos pela tecnologia humana. Foi uma maneira de buscar novas possibilidades para me expressar artisticamente, mas não apenas isso: foi a chance de transmitir uma mensagem sobre a relação que estabelecemos com as máquinas, a natureza e a própria tecnologia, como o uso da inteligência artificial nas artes.

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Alok no Coachella 2025 - Foto: Filipe Miranda

O que motivou a decisão de substituir a tecnologia digital pela ‘tecnologia humana’ em sua apresentação no Coachella? Qual mensagem você quis transmitir ao fazer essa escolha em um palco de tanta projeção internacional?

Como você pontuou, o Coachella é um palco de inovação e tem um alcance absurdo. Fazer essa reflexão naquele espaço foi uma oportunidade que a minha equipe e eu não podíamos deixar passar. No fundo, é isso: como artista, minha responsabilidade é fazer a cultura se mover e mostrar que a arte precisa de almas humanas.

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Alok no Coachella 2025 - Foto: Filipe Miranda

Ao longo da sua trajetória, você colaborou com grandes nomes da música pop e eletrônica. Como consegue preservar sua identidade artística nesses encontros? E o que você valoriza em um colaborador para que essa parceria seja autêntica e tenha relevância criativa? 

Manter uma identidade musical nas parcerias é um desafio, mas que faz sentido quando há uma troca real — quando há espaço tanto para mim quanto para o outro artista imprimirmos nossas essências, sem nos prendermos a moldes já existentes. O bonito é co-criar e fazer desse exercício uma ferramenta de criatividade que se some. Por exemplo, estou lançando “Esperar Pra Ver”, uma música da década de 1970 que foi sucesso na voz de Evinha, uma cantora extraordinária, mas que a geração mais nova só está descobrindo agora. Produzi essa faixa junto ao Watzgood, com uma roupagem moderna, atualizada pela música eletrônica, mas sem descaracterizar os elementos originais da gravação. A música tem esse poder de unir estilos que aparentemente não têm a ver.

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Alok no Coachella 2025 - Foto: Filipe Miranda

Em um país de diversidade cultural tão intrínseca quanto o Brasil, como você vê a importância de conectar a música eletrônica com ritmos tradicionais? 

O Brasil é um país gigante e culturalmente diverso; a música do Norte é diferente da do Sul. Mas quem disse que não posso misturar forró com eletrônica? Fazer um carimbó eletrônico? Ou, como fizemos com o projeto Futuro É Ancestral, levar artistas indígenas ao Grammy e à ONU, em Nova Iorque? A música é uma linguagem de expressão, mais do que um produto.

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Alok no Coachella 2025 - Foto: Filipe Miranda

Com um público estimado entre 200 mil e 250 mil pessoas no show realizado em Belém — um marco que, segundo o governo do Pará, simbolizou a contagem regressiva para a COP30 —, como você enxerga o papel da música eletrônica na promoção e preservação das tradições culturais regionais e indígenas do Brasil, especialmente diante da resistência de alguns em integrar estilos como o carimbó?

A arte é uma ferramenta de transformação individual e coletiva. Como artista, entendo que meu papel vai além de entreter. Busco que meus shows sejam experiências; existe uma intenção em cada set que desenvolvo. Cada música pretende estabelecer uma conexão com o público. A arte tem esse poder de provocar, inspirar e incitar a reflexão. Tento usar minha visibilidade para somar espaço com outras vozes, trazer questões importantes à tona sobre quem somos e como nos relacionamos com o mundo — seja por meio da tecnologia, da ancestralidade ou da emoção pura que a música desperta. No fim, acredito que a transformação começa quando a gente toca alguém de verdade. Se uma pessoa sair do meu show com uma nova ideia, com um sentimento diferente ou com vontade de mudar algo, já valeu a pena.

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Alok no Coachella 2025 - Foto: Filipe Miranda

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