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Alquimia com gosto retrô: o efeito do tempo em drinks atemporais

Criados nos Estados Unidos, os coquetéis conquistaram o mundo e, sem dúvidas, resistiram ao tempo
Drinks atemporais
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Imagine entrar em um bar em São Francisco, na Califórnia, e ver um bartender desenhando um arco de fogo com a ajuda de dois copos enquanto prepara uma bebida? Poderia ser uma performance corriqueira, típica da profissão, numa cidade vanguardista. Mas o que causou impacto no público foi a época da cena, em torno de 1850, no auge da corrida do ouro. Conduzindo o improvisado espetáculo, Jerry Thomas criava o seu drinque de assinatura, o “The Blue Blazer”, primeiro coquetel flambado da história.

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Foto: Pexels

Aclamado como o pai da mixologia, Thomas publicou, em 1862, essa e outras centenas de receitas no “The Bartender’s Guide” (sem versão em português), obra considerada referência para quem quer ingressar no mundo das fusões. De lá para cá, a base das fórmulas não mudou muito. No site da International Bartenders Association – entidade que tem 65 países associados, incluindo o Brasil –, os coquetéis são divididos nas categorias Nova Era, Clássicos Contemporâneos e Inesquecíveis. No último grupo está o Dry Martini, bebida que entrou no imaginário da so sticação nas mãos do ctício espião James Bond.

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James Bond em duas versões, mas sempre com o drinque preferido a postos

Diz a lenda que o drinque teria surgido antes de 1900, elaborado com partes iguais de gim e vermute. Mas em 1910, um barman teria criado a versão com azeitona para satisfazer o magnata John D. Rockefeller Jr., que desejava algo único para a sua garganta dourada. Engana-se, porém, quem pensa que só de prosperidade é feita a história do Dry Martini. O bartender e sócio da Jigger – consultoria especializada em coquetelaria de luxo –, Renato Tavares, conta que foi a escassez dos tempos da Lei Seca que moldou a variante mais consumida na atualidade.

“Para driblar a privação, os norte-americanos usavam álcool e essência de zimbro, produtos encontrados na farmácia, para destilar em casa o que ficou conhecido como o gim de banheira. Como não era fácil para a turma de Al Capone contrabandear vermute, as doses no Dry Martini foram rareando, até virar uma borrifada”, diz.

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Fotos: Unsplash

Outro herói da resistência é o politizado Cuba Libre. Há controvérsias sobre a origem, mas entre os mixologistas, a narrativa mais comum conta que um militar dos Estados Unidos, durante a ocupação, decidiu profanar o rum da ilha caribenha, afundando uma dose da bebida em um copo de refrigerante. A mistura agradou e não mudou mais. “O máximo de transgressão é acrescentar um bitter de laranja ou de ruibarbo na receita”, explica Tavares.

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O Manhattan é outro coquetel em plena forma no século 21. O diretor da Associação Brasileira de Bartenders, Paulo Jacovos, avalia que o charme atual dessa bebida é chegar defumada às mãos do consumidor. “Basta usar o maçarico para queimar canela ou anis estrelado em um prato e servir, junto com a taça, numa bandeja coberta. Além do espetáculo da fumaça, quando a redoma de vidro é retirada, todo o salão perfumado”, ensina. Seis vezes campeão nacional em concursos especializados, Jacovos aposta na vida longa dos drinques. “São pura alquimia, encantando no olfato, no visual e, claro, no sabor”, declama.

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Foto: Pexels

DRY MARTINI: Fórmula de sucesso atemporal
 

Versão original (antes de 1900)

INGREDIENTES:
- 50 ml de vermute dry
- 50 ml de gim London Dry 10 ml de xarope de goma 2 gotas de bitter de laranja

MODO DE FAZER:
Coloque o gelo na taça onde a bebida será servida, apenas para resfriar a temperatura. No mixing glass, mexa por 30 segundos o vermute, o gim e o xarope de goma. Retire o gelo da taça e adicione o conteúdo do mixing glass. Acrescente o bitter de laranja

Primeira evolução (1910)

INGREDIENTES:
- 50 ml de vermute branco 50 ml de gim seco
- 1 azeitona
- 1 twist de limão
(casca do limão torcida)

MODO DE FAZER:
Resfrie a temperatura da taça com gelo. Misture no mixing glass o vermute e o gin. Retire o gelo da taça e adicione o conteúdo do mixing glass. Acrescente o twist de limão e a azeitona.

Versão Renato Tavares, da consultoria Jigg

INGREDIENTES:
- 75 ml de gim seco
- 5 ml de vermute branco
- 2 azeitonas sem caroço para decoração 1 zest de limão siciliano (uma rápida espremida do óleo da casca da fruta)

MODO DE FAZER:
Coloque o gelo na taça, apenas para resfriar a temperatura. No mixing glass, adicione mais gelo, o vermute e mexa bem. Em seguida, coe o vermute sobre a taça com gelo. No mixing glass, ainda com o gelo, acrescente o gim e mexa por 30 segundos. Esvazie a taça, desprezando o gelo e o vermute, que entra na receita apenas para aromatizar o recipiente. Coloque o gim sem o gelo. Acrescente o zest de limão e sirva com as azeitonas espetadas em um palito de acrílico transparente.

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Foto: Divulgação

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