L’Officiel Hommes #34: A arte liberta!
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O ano bem que poderia ser 2084, com carros rasgando os céus, Inteligência Artificial microchipada sob a pele, lentes de contato interativas, roupas tecnológicas que se adaptam ao clima e nenhum preconceito à vista. Mas ainda estamos seis décadas atrasados, perdidos entre o conservadorismo e o progressismo. É estranho imaginar que muitos de nós somos frutos de gerações que lutaram por igualdade de direitos e libertaram-se ao som de Janis Joplin, Jimi Hendrix e Led Zeppelin. Os corpos femininos baniram os espartilhos em 1901, depois aderiram às calças compridas, em 1930, e atearam fogo aos sutiãs em plena revolução sexual de 1968. O homem também desatou alguns nós e trocou o smoking pelo terno, as tonalidades escuras pela paleta do bege e os acessórios portentosos por artigos simples e funcionais. Entretanto, toda essa evolução nos códigos de vestimenta esbarrou na cultura do gênero - fato que a moda tem combatido abertamente. Olhando para a história, os sapatos de saltos altos eram peças do closet dos monarcas do século 16, assim como as saias figuravam nos másculos soldados romanos e a maquiagem fazia sucesso nos delineados dos egípcios. Ou seja, pelo menos até aqui, a humanidade envelheceu mal. Mas, numa dessas reviravoltas de costumes, começamos a ouvir ecos de contestação.
E, então, o ator Billy Porter surgiu no red carpet do Oscar, de 2019, a bordo de um look composto de saia longa e smoking, em reverência a Hector Xtravaganza, ícone dos ballrooms dos anos 1970 -, que nem deveria ter causado tanto frisson, já que era pra lá de requentado. Foi na repercussão deste evento ( turbinado pelo confinamento causado pela pandemia), que muitas marcas abraçaram as silhuetas unissex, reforçando o discurso do conforto, da funcionalidade e da fluidez. Evidentemente, temos surfado nesta onda há muitas edições, o que só potencializa as páginas a seguir, recheadas de pluralidade, de doces Bárbaras, de femmes Joões e de antagonismos urgentes. A elegância do balé de Rudolf Nureyev faz duo com a estética das ruas, descontraída, original, quase agressiva de tão intensa. O streetwear é a beca da turma antissistema. Nesta seara desconcertante, trazemos o trabalho do grafiteiro TEC Fase e os avessos conectados de Júlio Vieira, com parada no auroras, de Rica Kugelmas. Também transitamos pela versatilidade do mood de marcas antenadas com o burburinho que irradia das calçadas, revisitamos o vocalista do "Ratos de Porão", João Gordo, o trapper Yunk Vino, além de Alaíde Costa, Ney Matogrosso, Alexandre Rodrigues, Juan Queiroz e Pedro Neschling. Para o nosso "behind the scenes" - produzido com 11 atores atualmente em cartaz na novela "No Rancho Fundo" -, fomos inspirados peloa movimento "cinéma du look", que faz do hi-lo a sua melhor tradução.
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