Paralelo 31: empreendimentos, turismo e muito sabor
A região da Campanha Gaúcha, conhecida como Paralelo 31, consolida-se como polo na produção de vinhos premiados e reconhecidos internacionalmente.
No extremo Sul do País, a poucos quilômetros da fronteira com o Uruguai, no estado do Rio Grande do Sul, encontra-se a Campanha Gaúcha. Conhecida também como “Paralelo 31”, esta região, nomeada pela linha imaginária da latitude que a atravessa, beneficia-se de condições como clima temperado com influência marítima, altitude e exposição solar, variações térmicas diárias e solos diversificados, ideal para o cultivo de diferentes tipos de uvas, em especial a Tannat.
Alguns produtores locais, incluindo Valter José Pötter, da Guatambu, uniram-se para fundar a Associação das Vinícolas da Campanha Gaúcha, em 2010. Este movimento teve como principal objetivo promover o desenvolvimento e atrair investimentos, buscando firmar-se como modelo na viticultura nacional. A atuação da entidade abrange desde pesquisa e aperfeiçoamento de técnicas de cultivo adaptadas às especificidades climáticas – do solo e da região –, até a promoção e a valorização das bebidas nos mercados interno e externo.
Dentro deste contexto, a uva Tannat desempenha papel crucial na escalada dos vinhos da Campanha. Sua adaptação à geografia e ao ambiente, que são semelhantes aos do seu país de origem, permitiu a fabricação de vinhos caracterizados pela robustez e alta concentração de taninos. Na Guatambu, por exemplo, o tinto Rastro do Pampa Tannat conquistou premiações importantes como a de Melhor Tinto, pelo guia Adega e Descorchados.
A Tannat não apenas enriquece o portfólio vitivinícola da região com sua distinta qualidade e identidade, mas também serve como catalisadora para a diversificação, elevando o prestígio dos vinhos produzidos no Sul a outros patamares. Segundo a Associação Brasileira de Enologia (ABE), em 2023, o País recebeu 733 condecorações, em 21 concursos. Destas, 471 foram concedidas para vinhos e 262 para espumantes. O maior número, 223, veio da Inglaterra. O vinho Épico, da Guatambu, já trouxe a Medalha de Bronze do London Wine Challenge. “Nós temos excelentes ter- roirs, com clima, solo e capacitação técnica para a idealização de distintos estilos de brancos, tintos, rosés e espumantes. O maior desafio no Brasil é a taxação de impostos, tornando injusta a concorrência com os rótulos importados”, explica a diretora técnica, engenheira agrônoma e enóloga Gabriela Hermann Pötter.
Mesmo sem o apoio governamental, o aumento de investidores na Campanha tem sido motivo de comemoração. Não é à toa que o narrador esportivo Galvão Bueno e a consolidada vinícola Miolo aportaram por ali. Porém, quem ocupa o lugar de destaque – e tem atraído os olhares de sommeliers renomados –, é a charmosa Guatambu. Sediada na cidade de Dom Pedrito (RS), a vinícola é presença certeira em feiras e iniciativas políticas e econômicas que comprovam o seu compromisso com a inovação no setor. Além disso, a empresa fomenta o crescimento da indústria no entorno e adota práticas de sustentabilidade, implementando o uso da energia solar, da compostagem, do reúso de água da chuva e até um espaço para a agricultura orgânica. “Essas ações refletem o nosso respeito pela preservação do meio ambiente e pela qualidade de vida da comunidade”, enfatiza Mariana Pötter Vieira, diretora administrativa da Guatambu. “No que tange à geração de conhecimento científico, nós temos parcerias com universidades – Unipampa, UFRGS e UFSM –, fornecendo matéria-prima (uva) para a produção de vários experimentos e oportunidades de visitas técnicas e de estágios curriculares de seus alunos”, completa Gabriela. Essas iniciativas elevam o perfil da marca no mapa vitivinícola e fortalece a economia, gerando empregos e incentivando o turismo.
Turistando pelo Pampa
O ponto alto entre as vinícolas do mundo todo é o turismo. Desde que o setor caiu no gosto popular, diversas empresas abriram os seus vinhedos para receber curiosos e aspirantes a enólogos. Anfitriã atenciosa, a Guatambu recebe visitantes com tour guiado, que começa numa sala de projeção, com a exibição de filme institucional, e avança pelas instalações – com paradinhas estratégicas para as degustações. O grand finale acontece em um salão lindamente decorado, ar-condicionado no talo (por ali, os verões fritam os desavisados) e tábuas de frios, azeites e pães deliciosamente harmonizados com os vinhos da marca. Há ainda uma loja com seleção de rótulos da vinícola e itens de empresas amigas. Uma vez por mês há o encontro “Épico”, muito mais elaborado e feito nos moldes das recepções típicas dos pampas. O evento conta com a expertise de Gabriela, que foi vice-presidente do Conselho Municipal de Turismo da prefeitura de Dom Pedrito por quatro anos.