Duda Beat e Anavitória: saiba tudo sobre o novo clipe das cantoras
Amante da música e das artes, Gabriel Dietrich é o nome por trás do clipe Não Passa Vontade - colaboração entre o duo Anavitória e a pernambucana Duda Beat, lançado em novembro deste ano e que fez sucesso por nos levar a uma viagem no tempo, com referências de famosas produções cinematográficas.
Harmonizando perfeitamente os diferentes estilos das cantoras, a visão de Dietrich conseguiu refletir a fusão entre os estilos do acústico MPB com o eletrônico e mostrou que sua obsessão por audiovisual e referências cinematográficas são o seu verdadeiro guia.
Graduado em Design Gráfico no sul do Brasil, o diretor se mudou para São Paulo aos 23 anos e de lá para cá, participou de inúmeros projetos que foram de grande relevância para sua evolução profissional - desde uma instalação sonora com pássaros brasileiros no Jardin D’Acclimatation, em Paris a padrões desenvolvidos exclusivamente para a marca italiana Diesel. Hoje ele usa suas experiências para contar histórias inesquecíveis e compartilha com a L'Officiel Hommes como foi um pouco de seu processo criativo para o clipe Não Passa Vontade. Confira!
Como foi feito todo o projeto de produção e inspiração do clipe?
Quando me chamaram para dirigir o clipe, a ideia de prestar homenagem ao cinema já estava bem clara tanto para as artistas quanto para a produção. E não só isso: o clipe traz referências a filmes que marcaram gerações, daí a escolha de alguns clássicos. The Royal Tenenbaums para mim é um dos favoritos.
O clipe foi gravado durante a pandemia, quais foram os aprendizados e dificuldades de realizar algo nesse ‘’novo normal’’?
O teste PCR tem sido o novo normal das filmagens. Dois dias antes, todos envolvidos no set precisam testar e apresentar o resultado negativo. Então existe uma "tensão de véspera", que é a possibilidade de alguém testar positivo e ter que ser trocada em cima da hora - isso poderia eventualmente até cancelar a filmagem. Para a produção, ter equipe de backup é a primeira lição. Segunda lição ao filmar na pandemia: o processo é mais lento, pois tudo precisa ser desinfetado constantemente. As cenas que você filmaria em 8 horas, agora levam 12. Por outro lado, tem algo cômico também. Por exemplo, a Ana Caetano (Anavitória) no final da última diária, me disse: "se eu te encontrar na rua sem máscara, não te reconheço". Como estávamos em um lugar aberto, tirei rapidamente a máscara para ela ver meu rosto pela primeira vez depois de 3 dias juntos, e rimos muito, um misto de incredulidade e cansaço. A pandemia traz isso também.
Você tem uma visão artística aguçada. Até que ponto você deixa que seus gostos particulares interfiram nas produções?
No processo de produção, é o olhar da direção que define as escolhas, e isso impacta diretamente o resultado final. No clipe de "Não Passa Vontade", decidi que, se iríamos prestar homenagem ao cinema e a filmes clássicos, deveríamos fazer o esforço máximo para que as cenas ficassem idênticas às originais. Neste processo de recriar fielmente filmes de diretores que eu admiro, tive que estudar a fundo o estilo de cada um, e esse processo foi como uma aula de linguagem. Por exemplo, depois de ter assistido os filmes várias vezes, decidimos usar 3 tipos de câmera - sendo uma analógica 16mm para as cenas da banheira e da Kombi. Assim, teríamos a impressão que cada momento do clipe foi filmado por uma equipe diferente em uma época distinta.
Além disso, é o diretor que escolhe a equipe com quem irá trabalhar, e no caso do clipe "Não Passa Vontade", fica claro que o resultado é uma mistura dos talentos da equipe: do stylist Leandro Porto que criou figurinos incrivelmente fieis à referência; da direção de arte da Ana Arietti, que recriou cenários impossíveis; da Jake Falchi que conseguiu perucas perfeitas para que as artistas se sentissem lindas mesmo estando no papel de personagens ficcionais; da maquiagem da Nayara Zolli, que deixou as meninas lindas e confortáveis para dar o melhor em cenas difíceis - a da banheira por exemplo; do talento do fotógrafo Thiago Cauduro, que esteve sempre à frente na hora de iluminar, filmar e criar movimentos... entre outros.
Como é lidar com 3 artistas intensas e criativas? Quais suas maiores diferenças e pontos de destaque em suas personalidades? Houve alguma dificuldade para todas entrarem em um consenso?
Adorei ter trabalhado com as 3 juntas. A Ana e a Vitória têm uma sinergia incrível, e a Duda entrou para agregar, com seu jeito suave e potente. Vê-las cantando ao vivo no set foi um presente, pois você vê o talento das meninas ali, sem filtro. A cena da banheira foi a mais difícil, pois é uma sequência complexa de movimentos e acting. É a minha cena preferida, as três meninas estão magníficas.
Você tem alguma técnica de criação? Algum ritual específico quando está desenvolvendo algum projeto?
Evito buscar inspiração no Pinterest ou Instagram, pois sinto que a criação feita nas redes sociais acaba se retroalimentando. Por isso, sempre faço um esforço extra para buscar inspiração em livros, em curta-metragens, em videogame, na tecnologia, nas artes plásticas, em filmes clássicos, ou em lugares que nunca fui antes... A curiosidade é o que me move, e isso acaba imprimindo no meu trabalho.