Joias

Joalheiro se inspira no potencial das pedras preciosas

Com um claro amor pela criação, o joalheiro Ara Vartanian fala sobre a arte de produzir peças com responsabilidade e respeitando à natureza

Ara Vartanian
Ara Vartanian

As joias e os acessórios certos podem fazer toda a diferença no momento de compor o look, acrescentando mais cor, dando sofisticação e complementando o restante das peças. Em muitos casos, ela se torna o elemento principal, praticamente a alma da produção. Pontos como a escolha das pedras, cores e o modelo do item também garantem um visual diferente e são fruto do trabalho complexo de joalheiros dos mais diferentes cantos do mundo.

Ara Vartanian
Foto: Divulgação
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Entre nomes famosos do meio está o joalheiro brasileiro-armênio Ara Vartanian, no mercado desde 2002. Em entrevista exclusiva para a Revista L'Officiel Brasil, ele contou um pouco sobre sua trajetória, principais inspirações para a criação de peças e sua responsabilidade ambiental como joalheiro independente.

Sua influência para trabalhar na área foi familiar e começou desde cedo: seu pai trabalhava com pedras preciosas e sua mãe desenhava joias. O assunto era pauta nas conversas ao redor da mesa durante as refeições e tema de interesse durante as viagens de família. “Tem uma cena clássica minha que era eu engatinhando no escritório do meu pai, onde a equipe dele selecionava pedras para joalheiros. Às vezes, caía uma dessas pedrinhas no chão, que acabava ficando nos cantinhos do cômodo. E eu ficava procurando por elas”, conta, com carinho. Mas, apesar da influência, ele nunca pensou que fosse trabalhar na área, e acabou estudando economia em uma universidade de Boston.

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Foto: Divulgação
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Com a crise do mercado financeiro, o processo para voltar às origens e ajudar o pai a trabalhar com pedras foi natural, e a paixão pelo trabalho foi rápida. “Hoje, eu concluo que nas pedras eu tenho um maior envolvimento e posso dar um valor ou amor agregado a ela, fazendo a construção de uma joia, de um amuleto, uma escultura.” Apesar de gostar da parte comercial de seu trabalho, em um processo de expansão internacional da marca e fechamento de novos contratos, é no ambiente criativo que Ara retorna à sua verdadeira vocação, mergulhando no processo das criações das peças e atribuindo o valor que cada uma merece. “Eu comecei a entender que era uma honra estar trabalhando com essa pedra. Era uma coisa de outro mundo trabalhar com algo que tem muito mais anos do que nós, uma pedra que tem uma criação biológica de centenas de anos”, conta. E isso se estende para o restante da equipe presente na oficina de Ara, com uma equipe alinhada aos seus objetivos.

Ara Vartanian
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Fotos: Ana Moock

Criação e inspiração

As próprias pedras preciosas servem como inspiração para a criação das peças. “A estrutura é muito importante para mim, a parte mecânica da peça, dos jogos, de como isso vai funcionar, como isso vai cair em cima do corpo”, explica. Assim, a referência no momento da concepção está muito mais ligada à expectativa de ter a joia posicionada no lugar ideal do corpo, tanto masculino, quanto feminino. Vartanian compara o processo de escolher as pedras com o de um chef de cozinha, que usa os ingredientes certos e selecionados para cozinhar.

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Fotos: Ana Moock
Ara Vartanian
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O processo de criação é complexo e envolve desenhos feitos à mão – que são produzidos unicamente por Ara –, a montagem da ficha técnica das pedras e dos metais, além da seleção do ourives que vai fazer o projeto. O uso de softwares de notebook se restringe a vetorizar o desenho na etapa inicial, com o restante do trabalho sendo praticamente todo manual. Por ficar responsável pelo desenho e pela concepção inicial, cada peça representa um pedaço do joalheiro. “Está diretamente relacionado a como eu sou, como eu estou me sentindo”, diz. Suas peças favoritas entre todas as já produzidas são, principalmente, os anéis de dois dedos, que, para ele, são releitura de um clássico, aspecto importante para a mulher moderna, além dos brincos anzóis, famosos da marca.

Ara Vartanian
Foto: Divulgação
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Para ele, o momento de pandemia serviu para refletir sobre sua carreira e seus objetivos, além de permitir que ele tivesse mais tempo para fazer o que realmente ama, concebendo ideias e produzindo novas peças em seu ateliê, o lugar em que, de acordo com ele, consegue dar sua real contribuição à marca. O momento de isolamento e reflexão trouxe pontos positivos para sua empresa, voltando o projeto para um momento mais introspectivo. “Eu estou desenvolvendo um lado criativo bastante interessante, e estou podendo ‘surfar essa onda’ e senti-la. É um momento muito bom da minha vida em termos de criação, organização e calmaria”, conta.

Ara Vartanian
Foto: Divulgação

Com um nome estabelecido no mercado há algum tempo, as joias criada por ele já marcaram presença em produções famosas, como a série Coisa mais Linda, produzida pela Netflix. O processo foi acompanhado de perto por Ara, que chegou a produzir algumas peças exclusivas para a ocasião. “Eles usaram peças que têm uma técnica chamada anzol, que foi desenvolvida por mim há 15 anos – é um brinco que encaixa na parte de cima da orelha –, só que em um filme que é todo dos anos 50 e 60. Foi muito interessante, porque é uma releitura mesmo.” A primeira produção que usou uma peça feita por Ara foi a série Sex and the City. “A Samantha usava algumas peças minhas. Ver na telona é sempre legal!”, comenta, orgulhoso do trabalho.

Entre seus projetos para o futuro está uma visita à mina do Vale da Paraíba, no Rio Grande do Norte, em Parelhas, onde ele planeja buscar material e muita inspiração para novas peças. “As pedras [encontradas lá] são menores, então eu vou ter de criar um design especial para elas. Vai ser um desafio muito legal.”

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Ara Vartanian e Kate Moss (Foto: Divulgação)
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Lupita Nyong'o (Foto: Divulgação)
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Ara Vartanian e Sharon Stone (Foto: Divulgação)

Cuidado com o meio ambiente

O cuidado com o meio ambiente é uma questão importante para Ara, que levanta a necessidade de ter responsabilidade social e ambiental, especialmente como joalheiro independente. “É uma coisa que eu venho levantando a bandeira. Temos usado muito ouro reciclado, e, nesse último semestre, por exemplo, praticamente não compramos ouro.” A atenção se estende até a escolha das minas, de onde vem as pedras preciosas para as peças, focado naquelas que “realizam um trabalho consciente com o meio ambiente, um trabalho social, de responsabilidade”.

“Não dá para fazer joias sem consciência”, defende. E o objetivo é, segundo ele “continuar trabalhando de forma responsável, saudável, sustentável, mantendo o planeta mais bem cuidado para as próximas gerações”. Apesar de belas, as joias devem ir além somente do glamour, garantindo que a memória de sua origem seja mantida e sua história, respeitada.

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Fotos: Ana Moock

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