Joias

Victoire de Castellane da Dior Joaillerie em entrevista exclusiva

Após completar 20 anos sob o comando da direção criativa de joalheria da Dior, Victoire de Castellane mantém sua visão de que as joias preciosas de verdade precisam ter alma
Victoire de Castellane
Victoire de Castellane

Se hoje estamos acompanhando uma verdadeira revolução na joalheria, acredite, há um dedo (ou, no caso, duas mãos) de Victoire de Castellane nesse movimento. Quando a designer francesa começou a usar pedras consideradas não tão preciosas na criação de joias, muito desse conceito passou a cair no gosto das consumidoras e essas gemas, como quartzos e opalas, passaram a ter uma força estética ainda maior. Ou seja, todo aquele ar sisudo que colares, brincos, pulseiras e anéis carregavam ganhou certa leveza. E essa transformação surtiu efeito graças à sua atração enorme por cores, texturas e toda a magia que acontece durante os desenvolvimentos das peças. 

A atração por esse universo precioso começou ainda na infância, quando a garotinha admirava as joias extravagantes de sua avó, Silvia Hennessy, condessa de Castilleja de Guzman. Segundo Victoire, era incrível vê-la trocar de joias diversas vezes por dia para que combinassem com suas roupas. Alguns anos mais tarde, aos 12, ela derreteu algumas medalhas de ouro para criar seu primeiro anel. Na década seguinte, aos 22, iniciou sua carreira ao lado de Karl Lagerfeld, na Chanel, e ficou na maison durante 14 anos, trabalhando como assistente do ateliê de joalheria. Após a experiência, Victoire entrou para a Christian Dior e, em 1999, apresentou a sua primeira coleção como diretora criativa de joias com um olhar fresco, divertido e cheio de feminilidade. 

A designer, em uma entrevista especialíssima, revela mais sobre sua relação com as joias e, claro, conta sobre um dos lançamentos mais importantes para a casa francesa, a Gem Dior, que celebra o 20o aniversário de Dior Joaillerie e que ela define como uma compilação de seu trabalho.

Dior Joaillerie

L’OFFICIEL Você era aquela garota que geralmente sonhava com as joias de sua mãe?

VICTOIRE DE CASTELLANE Eu adquiri meu amor e gosto por joias da minha avó, Sylvia Hennessy. Ela usava joias que combinavam com suas roupas e podia trocá-las até três vezes por dia. Ela era impecável. Batom e esmalte sempre nas mãos e nos pés. Ela era uma verdadeira visão de beleza, fascinante. Ela não era avó no sentido clássico do termo. Ela era um pouco como uma heroína de Hollywood. Era amiga íntima de Barbara Hutton, a milionária americana casada com Cary Grant, que usava tiaras de esmeralda durante o dia e morava em um palácio em Tânger.

L’OFFICIEL E você pensou que um dia trabalharia com ouro e pedras preciosas? 

VC Na verdade, não.

L’OFFICIEL Como começou a trabalhar com joias? 

VC Comecei a trabalhar ao lado de Karl Lagerfeld na Chanel, supervisionando os designs de bijuterias da casa por 14 anos antes de iniciar a divisão de joias finas da Christian Dior, em 1998.

Dior Joaillerie
Victorie tem inspirações diversas: arte, exposições, filmes, fotografia, mundo feminino, amor, sexualidade, psicanálise.... Foto: Divulgação

L’OFFICIEL Você já usou cores contrastantes em seus designs, mascarou alta joalheria como bijuterias e até usou prata enegrecida em suas criações mais extravagantes para a Dior. De onde vêm todas essas ideias? Qual é a conexão de suas criações com o DNA da Dior? 

VC Desde que cheguei à Dior, desenvolvi os temas da casa: o jardim de Christian Dior em Milly-la-Forêt, os bailes excêntricos e, claro, a alta-costura. No entanto, os temas que inspiram minhas coleções são apenas um ponto de partida e os misturo com minhas próprias inspirações: arte, exposições, filmes, fotografia, rua, mundo feminino, amor, sexualidade, psicanálise, a própria vida. Quando eu crio, ainda tenho 5 anos, e isso não mudou. Eu gosto de abordar a criação como as crianças abordam um jogo, com a mente aberta e com a liberdade que a infância oferece. Cada uma das minhas coleções leva à próxima e eu adoro a ideia de ir ainda mais longe, para onde eu menos espero. Eu odeio ficar entediada, pois isso me deixa infeliz. Sempre preciso criar algo para me divertir.

L’OFFICIEL Você vê beleza em pedras duras semipreciosas?

VC Vejo beleza em todas as pedras que a natureza oferece.

Dior Joaillerie

L’OFFICIEL Você se lembra como foi seu primeiro dia de trabalho na Dior? 

VC Percebi que a casa era muito diferente da Chanel e comecei a descobrir seus códigos em busca do DNA

L’OFFICIEL Atualmente, qual é o seu desafio no desenvolvimento das coleções? 

VC Estou trabalhando dois anos à frente, por isso faço quatro coleções em estágios diferentes. Para mim, o desafio é ter certeza de que em dois anos ficarei feliz em mostrar minhas criações. Seria muito tarde e muito caro para fazer alterações nessa fase. Portanto, é importante me projetar e ter certeza de que eu amo agora e vou amar então.

Dior Joaillerie
Victorie acredita que as mulheres podem misturar e se adornar com os acessórios mais preciosos do jeito que quiserem. Foto: Divulgação

L’OFFICIEL Você acha que aconteceu alguma mudança no mundo das joias? 

VC As joias se tornaram mais casuais. 

L’OFFICIEL Eu sei que você teve uma boa relação com Raf Simons, principalmente durante sua coleção chamada Dear Dior. Agora você tem alguma conexão com Maria Grazia durante o desenvolvimento de todas as peças ou é mais independente?

VC Os designers não trabalham juntos para criar suas coleções. Cada um atua em seu campo. A apresentação da coleção Gem Dior, em Veneza, foi a primeira oportunidade para que Maria Grazia e eu misturássemos nossos mundos.

Dior Joaillerie

L’OFFICIEL Conte mais sobre a sua mais recente coleção de alta joalheria. Como você começou? 

VC Decidi trabalhar com formas geométricas abstratas pela primeira vez. Eu chamo de abstrato, mas também orgânico, porque nada é simétrico ou geométrico.

L’OFFICIEL Você está comemorando seu 20º aniversário na Dior. Que tipo de inspiração colocou na coleção? 

VC Eu queria brincar com a ideia de olhar para todas as minhas coleções anteriores e aumentar o zoom, para que as pedras ficassem pixelizadas. Eu gosto de trabalhar com formas e cores e achei divertido fazer joias mono e policromáticas. A coleção começa com o monocromático, que passa por gradientes e termina com o multicolorido. É um jogo com todas as cores e pedras que encontramos no mundo. É a primeira vez que crio uma coleção abstrata, uma espécie de exercício de estilo que eu realmente amo e do qual nunca me canso. 

Dior Joaillerie

L’OFFICIEL Ouvi dizer que, pela primeira vez, Dior apresentou a coleção de joias com modelos, como fez monsieur Dior com as coleções da alta-costura nos anos 1950. Como você vê essa forma de apresentação? É melhor do que apenas ver as peças numa vitrine? 

VC Sim, absolutamente. Era uma nova maneira de apresentar joias, mostrá-las como elas vivem na pele e sob a luz. É muito mais fácil se projetar como cliente quando se vê a joia vestida.

L’OFFICIEL Você acredita que o relacionamento das mulheres com as joias mudou? 

VC Quando comecei na Dior, as joias eram muito clássicas. Isso me fez sentir que as joalherias estavam criando peças com o valor do investimento em mente, visando homens que queriam comprar joias para as mulheres. Queria mudar isso e passei a criar joias para elas. De repente, podiam misturar e se adornar com os acessórios mais preciosos do jeito que quisessem.

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