Joias inspiradas no tantrismo; conheça a coleção!
Abaixo o tabu! A designer de joias Regina Dabdab e a diretora de arte Roberta Cardoso lançam Maithuna, série de peças inspiradas no tantrismo
Dentro da tradição tântrica, a Grande Deusa, também chamada Shakti, está acima de todos os outros deuses. É a energia ativa, o Sagrado Feminino, mas que só é plena em comunhão com o Sagrado Masculino. E ambos estão dentro de cada ser humano. Estudando esse pensamento filosófico e ritualístico que influenciou hinduístas, budistas e jainistas, a designer Regina Dabdab também observou a união sexual dentro do processo ritualístico – prático e mental – que culmina em expansão da mente e da respiração, e libertação do corpo. “Estamos buscando isso, mulheres, homens ou trans”, diz ela que, já há algum tempo, tem levado sua jornada espiritual para o trabalho na joalheria.
Na série mais recente, desenvolvida a quatro mãos com a diretora de arte Roberta Cardoso, zonas erógenas inspiram nove joias entre brincos e broches. “Batizamos de Maithuna, que é um termo sânscrito utilizado no tantra. Esta pequena coleção é uma reflexão criativa sobre um tabu que não pode mais ser tabu”, explica Regina, ressaltando questões como o feminismo e o movimento de mudanças de corpos que estão no foco de ambas. “É, também, um ato de resistência”, pondera. Moldadas em bronze com banho de ouro certificado ou em prata, as peças recebem pedras com lapidação orgânica, mais arredondadas. “Utilizei pérola, coral, quartzo rosa, amazonita, turmalina negra, jaspe vermelha e quartzo azul”, enumera a designer, chamando a atenção para as propriedades energéticas de cada gema.
O processo criativo a quatro mãos transparece nas joias. São silhuetas de seios e clitóris, por exemplo, ora sutis, ora mais destacadas. “Nos falos, usamos a ponta do cristal”, diz Regina. Além dos ensinamentos tântricos, a dupla também buscou inspiração no livro Erotica, no qual o artista e poeta francês Jean Cocteau reuniu desenhos de dois de seus amantes mais famosos – o escritor Raymond Radiguet e o ator Jean Marais –, além de nomes como Picasso, Stravinsky, Nijinsky, Apollinaire, Sarah Bernhardt, Isadora Duncan e Mistinguett. E, ainda, os escritos sobre identidade e construção social e política do sexo do filósofo e escritor feminista transgênero Paul Beatriz Preciado. “Foi muito legal mergulhar nesse universo porque fez a gente falar mais sobre sexualidade versus espiritualidade, físico versus psicológico”, explica a designer, que se define em um momento de expansão que se reflete na abertura de novos caminhos profissionais.
Conhecida por sua organic jewelry, iniciada em 2009 quando ainda morava em Paris, Regina sempre olhou para a natureza em busca de materiais como madeira balsa, cristais brutos e sementes para criar joias-esculturas influenciada pela fauna e f lora da f loresta amazônica e inúmeras visitas a museus de história natural. Essa conexão direta com elementos puros deu status de talismã para peças que podem vestir o corpo ou a casa. Recentemente, sem deixar de lado seu DNA, abriu espaço para joias menos conceituais, que transitam entre várias agendas.
Mas foi na SP-Arte deste ano que o horizonte realmente mostrou novos caminhos. Para a Casa do Povo, ela assinou o projeto Comum Presença junto com Daniel Lie. Foram 30 obras criadas a partir de fragmentos encontrados no prédio e que pudessem encapsular memórias afetivas que ficaram nesse território. Transformados em amuletos, os objetos tiveram renda revertida para a Casa, que está completando 70 anos. “Foi interessante perceber as preciosidades que eu tinha nas mãos e que dali podiam nascer esculturas”, recorda Regina, que também está desenvolvendo objetos com a Llussá Marcenaria e elaborou joias dentro da sua linguagem para o figurino que Alexandre Herchcovitch criou para a minissérie da TV Cultura sobre os 200 anos da Proclamação da Independência. E tudo isso promete ser somente o início, afinal, a designer conta que está adorando esta fase da carreira. Que venham novos desafios e parcerias!
