Baguette Fendi é exaltada por mãos artesanais italianas
Composições esculturais de Lorenzo Vitturi exaltam, em livro de edição limitada, o artesanato das trinta Baguettes produzidas pela Fendi e artesãos
Desde o seu nascimento em 1997, a Baguette, bolsa que deu origem ao fenômeno da it bag, ganhou cerca de mil variantes, para todos os gostos, estações e momentos da vida. Um formato essencial, retangular, uma alça curta, para um posicionamento confortável sob o braço, e uma fivela inconfundível com o duplo F do logotipo. Perfeita para ser reinventada por artistas e por outros estilistas, e recomprada, em outras cores, outros materiais, outras decorações, por colecionadores adictos e também por novos adeptos.
Este ano, para comemorar seu 25o aniversário, um livro, em edição limitada, relata talvez a iniciativa mais fascinante ligada à Baguette: Hand in hand (De mãos dadas, em tradução livre), colaboração encomendada por Silvia Venturini Fendi, diretora artística de acessórios e moda masculina da Fendi, com excepcionais artesãos italianos, repletos de habilidades e de savoirfaire tradicionais e muito antigos. Uma colaboração resultante de um cuidadoso e apaixonado trabalho de prospecção presente desde o início, pois já em 1997 alguns modelos foram feitos com sedas e tecidos brocados à mão em teares do fim do século 19 pela Fondazione Arte della Seta Lisio Florence.
Lançada em 2020, a primeira série do projeto “Hand in Hand” envolveu 20 fabricantes, uma para cada uma das 20 regiões italianas. O resultado? Tantas Baguettes únicas, que não serão replicadas, e portanto verdadeiros acessórios de alta-costura, em madeira, renda, crochê, brocado, mosaicos, bordados de penas de pavão... Não é exagero dizer que algumas são verdadeiras pequenas obras-primas de virtuosismo e arte aplicada, como a bolsa de couro vermelho coberta com painéis de folha de ouro e pequenos corais criada por Platimiro Fiorenza, ou a desenhada por Akomena Spazio Mosaico, com seu padrão de estrelas douradas em um céu de lápis-lazúli inspirada no mausoléu de Ravenna de Galla Placidia. Ou ainda aquela da princesa de conto de fadas em filigrana de prata do lígure Atelier EffeErre, ou a Baguette de renda de bilros engomada que exigiu mais de 100 horas de trabalho para Simona Iannini, ou aquela em marchetaria sorrentina do ateliê Stinga Tarsia.
A segunda série, apresentada na coleção Verão 2022, é tão exuberante e emocionante quanto a primeira. Entre os modelos mais impactantes, a Baguette, fruto da colaboração com a Tapeçaria Scassa de Asti, sediada num mosteiro do século 11 onde os teares do século 17 reproduzem pinturas de Matisse e Kandinsky sobre tapetes. No caso da Fendi, o artista de referência é o ilustrador de moda porto-riquenho Antonio Lopez, cujas silhuetas foram o tema principal da coleção de moda Verão 2022. Outro objeto de encanto, entre o Leopardo e o Rococó, é o modelo em seda champanhe com padrão floral derivado dos arquivos da manufatura Real Seta Italian Silk Fabrics em San Leucio, especializada em combinar tecnologia digital e técnicas de fabricação da era bourbônica para produzir jacquards e brocados usados para os interiores do Vaticano, da Casa Branca ou do Palácio de Buckingham.
“USEI A Baguette, COM A SUA FORMA TÁTIL DEFINIDA, COMO UM elemento DENTRO DO MEU PROCESSO CRIATIVO QUE CONSISTE NA JUNÇÃO DE diferentes MATERIAIS. A natureza DAS MINHAS composições é TOTÊMICA E ESCULTÓRICA"
Lorenzo Vitturi, o artista e fotógrafo autor das imagens do livro dedicado ao projeto, admite também uma predileção pela proximidade cultural, descendente de venezianos, mudou recentemente o seu estúdio de Londres para Murano – “pela bolsa com pérolas de vidro de Murano de Ercole Moretti, um elemento que sempre me fascinou e com o qual já tinha trabalhado, e para a Baguette feita pelo ateliê veneziano de Luigi Bevilacqua em teares de jacquard do século 19. Mas também acho maravilhoso aquela toscana em um tecido laranja”, feito pela família Grisolini em lã Casentino laranja-queimado, com interior Casentino verde brilhante.
“Hand in hand é uma proposta de projeto muito próxima do tema da minha pesquisa pessoal, com atenção ao artesanato e à beleza da imperfeição que eu definiria como um ato de resistência política quando tudo está mecanizado”, diz Vitturi. “Usei a Baguette, com a sua forma tátil e definida, como um elemento dentro do meu processo criativo que consiste na junção de diferentes materiais. A natureza das minhas composições é totêmica e escultórica, e remonta às minhas origens, minha mãe é peruana e meu pai é veneziano – para dialogar com os ‘meus’ materiais: vidro de Murano bruto, cerâmica, madeira, fundos pintados com pigmentos coloridos, tudo reflexo do meu caminho criativo. Frequentei a Academia de Belas Artes de Veneza de onde saí para me dedicar à fotografia, ao design e à cenografia nos estúdios da Cinecittà, em Roma. Fiz parte da Fabrica (de Oliviero Toscani) por dois anos, depois fui para Londres. Trabalho sempre em projetos que exigem uma elaboração muito longa, como os atuais ‘Caminantes’, um encontro entre vidro, tecido e artes aplicadas, já parcialmente apresentado em Amsterdã, na Noruega e agora em Nova Déli”, finaliza.