BOTTLETOP une moda e sustentabilidade em designs de luxo
A L'Officiel Brasil conversou com Cameron Saul, co-fundador da marca, que falou sobre o processo criativo e a relação com o Brasil
A moda pode ter um papel fundamental no processo de transformação de um olhar e postura mais sustentável e consciente no mundo. E a BOTTLETOP, co-fundada pelo designer, empreendedor social e ativista Cameron Saul sabe bem disso.
Junto com o pai, Roger Saul, a dupla trouxe ao mundo a marca em 2002, por meio de uma colaboração com a casa de moda britânica Mulberry. A missão da BOTTLETOP é clara: usar a moda de luxo sustentável para aliviar a pobreza em áreas como a África Subsaariana, Nepal e, o Brasil.
A produção da marca totalmente artesanal e de designs bolsas. Como parte essencial dos fundamentos da marca, o trabalho é feito com laços estreitos entre a capacitação dos artesãos locais - onde a BOTTLETOP matêm sua produção - e a criatividade e cultura local.
No Brasil, por exemplo, a marca tem uma relação sólida desde 2007, mantendo dois ateliês: um em Salvador, no bairro de Itapuã; e outro no Acre. O primeiro emprega mulheres em situação de vulnerabilidade, assim como o segundo, que também é responsável pela produção das pulseiras #TOGETHERBAND em parceria com a comunidade indígena do povo Yawanawá.
Unindo sustentabilidade e moda, a BOTTLETOP produz modelos de bolsas confeccionados à mão a partir de materiais totalmente desperdiçados, como latinhas de metal. Em algumas silhuetas, a semente de açaí é a grande protagonista da peça, assim como, os fios de plástico Parley Ocean, feitos com resíduos plásticos recolhidos nas praias e couro de cacto.
E com tantas vertentes sobre a marca, a L'Officiel Brasil conversou com Cameron Saul, que falou mais sobre a expansão da BOTTLETOP no Brasil, o movimento mais sustentável na moda e projetos futuros. Confira abaixo:
1. No Brasil, a BOTTLETOP têm dois ateliês, um em Salvador e outro no Acre, Norte e Nordeste do Brasil, respectivamente. Por que escolher essas regiões para expandir a marca no país? Qual a relação e influência desses estados em suas criações?
R: "Fundamos a BOTTLETOP em 2002 e estamos trabalhando no Brasil desde 2007. Desenvolvemos nossas coleções por meio de uma lenta criação de cadeias de suprimentos de moda em partes do mundo, onde descobrimos técnicas artesanais tradicionais e uma grande necessidade de oportunidades econômicas para mulheres e comunidades indígenas.
Além de nosso foco principal na moda sustentável, também levantamos fundos para projetos educacionais por meio da Fundação BOTTLETOP com iniciativas de arte e música e inicialmente fomos levados à Bahia por meio disso. Nosso álbum 'Sound Affects Brazil' traz faixas de artistas brasileiros icônicos, incluindo Seu Jorge e Jorge Ben Jr, remixadas por grandes artistas eletrônicos como Bonobo e Fatboy Slim.
Visitamos Salvador para conhecer diferentes projetos de educação para aproveitar as vendas do álbum e descobrimos técnicas de artesanato regional pelas quais nos apaixonamos; mulheres locais tecendo lacres de metal reciclado para criar acessórios de moda simples, mas bonitos. Ficamos fascinados por este tecido ecológico e pelo potencial para desenvolver este material leve, desportivo e versátil. Estávamos confiantes de que poderíamos elevar isso e desenvolver um programa de apoio às mulheres locais que trabalham como artesãs. A rica cultura afro-brasileira de Salvador é algo pelo qual somos profundamente apaixonados. Amamos as pessoas e a energia de lá.
Fomos atraídos para a Amazônia por razões óbvias; é o lugar com maior biodiversidade do planeta e está sob grande ameaça. Queríamos ver se havia uma maneira de nossa abordagem de design e criação de meios de subsistência podia, de alguma forma, servir às comunidades indígenas - guardiões da floresta - na Amazônia. Nosso relacionamento com a comunidade indígena Yawanawá começou em dezembro de 2019 graças a uma apresentação da modelo britânica Lily Cole.
Eu os visitei e fique profundamente inspirado por seu modo de vida e compreensão da floresta tropical. O artesanato é parte integrante de sua cultura e vimos uma oportunidade de criar um programa de ateliê baseado nos materiais naturais e regenerativos da floresta que poderiam apoiar a expressão de sua identidade cultural enquanto geravam meios de subsistência essenciais.
Passamos um tempo com os Yawanawá na floresta para entender seu modo de vida e começamos a desenvolver nosso programa no Acre há três anos. Lançamos nossa coleção Yawa #TOGETHERBAND e joias no ano passado no Dia da Terra e nossos primeiros designs de bolsas BOTTLETOP de nosso ateliê da Amazonia na semana de moda de Milão em setembro".
2. A moda passa atualmente por um processo de transição para trazer propostas mais criativas, sustentáveis e ecológicas. Como você vê esse movimento e como a moda pode contribuir para um futuro mais sustentável?
R: "A indústria da moda causou devastação humana e ambiental em todo o mundo e, como indústria, deve ser transformada. Há 20 anos na BOTTLETOP temos o privilégio de vivenciar como a moda pode ser transformadora para as pessoas e para o planeta.
Nossa lenta criação de cadeias de suprimentos na moda, a geração de habilidades e meios de subsistência para os artesãos em comunidades economicamente desfavorecidas são uma enorme fonte de orgulho, confiança e autorrespeito, bem como uma oportunidade de reunir mulheres em grupos de maneiras que podem ser profundamente terapêutico. Com as comunidades indígenas, nosso trabalho também permite que continuem a proteger nossa biodiversidade remanescente.
Com as múltiplas crises que o planeta enfrenta em termos de mudança climática e desigualdade crescente combinadas com os impactos da guerra e da saúde, é crucial pós-pandemia que as empresas apoiem e se envolvam ativamente com as pessoas economicamente mais vulneráveis. A moda pode desempenhar um papel fundamental na construção de resiliência econômica nas comunidades.
Continuamos a aprender sobre o impacto prejudicial dos materiais nos ecossistemas naturais e é fundamental que as marcas sejam corajosas e sensíveis em termos de suas práticas de fornecimento. A moda também pode ser um catalisador de mudanças em muitos níveis, porque ela tem a capacidade de cativar e envolver, estimular e educar as pessoas para fazer mudanças e agir! É por isso que lançamos nossa campanha #TOGETHERBAND com a UN Foundation; para impulsionar a defesa das questões mais importantes que a humanidade enfrenta e as áreas nas quais a humanidade precisa focar.
3. Qual foi o ponto de partida para iniciar a marca com peças totalmente sustentáveis? Qual a relação do afeto com as bolsas? Existe uma razão específica para trabalhar com essas peças?
R: "Nossa jornada como uma marca sustentável começou no primeiro dia. Nossos primeiros designs de bolsas em colaboração com a Mulberry em 2002 foram feitos 100% com materiais descartados. A partir desse momento partimos para a criação de produtos a partir de resíduos, materiais regenerativos.
O desafio, principalmente naqueles primeiros dias, era a falta de disponibilidade de materiais sustentáveis e a falta de interesse e conscientização do consumidor. Felizmente, essas coisas estão mudando com a crescente demanda das pessoas por um design mais ecológico. Para nós, sempre foi sobre a excelência na qualidade e execução do produto. Sem isso, como poderíamos esperar vender nossos designs, construir relacionamentos de profunda confiança com nossos clientes e gerar o impacto sustentado que nos propusemos a entregar para nossos artesãos em todo o mundo?
Percebemos muito cedo em nossa jornada que as pessoas desenvolveram conexões emocionais e profundas com nossos designs por causa do que são feitos, quem os fez e o que eles representam. Nossos projetos pretendem ser exemplos físicos de progresso e impacto positivo e o nosso público compartilha essa mensagem com paixão.
Então sim; a relação emocional entre nosso pessoal e seus designs é poderosa porque eles não estão apenas usando um design bonito, eles estão usando um símbolo de ação real. As histórias das mulheres e comunidades em nossas cadeias de suprimentos combinam com as dos materiais e as histórias de nossos membros da família BOTTLETOP e #TOGETHERBAND que nos representam com orgulho. Tudo se torna um".
4. Quais são os próximos passos para o BOTTLETOP? você já trabalhou com diversos materiais descartados, principalmente latas de metal. Você tem outros que ainda está pensando em usar?
R: "Estamos constantemente adquirindo resíduos e materiais regenerativos para incorporar em nossas cadeias de suprimentos. No momento, usamos lacres reciclados de latas de bebida como nosso tecido de cota de malha exclusivo, 100% Parley Ocean Plastic®️ criado a partir de resíduos plásticos dos oceanos, 'Humanium Metal', metal reaproveitado de armas de fogo ilegais desconstruídas apreendidas na América Central; Plásticos impressos em 3D, algodão orgânico reciclado, restos de comida na forma de sementes de açaí e borracha silvestre da floresta amazônica. Estamos experimentando vários outros materiais, mas eles são ultrassecretos!"