Frankie Amaury ganha reedição carinhosa 20 anos depois
Frankie Amaury, marca-ícone da bagunça da moda carioca dos anos 1980, ganha reedição carinhosa, 20 anos depois da morte do seu principal criador
A virada dos anos 1970 para os 1980 foi um momento único para a história da moda carioca. Vivendo um boom de atenção e criatividade, a capital fluminense viu surgir grande elenco: da importada Fiorucci, capitaneada por Gloria Kalil, à nacionalíssima Yes Brazil de Simão Azulay, passando pelo início do beachwear de Lenny Niemeyer, os jeans da Dijon com suas musas, como uma iniciante Luiza Brunet, e as mochilas que eram febre teen da Company.
Nesse burburinho, uma dupla de namorados apareceu para dar um remelexo na high society da cidade: o brasileiro Amaury Veras e o argentino Frankie Mackey. Donos de personalidades distintas, o primeiro, discreto na criação, e o segundo, estridente cuidando do RP, criaram causos lendários com clientes famosas, discussões públicas, cenas de cinema, desfiles-show e uma moda essencialmente focada no couro. Agora, passados 45 anos da criação da marca e 20 anos da morte trágica do brasileiro (o ex-sócio, acusado pela polícia como autor do caso e foragido na Argentina, faleceu em 2015), a Frankie Amaury marca um retorno súbito. Ideia da sobrinha de Frankie, Renata Veras, herdeira da marca, que já chegou a desfilar no finado Fashion Rio e, hoje, está radicada na Espanha.
“Existe um imenso valor afetivo por quem viveu aquela época, era cliente e conviveu com os dois naqueles tempos disruptivos, tão politicamente incorretos — que hoje não seriam possíveis, mas absolutamente divertidos”, define ela. “Eles foram protagonistas, aqui no Brasil, do processo que transformou a moda em espetáculo, retirando o trabalho dos estilistas do gueto dos endinheirados para dar-lhes visibilidade equivalente à dos pop stars.”
A entrada de relançamento da marca vem por conta da reedição da mochila de couro, ícone da época, e de uma bolsa saco. Frutos de uma pesquisa de acervo quase inexistente. “Praticamente não havia mais nada, muito se perdeu”, conta. “Quando a Frankie Amaury acabou, em 2004, nada estava digitalizado. Sobraram apenas fotografias e croquis. Foi preciso matriciar de novo todas as ferragens personalizadas, fechos e maxi-ilhoses.”
Na busca pela reencarnação, Renata cercou-se de gente que dividiu parte da história do tio, como o diretor criativo Alexandre Schnabl, que trabalhou com a dupla, e musas da marca da época: Silvia Pfeifer, Fátima Muniz Freire e Alexia Dechamps. “As três não só fazem parte dessa narrativa como participaram ativamente, no convívio com os dois, da consagração de uma moda em couro urbana e deluxe no país, em uma era de excessos, quando as supermodelos começavam a despontar como musas no cenário global e elas passaram a ocupar a pole position no mercado nacional”, define Schnabl. Para Silvia, os dois “trouxeram a roupa de couro com caimento bonito e toque sensacional. Era moderno e antietário. Foram pioneiros. Isso não pode cair no esquecimento”.
Enquanto a versão 2.0 da Frankie Amaury se garante nos acessórios — à venda na filial carioca da multimarcas Pinga — e deixa na vontade reedições da moda de Veras, parte desse histórico deve ganhar luz em outros dois projetos em breve. Alexandre prepara uma biografia sobre a marca, pesquisando no acervo mantido por Renata, a ser editado pela Luste Editores. E um longa biopic, rodado por José Henrique Fonseca (diretor de Bom dia, Verônica) sobre os bafos da dupla, que vão muito além da ficção.