Moda

Isabel Del Priore, CEO da Animale, conta sobre o futuro da marca

Com uma carreira diversa e plural no mundo da moda, Isabel Del Priore, CEO da Animale, conta como faz parte do futuro da marca e do mercado

person sitting fashion adult female woman clothing robe coat formal wear
Isabel Del Priore - Foto: Divulgação.

Com uma carreira diversa e plural no mundo da moda, Isabel Del Priore, CEO da Animale, conta como faz parte do futuro da marca e do mercado. Confira! 

Isabel Del Priore é formada em Business, pela Faculdade Leonard, em Paris e, de fato, já trabalhou em diversas áreas. Começou estagiando na Paris Fashion Week. Quando voltou da França para o Brasil, foi para assessoria de imprensa, onde representou e fez planejamento de marketing para marcas francesas em tempos em que elas ainda não tinham as suas subsidiárias no Brasil. Depois, foi para a multimarcas Clube Chocolate. “Como tinha experiência internacional, entrei na área de compras internacionais, para então assumir a diretoria comercial e em seguida de marketing”, conta. De lá, seguiu para o Chenamo, em Nova York, com o papel de CMO e Sales da marca, que tinha uma distribuição não só para o mercado norte-americano, mas também para o mercado europeu e Ásia. “Foi uma experiência muito rica, sempre trabalhando nessa frente de negócio, mas com um olhar para a construção de marca, o brand value. Eu entendo que o brand value seja o meu core de formação e de experiência.” Na volta para o Brasil, passou pela Água de Cheiro, e veio o convite da Hermés, que foi a primeira experiência como uma executiva de multinacional no Brasil. “Eu já tinha trabalhado na moda nacional e em Nova York com uma marca de Nova York. E aí tive essa experiência de trabalhar em uma marca francesa no Brasil. Na Hermés, além da experiência de construção da marca como diretora de marca para o Brasil, atuei também na diretoria de comunicação para América Latina, durante quatro anos.”

 

Isabel assume essa trajetória bem variada, com alguns pontos comuns em marcas de moda sempre linkadas com o internacional. “Acho que isso constrói bastante a minha base, passando por várias áreas dentro delas, como comercial, marketing e diretoria de negócio, mas sempre com esse olhar de brand value. Entendo que essa seja a riqueza do varejo, trabalhar no retail demanda a importância de ter esse olhar 360, passar por diversas áreas, e ter essa compreensão do todo.” Desde 2021, é CEO da Animale, marca que faz parte do Grupo Soma, plataforma que inclui Hering, Farm, Fábula, Cris Barros, Off Premium, Maria Filó, Dzarm. Sobre essa relação de paixão com a moda, Isabel fala mais a seguir.

 

L’OFFICIEL Quando descobriu que queria trabalhar com moda? 

ISABEL DEL PRIORE De fato, foi minha tia quem me apresentou esse universo. Eu tive o privilégio de crescer com uma tia que foi editora de moda. Eu estava sempre acompanhando o trabalho dela, as viagens que ela fazia, as malas para ir fotografar editoriais. Também tive o privilégio de, com a tia Mumu, ter frequentado espaços com pessoas como Andréa Saletto, Cândida, da Maria Bonita, de ter crescido com grandes mulheres, grandes nomes da moda nacional, como a executiva Cristiane Fleury, que ficou muitos anos à frente da L’Oréal. Então sem dúvida nenhuma, ela me mostrou este universo de uma forma mais ampla, trazendo todo esse ecossistema de moda, de mulheres à frente da moda, de mulheres à frente de negócios da moda, que para mim sempre foram referências, incluindo obviamente ela. Além disso, ter morado desde os 12 anos na França, em Paris, fez ficar claro para mim que esse era o universo que eu queria estar e trabalhar. Aí, ao longo da minha carreira, tive uma série de experiências para entender qual era a minha cadeira nesse lugar. Dentro desse grande universo da moda, onde eu me via? Porque esse lado de business sempre me moveu muito.

 

L’O São Paulo, Paris, Rio de Janeiro, Nova York. Você já morou em muitos lugares. Quais deixaram mais marcas e saudades? 

IDP Eu diria que eu tenho uma ligação muito forte com todos eles, mas sem dúvida a minha ligação mais profunda é com a França, em Paris, onde eu passei dos 12 aos 21 anos da minha vida. Foi um período importante. O contato com a cultura brasileira vem em primeiro lugar, mas todos esses lugares deixam saudades. Acho que Nova York também é uma cidade que quando se tem a oportunidade de morar lá trabalhando no retail e com moda… para mim, foi uma experiência incrível. Hoje estou muito feliz de estar aqui no Brasil, com a oportunidade de ficar entre Rio e São Paulo com o Grupo Soma. Isso me representa muito, já que a minha família é carioca e também já morei em São Paulo.

 

L’O Você teve seu primeiro filho como diretora da Hermès no Brasil. Como a maternidade mudou a executiva? 

IDP Eu ganhei o maior presente da minha vida. Para mim, especialmente, foi um divisor de águas e mudou completamente a minha perspectiva como executiva. Poder ter me dedicado à maternidade, ter tido esse tempo com meu filho, e ter tido a compreensão do quão importante para mim era o meu trabalho, como uma escolha genuína, de querer enormemente ser mãe diariamente, mas também querer ter uma missão profissional. Por maior que seja o despertar da vida familiar, a maternidade também veio para validar a minha vontade e o meu desejo de ter uma missão profissional. E obviamente que após essa vivência, me fez descobrir que a gente consegue fazer tudo, mas talvez trazendo um olhar mais pragmático e objetivo. O equilíbrio é muito importante para a carreira profissional – e a maternidade nos força a ter esse balanço, por mais que seja extremamente desafiador. Pela minha experiência, eu vejo a maternidade como um potencializador da minha carreira profissional.

 

L’O Quais causas a Isabel que já embarcou em uma missão humanitária da ONU, na África, abraça hoje? 

IDP Eu passei um período em Ruanda, com a ONU, assim que me formei na faculdade. Foi uma experiência riquíssima, e que sem dúvida me fez entender que, para além da minha escolha de não seguir uma carreira ou uma missão maior na ONU, existe a nossa missão humana, que tem que fazer parte do nosso dia a dia, independentemente de onde, ou com o que a gente esteja trabalhando, necessitamos, como seres humanos, ter continuamente esse olhar para algo maior. E quando eu trago para as causas que eu abraço hoje, acho que consegui, juntando a minha maturidade, entender e unir duas coisas, não só pela minha vivência, como uma executiva mulher, como pela cadeira que eu ocupo hoje, e pela minha missão nessa frente contínua de estar fazendo algo maior. Juntando tudo isso, eu cheguei nesse lugar que eu estou hoje, e nessa frente que eu procuro desenvolver de forma genuína: o apoio das mulheres na liderança. Quando eu falo “liderança”, não é só à frente da liderança de grandes empresas, mas as mulheres são líderes das suas comunidades, das suas casas, dos seus pequenos negócios. Eu acho que apoiar as mulheres nessa jornada, para que elas tenham a consciência de que é possível elas terem uma atividade profissional, terem a sua vida pessoal, e poder ajudar a tirar esses obstáculos que a nossa geração enfrentou para chegar nesse lugar, onde a gente era pouco percebida. Quando eu me formei, por exemplo, não era claro a possibilidade de sentar em uma cadeira como a que eu sento hoje, até porque o mundo da moda, apesar de ser extremamente feminino, é muito liderado por figuras masculinas. Desbravar essa frente e fazer com que as próximas gerações tenham maior facilidade para terem essas conquistas, com menos obstáculos, de uma forma consciente, coerente e constante, para mim, é extremamente importante. Eu acho importante estar nessa frente de fato de uma maneira genuína, e eu entendo que hoje, com tudo que eu vivi, e vivo, eu posso apoiar e fazer uma diferença, seja no âmbito pessoal, profissional, seja com outras mulheres, com ONGs que a Animale apoia, com a ONU, entre outros, eu acho que temos que fazer isso de dentro para fora diária e continuamente.

dress evening dress formal wear shoe adult female person woman high heel coat
Isabel Del Priore - Foto: Divulgação.

L’O Desde 2021, um dos seus propósitos parece ser ampliar a igualdade de gênero na Animale.

IDP Eu assumi um cargo de liderança em uma indústria que, apesar de ser direcionada a mulheres, é extremamente liderada por homens. Então, eu recebi o bastão para esse cargo de um grande líder, que eu admiro, o Roberto [Jathay, CEO do Grupo Soma e um dos criadores da Animale]. Acredito muito na minha posição do olhar feminino, porque a gente cria produtos e conteúdos para mulheres, e, sem dúvida, para essa cadeira, eu trago uma evolução de todas as minhas descobertas, todas as minhas construções e da minha missão. Trazer uma maior amplitude para igualdade de gênero, não só para a Animale, mas também para a indústria, é o que genuinamente me inspira, todos os dias, a ocupar essa posição e estar nela com consciência e responsabilidade. Todas as ações que eu fiz nesse sentido, a assinatura do pacto Global com a ONU, as mentorias internas, com o objetivo de incentivar e capacitar cada vez mais mulheres por meio da compreensão de que elas têm esse espaço. A liderança feminina já é uma realidade na Animale. Somos mais de 80% do quadro de profissionais e somos mais de 60% nos cargos de liderança. Nosso desafio é manter esse feito potencializando ainda mais mulheres para que sejam sucessoras. Temos muito orgulho de ser a única marca de moda embaixadora do Movimento Elas Lideram, iniciativa do Pacto Global da ONU. É primordial incentivar cada vez mais as mulheres a ocuparem todos os espaços. Quando nos juntamos inspiramos e seguimos mudando o mundo. E nós aqui da Animale estamos torcendo por todas as mulheres e celebrando cada conquista. E para reforçar cada vez mais esse compromisso queremos exaltar duas grandes parcerias que temos orgulho em compartilhar. Pelo terceiro ano consecutivo atuamos junto ao Instituto Dona de Si apoiando mulheres que precisam de ajuda para se desenvolver no mercado de trabalho. E também fomos a primeira marca parceira fashion da CBF no desenvolvimento dos trajes oficiais de apresentação para todas as jogadoras e comissão técnica da seleção brasileira de futebol feminino. Seguiremos caminhando em busca de um futuro cada vez mais potente e feminino. Vislumbro trazer isso não só para a Animale, mas também para a moda no Brasil. Acredito que se a gente puder, na marca, servir de exemplo para nossa indústria nacional e ser uma referência nessa frente, para mim será uma grande conquista.

 

L’O Como vê a moda em dez anos? 

IDP Eu vejo a moda tendo, cada vez mais, um papel de protagonista em comportamentos que vão em linha com as demandas da sociedade. Aliás esse sempre foi o papel da moda, se formos olhar para todo o histórico. Mas daqui a dez anos, eu a vejo como uma referência em questões como sustentabilidade, apoio, funcionalidade, praticidade e empoderamento. Cada vez mais, eu vejo a moda caminhando para um lugar de não ditar tendências de códigos, mas de apoiar tendências que tratem de evolução e melhoria da sociedade e da figura da mulher inserida na sociedade. Vejo a moda apoiando e se adaptando à evolução da humanidade. Atualmente, vemos a frente do ESG sendo crucial, não só para as empresas, mas para nós seres humanos.

 

L’O E como vê a Isabel em dez anos? 

IDP Eu me vejo daqui a dez anos evoluindo, aprendendo e contribuindo para os lugares onde eu passo. Eu me vejo também contribuindo para a moda brasileira. Já vivi diversas fases da linha do tempo dela, vivi a época em que o Brasil não tinha marcas internacionais, a época em que tínhamos grandes designers nacionais, depois vivi a chegada do internacional. Na verdade, agora fiquei curiosa para ver essa Isabel em dez anos, acompanhando a evolução da moda no nosso mercado.

Tags

Posts recomendados