Katy Perry em editorial e entrevista exclusivos para L'OFFICIEL
Fotografia Greg Swales
Styling Danielle Goldberg
Olhando fixamente para o olhar pixelado de Katy Perry através da tela, onde ela está sentada no quintal de sua casa na Califórnia, sou compelida a chamá-la de dicotômica – pois tenho testemunhado duas versões muito claras dela ao longo dos anos. Lá está Katy Perry, a criança da igreja que se tornou uma estrela pop, que fez uma carreira com recordes de sucesso (incluindo cinco singles em primeiro lugar de um álbum, feito igualado apenas por Michael Jackson), criando o intervalo de Super Bowl mais assistido de todos os tempos e se tornando a mulher mais seguida do Twitter.
E então, vejo Katheryn Hudson, que revelou seu eu mais verdadeiro para o mundo no documentário de 2012, "Part of Me", que acompanhou a cantora durante os exaustivos 124 shows lotados de sua turnê California Dreams. Com o casamento dela implodindo e o tipo de lágrimas que fazem você respirar ofegante, voyeuristicamente assistimos Hudson, vestida em seu bustiê com tema de redemoinho de menta com tons pastel feitos para parecerem doces, modelados em Perry. Um sorriso falso aparece em seu rosto e ela se torna uma Velma Kelly da vida real (sem o assassinato) subindo ao palco no início de "All That Jazz" de Chicago.
Mas com Perry, graças à perspicácia que vem com o tempo e a experiência, há uma gradação. Isso, aquilo e o outro. “Passei por uma verdadeira jornada nos últimos anos, me divertindo com fantasias, luzes, adereços e teatro, mas tenho outra vida em casa e é muito pequena e normal”, diz ela. “Não sinto mais que tenho que estar ‘ligada', e acho que é porque descobri minha vida profissional e pessoal. Eu os juntei para ser um ser humano completo e funcional... de algum jeito”.
A leviandade se insinua enquanto ela ri de sua própria autorreflexão. “Eu costumava ficar muito chateada por sair para o mundo sem maquiagem. Mesmo para algo assim, eu dizia, 'Vamos fazer algo no cabelo e maquiagem', e agora eu digo, 'Sabe, estou bem. Eu sei quem eu sou. E o que você pensa de mim não é da minha conta.’” Eu me lembro de RuPaul e sua fala: "A menos que paguem suas contas, não preste atenção no que as pessoas pensam".
Fico imediatamente encantado com ela: em seu sutiã esportivo com dois colares pendurados no pescoço (um onde se lê "Daisy Dove" e o outro um desenho personalizado da flor) e, sendo verdadeira a sua fala, um rosto sem maquiagem. Ela está entregando realidade, e eu estou comendo tudo, sem nem deixar migalhas. Talvez seja uma realidade calculada, trabalhada com tantos detalhes meticulosos quanto a estrela pop com chantilly explodindo de seus seios. Eu escolhi acreditar que a realidade era, bem... real. Porque a questão é que nunca saberemos. E por que viver na incerteza?
Pode-se dizer - e deveria dizer - que foi um grande ano para Perry. Em agosto passado, ela deu à luz sua primeira filha, Daisy Dove Bloom, com seu parceiro, o ator Orlando Bloom. Dois dias depois, ela lançou seu sexto álbum de estúdio, Smile, considerado por muitos um retorno ao seu conhecido pop efervescente. Alguns meses depois ela performou sua música “Firework” ao vivo em frente ao Lincoln Memorial para celebrar a posse do presidente dos EUA Joe Biden e do vice-presidente Kamala Harris. Todos esses acontecimentos tiveram uma sinergia por design.
O single principal do álbum, "Daisies", é uma homenagem a Daisy, e a performance em Washington DC foi direcionada a ela também. “Só pensei em minha filha [quando ela tiver] 36 anos e pensei: 'Em que tipo de mundo vou deixá-la?' Então, eu estava realmente cantando pela mudança climática e pelos líderes que estão dando passos grandes e ousados para enfrentá-la ”.
Tudo isso e ela ainda encontrou tempo para fazer as coisas "normais" que se faz em uma pandemia global, como assistir a “O Gambito da Rainha” e "Succession" ("É o melhor programa de TV que existe, ponto final", ela confirma com confiança), e voltar a amar livros. Seu favorito atual? "The Second Mountain: The Quest for a Moral Life'', de David Brooks.
É esse tempo prolongado em casa com a família que deu a ela a capacidade de recalibrar. “Sou grata por não ter tentado continuar escalando montanhas na carreira. Eu estava tipo, 'Eu acho que há outra montanha para escalar que tem uma vista tão bonita, se não ainda mais gratificante.'” De muitas maneiras, Daisy permitiu que Perry criasse sem crítica, comparação, expectativa ou medo do fracasso - algo que ela tem sido atormentada durante grande parte de sua carreira, em parte graças ao seu sucesso estratosférico desde o início.
“Como performer, sempre contei com o amor, a aceitação e a validação do mundo exterior e isso às vezes pode oscilar”, ela admite. “Quando você tem um filho, você tem alguém que olha para você e não sabe nada no seu currículo, não sabe nada sobre sua conta no banco, não sabe de nada, não se importa, e simplesmente te ama. Amor incondicional. É apenas ... tudo que eu acho que estava procurando.”
O nascimento de Daisy deu a Perry uma sensação de integridade e ajudou a curar feridas profundas que ela havia desenvolvido ao longo dos anos. “Sempre senti como se estivesse andando por aí com um pouco de dor no coração em relação ao amor”, diz ela, seus olhos vagarosamente indo para outro lugar em sua mente. “E meu noivo fez um ótimo trabalho ajudando a consertar isso. Mas isso foi por baixo de tudo isso e ficou tão profundo. Só está aí, esse amor está aí. ” Seu olhar penetrante retorna, focado, seguro. “Já tinha ouvido falar do amor incondicional, mas agora estou realmente experimentando. Há uma totalidade que aconteceu.”
É nessa relação com Bloom, e agora com sua linda Daisy, que a fase da lua de mel - ou a "zsa zsa zsu", como Carrie Bradshaw chamou uma vez - agora parece interminável; em camadas com uma fundação profunda que, com o tempo, se estendeu abaixo da superfície até profundidades previamente fechadas.
O sorriso contagiante de Perry praticamente vibra com a simples menção de seu noivo. “Pude testemunhar ele e sua paternidade”, diz ela. (Bloom tem um filho de 10 anos, Flynn, com a ex-esposa Miranda Kerr.) “O jeito que ele esteve presente para ele e continua a estar presente para ele, e os esforços que ele faz e a distância que ele vai. Acho que essa é uma das razões pelas quais tomei essa decisão consciente. “Eu estava tipo, 'Este é o pai dos meus futuros filhos'. Eu podia ver sua bondade, empatia, cuidado e ternura. Eu estava tipo, 'Ok, isso é diferente. E esta é sua primeira garota, então é um sentimento totalmente diferente para ele. Estou muito, muito grata por tê-lo. E ele realmente se mostra de uma forma muito emocional, o que é único para mim.”
Como muitas novas mães - ou talvez qualquer pessoa que passou o último ano em relativo isolamento - Perry está usando essas grandes mudanças para refletir sobre sua vida como um todo. “Tive 35 anos dando as cartas e fazendo o que queria fazer, viajando pelo mundo todo e cuidando da minha carreira”, diz ela. “Agora tenho a enorme responsabilidade de cuidar de um presente tão incrível. Isso o torna bastante vulnerável e o lembra de sua própria infância, que provavelmente você deseja fazer de forma diferente. Eu quero fazer de forma diferente.” Mas, claro, ela também experimentou alguns medos.
“Eu estava nervosa para ser mãe”, ela admite, dizendo que ela fez uma “jornada de cura” para descobrir por que isso acontecia, chegou à fonte e fez o trabalho para buscar uma solução. "Agora eu entendi. Agora eu percebo que é isso. Esta é a parte viva. Todos os dias eu fico tipo, 'Quando podemos dar um passeio? Quando podemos ir nadar?' Houve bons 12 anos em que nada dessa pequenez existiu. Foi incrível viver grande e selvagem, mas às vezes é bom apenas jogar a bola na grama e ver sua filha rir das simples alegrias do cachorro chegando e trazê-la de volta.”
Daisies. Montanhas. Grama. Talvez seja verdade o que dizem, a natureza cura. Perry está claramente se apaixonando por um mundo mais tranquilo do que os bombásticos holofotes, que ela diz que pode ser opressor. “Você só precisa aprender como sair vivo do carro em chamas. De vez em quando, você pode voltar e dizer: 'Aqui está meu truque de mágica'. Eu acho que a música e a mensagem são fortalecedoras e úteis para as pessoas, mas você não quer que isso consuma tudo. Você também quer construir uma vida real.”
Essa vida real, ou a "menor e melhor vida", como Perry se refere a ela, significou muito tempo com sua família - e não apenas Orlando e Daisy, mas também sua família estendida, incluindo os pais de Perry, bem como seu irmão e irmã . Tem o Taco Tuesdays e o Pancake Sundays, que tem jazz e panquecas dinamarquesas (o cunhado dela é dinamarquês). “Quando você passa tanto tempo com sua família, há muitas oportunidades de cura”.
Ela também começou a considerar seu futuro - e não apenas um que inclua uma próxima residência em Las Vegas e uma nova música e vídeo, “Electric”, para uma colaboração com Pokémon, mas mais adiante. “Qual é o próximo intervalo da minha vida e como isso se parece? E onde encontro essa satisfação? Sempre tive o sonho de ir para a escola e aprender sobre psicologia ou uma combinação de psicologia e filosofia. E eu sei que assim que entrar em um programa educacional e uma estrutura, verei todos esses assuntos que desejo aprender. Eu sei que isso é algo no futuro para mim, mas Vegas definitivamente vem em primeiro lugar”.
Com abertura neste inverno, a residência verá Perry se juntar a uma lineup de estrelas de diversos talentos, incluindo Céline Dion, Carrie Underwood e Luke Bryan, bem como Zedd e Tiësto no novo Resorts World Las Vegas. O retorno aos palcos marcará as primeiras apresentações ao vivo de Perry desde antes da pandemia. Quando pergunto se ela está nervosa ou apreensiva para recuar, ela zomba, deixando claro que o botão de desligar pode facilmente ligar novamente quando necessário. “Eu sei que quando eu voltar ao palco, vou dar o meu melhor e dar o meu melhor, como sempre faço com meus projetos.” Mas até então? “Tenho estado profissionalmente ocupada desde os 13 anos e agora realmente parei para cheirar as rosas.”
CABELO Jesus Guerrero
MAQUIAGEM Michael Anthony
UNHAS Kim Diem Truong
PRODUÇÃO Dana Brockman VISORES
COORDENADORA DE PRODUÇÃO Molly O'Brien
DIGITAL TECH Amanda Yanez
ASSISTENTES DE ILUMINAÇÃO Yolanda Leaney e Sebastien Keefe
ASSISTENTES DE STYLING Alexis Asquith e Jamison Diertrich
ASSISTENTE DE PRODUÇÃO Jeremy Alvarez
AGRADECIMENTOS ESPECIAIS Rosewood Miramar Beach
