Malu Borges: “Sempre vi beleza no esquisito”
Elétrica, borbulhante, um dínamo. Tudo em Malu Borges transborda. Nascida e criada no TikTok há menos de dois anos, a carioca apimentou a moda e as redes sociais com seu mood divertido e looks “arriscados”. “Gosto da estranheza. Nunca quis ser a mais bela da festa.”
É feio até a Malu Borges postar que não. O famoso meme da Rihanna (it’s ugly until Rihanna says it’s not) ganha novos contornos quando a protagonista é Maria Luiza Borges, 26 anos, o fenômeno das redes sociais que estourou a bolha da moda e hoje posa para selfies em shoppings com a mesma alegria com que frequenta a fila A dos superdesfiles e é top of mind das principais grifes daqui e lá de fora. Ela trouxe cor e frescor para um mercado ainda dominado por uma estética “poser” e quase sempre blasé. Verbalizou a moda de luxo, uma seara onde, ainda, uma imagem vale mais que mil palavras. Adicionou interessância às supersaturadas redes sociais com seu jeito divertido, falante e dinâmico, bem ao gosto da gen-Z. Com vocês, Malu Borges.
L’OFFICIEL O que a Malu estudante de nutrição, lá em 2021, que comprava peças na Zara para fazer unboxing, diria para esta Malu de hoje, apontada como o nome mais interessante da influência de moda?
MALU BORGES Vai dar certo e você sabe disso. Digo isso sem um pingo de arrogância. Sempre tive uma calma dentro de mim, uma certeza de que coisas muito boas aconteceriam. Não me via atuando como nutricionista, mas, de alguma maneira, o futuro nunca me angustiou. E aí as coisas aconteceram... e aconteceram rápido.
L’O E como! Sua ascensão foi meteórica. Entre presentes, desfiles e cachês generosos... qual a parte que não dá para fingir costume, quase um “me belisca”?
MB A remuneração deste mercado é surreal. Quem está fora não entende. Meu marido fala: “Não é possível! Vão te pagar isso?”. Claro que tem dedicação extrema, reinvisto uma parte do valor no próprio trabalho, mas... o tempo todo me policio para manter os pés no chão e dar ao dinheiro o respeito que ele merece. E o carinho das pessoas comigo e com a Bebel na rua também é uma delícia. Eu amo esta parte de ser reconhecida.
L’O Em uma rápida análise, o que ainda falta conquistar? O que move você a acordar todos os dias?
MB Adoro a moda como estética, mas o que eu adoro mesmo é me divertir. E me divirto muito com os processos. Quer me ver feliz? Me deixa no TikTok horas pesquisando vídeos e áudios que são trend. Até o “arrume-se comigo”, que não é novo, eu estou gostando de filmar no closet novo de casa. O cômodo novo deu um frescor para o formato – é o meu mundo! Cada vez que olho sinto orgulho de ver as peças que comprei, as marcas que hoje posso ter, os presentes que ganho...
L’O E pensar que tudo começou com uma bolsa atoalhada Bottega Veneta.... em novembro de 2021, um vídeo seu mostrando sua aquisição viralizou. Foi uma virada de chave para você?
MB A bolsa da Bottega foi um marco. Algo totalmente aleatório que mudou minha vida. Se não tivesse feito aquele vídeo, talvez tivesse mesmo virado nutricionista (risos!). Mas tudo mudou mesmo quando criei minha segunda conta no TikTok (Malu criou um perfil para postar conteúdos de cunho mais pessoal, já que o perfil oficial é bem voltado para moda). As pessoas me conheciam, mas não se aproximavam de mim nas ruas. Impressionante como me humanizar gerou esta conexão e me ajudou a estourar a bolha da moda.
L’O De todas as influencers de moda, seu estilo é o mais singular, quase excêntrico. E a gente sabe que o fora da curva funciona bem para o engajamento. É estratégia, é vida real ou é um pouco dos dois?
MB Os dois, juro. Gosto da estranheza, sempre vi beleza no esquisito. Simplesmente não tenho essa necessidade de estar bela, no sentido do padrão certinho de beleza. Não preciso ser a mais bonita da festa. Eu faço make estranha, pinto a sobrancelha... Isso tira um peso enorme de mim. E claro que o diferente chama a atenção. Se eu postar uma foto bonita, as pessoas vão comentar “tá linda!” e só. Uma foto diferente estimula as pessoas a encaminhar, comentar... mesmo que sejam comentários negativos. Você acha que 4 milhões de pessoas querem mesmo ver meu look? Não! Querem dar risada, se divertir.
L’O Apostar em um caminho não tão convencional tem seus dissabores, afinal, o mundo do luxo sempre foi mais conservador. O jeitinho Malu de ser mais aproximou ou afastou você destas grandes grifes?
MB É um momento bom para pessoas como eu. As marcas de luxo estão se abrindo para o TikTok, para os novos nomes que nascem ali. Talvez isso não acontecesse anos atrás. Agora, quando você é comercial, princesa, é mais fácil se encaixar no padrão do mercado de luxo. E está tudo certo também. Só que eu não sou essa pessoa. Sou a Malu certa que apareceu no momento certo.
L’O Tem meninas lindas, com acesso, talentosas, mas que não acontecem. Qual é esse “it”, esse ingrediente que faz acontecer?
MB Carisma, né? É uma leveza, uma graça, uma pessoa que quebra gelo! Mas sempre digo que peguei o momento perfeito no TikTok, do início de um formato que eu apostei. Hoje em dia, tem muita gente fazendo. Tenho amigas incríveis fazendo conteúdos ótimos... e não vira!
L’O Sei que você é muito criteriosa com sua imagem. Até onde você vai em nome desse impacto visual do feed?
MB Eu gosto de imagem. E sei o que quero. Essa segurança ajuda. Começo um publi sabendo a luz, o look, a pose, tudo. É rápido comigo. E conteúdo orgânico é orgânico, vem na hora! Mesmo em fashion week. Vi a cena, combinou, amei? Clica e posta!
L’O Seu primeiro touchpoint com a moda tem nome e sobrenome: Marcia Borges, sua mãe, agente e professora de moda. Qual sua primeira lembrança de moda e onde sua mãe está nela?
MB Tem muito dela nesta Malu. Sempre vi minha mãe muito arrumada. Eu era de uma família de moleques, tenho dois irmãos, não me importava com moda. Queria usar cueca como eles, imagina só. Era dos esportes. Fui crescendo e ficando mais vaidosa a partir dos 17 anos.
L’O Qual a importância da sua mãe na sua vida hoje?
MB Nossa! Eu diria 1000%! Ela faz com que eu me sinta segura em mundos que não estimulam isso. Estou sempre me sentindo em casa porque ela é esse pedacinho de casa aonde quer que eu vá. E eu fico muito feliz porque minha mãe entende muito de moda: ela já leu todos os livros! Poder levá-la para os lugares que escreveram estas histórias enriquecem muito a Malu profissional também.
L’O Você tem amigas no métier?
MB A maior e melhor é a Lele Burnier. Pegamos um momento muito parecido do mercado, o boom do nosso “arrume-se comigo” foi ao mesmo tempo. Nunca me esqueço de ela me dizer “vamos trocar nosso mídia kit?”. Mandei o meu, ela mandou o dela. Batemos, ajustamos. Foi lindo, nasceu uma amizade. Temos as mesmas questões, dores... é maravilhoso ter alguém assim por perto.
L’O Como toda mãe que trabalha muito, bate aquela culpa de perder momentos que não voltam mais?
MB Demais. Muito sofrido. Sei que a Bebel sente. Ela fica doente, irritada. Tenho rosácea, por exemplo. E ela sempre ataca ao fim de uma viagem. A distância mexe demais com nós duas.
L’O Qual sua relação com dinheiro, Malu? Controla o que ganha, sabe dos contratos?
MB Odeio cuidar disso. Minha mãe, meu marido e o contador fazem essa parte. Quero saber o quanto entra, sai, quanto pago de imposto. Mas não quero confundir minha cabeça com isso. João, meu marido, me aterrou muito neste sentido. Ganha-se muito, gasta-se muito, precisa achar um equilíbrio. Eu e ele dividimos todos os gastos da casa. E somos preocupados com o futuro, queremos construir algo concreto.
L’O Como se vê daqui a dez anos?
MB Ah... amo me comunicar, mais até do que amo a moda enquanto estética. Morro de vontade de fazer TV. E quero mais dois filhos. Ano que vem já quero engravidar.
