André Boffano em entrevista para a L’Officiel Brasil
André Boffano é um dos estilistas mais produtivos do SPFW e defende um produto que alie criatividade, matéria-prima e marketing
Como bom pisciano, André Boffano é amante de tudo que é estético e sabe traduzir diversos mundos, da arte à arquitetura, para a moda. O mineiro foi aos 16 anos para Paris para iniciar os estudos e lá descobriu sua verdadeira vocação. Na Cidade Luz, trabalhou para marcas importantes, como Givenchy e Giambattista Valli, e toda essa experiência foi muito importante para que ele amadurecesse e conhecesse a cadeia de dentro para fora.
Depois de alguns anos, se sentiu preparado para voltar ao Brasil e criar sua marca própria, a Modem. O nome veio de modem, o aparelho captador de ondas e que emite um sinal – em seu universo criativo, as ondas seriam as artes plásticas e a arquitetura, e o sinal, o DNA da marca à moda.
L’OFFICIEL Quais os desafios de criar e ter uma marca no Brasil?
ANDRÉ BOFFANO São muitos. Vai da mão de obra à tributação de todos os produtos. É muito complicado. É um mercado com escassez de matéria-prima, de mão de obra e até mesmo de informação de moda. Faltam profissionais que entendam todos os processos de forma integral, consigam enxergar o andamento como um todo e entendam desde quem vai consumir até como é a concepção de produto.
L’OFFICIEL Seu trabalho ganhou força por meio de um shape mais minimalista e estampas gráficas. Como é seu processo criativo?
ANDRÉ BOFFANO Sempre começo com a pesquisa de materiais e cartela de cores. Existe um macrotema, uma macroinspiração: pode ser um mood, um artista... E levo isso para o DNA da marca. Desde o início, a ideia da Modem era que uma coleção fosse a evolução da última, como se eu pegasse todas as coleções e as colocasse numa linha de raciocínio única, uma dando continuidade à outra. Na última coleção, apresentada durante a 48a edição do SPFW, eu quis trazer mais o aspecto técnico, que às vezes a gente não consegue enxergar na passarela: uma pesquisa intensa de modelagem e acabamento. Eu selecionei peças de coleções passadas e coloquei uma em cima da outra, fazendo uma verdadeira colagem e criando novos shapes.
L’OFFICIEL Em paralelo à Modem, você está à frente da Bobstore como diretor criativo. Como é a jornada dupla de trabalho?
ANDRÉ BOFFANO Eu fico três dias por semana na Bobstore e o restante na Modem, e acabo meio que trabalhando a semana toda. Se eu preciso marcar algum shooting para as marcas, costumo deixar para o domingo, que é mais tranquilo. Aprendo na Bobstore, entre erros e acertos, e levo o conhecimento para a Modem. Lá consigo entender muito do mercado brasileiro, e isso tem me ensinado bastante.
L’OFFICIEL Você acredita que o desfile ainda tem um grande potencial de marketing?
ANDRÉ BOFFANO Eu acho que é a melhor ferramenta para exibir uma coleção. Para uma marca que não tem loja, como a Modem, é o momento de mostrar o lifestyle no qual a marca acredita. Ainda mais do que isso, acho que é trazer a liberdade para a criação. Na Bobstore, por exemplo, tenho essa “desculpa” para ir além, e a oportunidade de mostrar mais novidades e produtos originais. A forma bacana e inteligente de criar um produto é ter equilíbrio: precisamos que ele possua identidade de moda, boa matéria-prima, bom acabamento e um valor condizente.
L’OFFICIEL Como definiria o estilo da sua marca?
ANDRÉ BOFFANO Eu uso muito o termo modern clean, mas é mais do que isso. É para uma mulher urbana, é para quem gosta de se vestir bem e de um produto bem feito. Agora estou expandido para a malharia e fazendo crescer a coleção de bolsas e sapatos. Quero oferecer um guarda-roupa completo para a minha cliente.
L’OFFICIEL Qual elogio mais tocou você?
ANDRÉ BOFFANO O que mais me toca é quando a cliente consegue perceber o esforço por trás de uma peça, a pesquisa que é realizada. Quando ela pega o produto e sabe que houve cuidado na hora de escolher cada detalhe.