A diretora editorial de L'OFFICIEL Silvana Holzmeister aponta a conex&atilde;o entre mensagens e alertas que saltaram da temporada internacional com o zeitgeist

A <a href="https://www.revistalofficiel.com.br/beleza/passarelas-de-nova-york-trazem-belezas-que-unem-o-passado-e-o-futuro">passarela</a> fala!&nbsp;E o que ela diz sobre o contempor&acirc;neo a partir das cole&ccedil;&otilde;es para o <a href="https://www.revistalofficiel.com.br/moda/tendencias-para-2025-fique-por-dentro-de-4-pecas-que-prometem-bombar">ver&atilde;o 2025</a>? A diretora editorial de L'OFFICIEL <a href="https://www.revistalofficiel.com.br/moda/l-officiel-118-tudo-sobre-a-edicao-de-dezembro-janeiro">Silvana Holzmeister</a> aponta a conex&atilde;o entre mensagens e alertas que saltaram da temporada internacional com o zeitgeist.&nbsp;

Moda como processo criativo consistente &eacute; reflexo do tempo em que vivemos. Essa &eacute; uma leitura que salta principalmente da passarela. Da&iacute; a import&acirc;ncia do desfile e motivo pelo qual n&atilde;o pode acabar, ainda que levar a cole&ccedil;&atilde;o para o reino da arte seja uma sa&iacute;da eficiente. Nesta temporada internacional, passarelas de Nova York, Londres, Mil&atilde;o e, principalmente, Paris desenharam o esp&iacute;rito do tempo presente. E o que ele diz? Bem, nada do que quem acompanha not&iacute;cias sobre o mundo n&atilde;o saiba. O grande lance &eacute; ver como cada marca dialoga com o contempor&acirc;neo. Refor&ccedil;ar a pr&oacute;pria identidade, pensar as crises clim&aacute;tica e econ&ocirc;mica e buscar a verdade foram temas ressaltados em alguns shows.

Fila final da Chanel - Foto: Divulgação / Getty Images.

Segundo a Organiza&ccedil;&atilde;o das Na&ccedil;&otilde;es Unidas&nbsp; (ONU), os &uacute;ltimos quatro anos foram os mais quentes j&aacute; registrados. Relat&oacute;rio da Organiza&ccedil;&atilde;o Meteorol&oacute;gica Mundial (OMM) de setembro de 2019 apontava &agrave;quela altura cerca de 1 grau Celsius acima dos n&iacute;veis pr&eacute;-industriais e perto do que os cientistas alertam que seria &ldquo;um risco inaceit&aacute;vel&rdquo;. O aumento das temperaturas alimenta a degrada&ccedil;&atilde;o ambiental, as cat&aacute;strofes naturais, as condi&ccedil;&otilde;es clim&aacute;ticas extremas, a inseguran&ccedil;a alimentar e h&iacute;drica, as perturba&ccedil;&otilde;es econ&ocirc;micas e, at&eacute; mesmo segundo a ONU, os conflitos e o terrorismo. O n&iacute;vel do mar est&aacute; subindo, o &Aacute;rtico est&aacute; derretendo, os recifes de coral est&atilde;o morrendo, os oceanos est&atilde;o mais &aacute;cidos e as florestas est&atilde;o em chamas. Bilh&otilde;es de toneladas de CO2 s&atilde;o liberados na atmosfera todos os anos como resultado da produ&ccedil;&atilde;o de carv&atilde;o, petr&oacute;leo e g&aacute;s. Tudo isso no mundo inteiro. Al&eacute;m de ser espelho da realidade, a moda &eacute; uma das ind&uacute;strias mais poluentes, mas, como salientou o secret&aacute;rio-geral da ONU, Ant&oacute;nio Guterres, &ldquo;a emerg&ecirc;ncia clim&aacute;tica &eacute; uma corrida que estamos perdendo; entretanto, &eacute; uma corrida que podemos vencer&rdquo;.

Enquanto a situa&ccedil;&atilde;o n&atilde;o est&aacute; sob controle, Kunihiko Morinaga, da Anrealage, busca um meio-termo para o conforto t&eacute;rmico. O estilista lan&ccedil;ou a pergunta: &ldquo;Com a crise clim&aacute;tica aumentando as temperaturas em todo o planeta, como sobreviver ao calor?&rdquo;. Para ele, a sa&iacute;da pode estar em suas roupas &ldquo;cool-wear&rdquo;, que t&ecirc;m a miss&atilde;o de refrescar o usu&aacute;rio. Lembrando paraquedas infl&aacute;veis, as pe&ccedil;as foram desenvolvidas em parceria com a Kuchofuku, empresa japonesa pioneira em roupas utilit&aacute;rias providas de ar-condicionado &ndash; recurso j&aacute; empregado nas jaquetas de guardas municipais de T&oacute;quio, por exemplo.&nbsp;
O estilista utilizou n&aacute;ilon herm&eacute;tico com n&atilde;o mais que 23 gramas por metro de tecido, feito de fios t&atilde;o finos que medem cerca de um ter&ccedil;o da espessura de um fio de cabelo. Na passarela, a resposta tecnol&oacute;gica foi evidenciada por meio de performances em que as roupas inflavam assim que as modelos acionavam um pequeno bot&atilde;o acoplado nas pe&ccedil;as, fazendo surgir, tamb&eacute;m, modelagens esculturais divertidas. Outra proposta foi a impress&atilde;o a jato de tinta sustent&aacute;vel Forearth da Kyocera, que n&atilde;o utiliza &aacute;gua, para criar motivos abstratos vibrantes que formam padr&otilde;es mut&aacute;veis.

&Eacute; caminhando por pr&aacute;ticas de baixo impacto ambiental que marcas comprometidas com a&ccedil;&otilde;es sustent&aacute;veis ganham protagonismo. A pioneira Stella McCartney bradou: &ldquo;Salve o que voc&ecirc; ama&rdquo;. Sua cole&ccedil;&atilde;o foi 91% produzida com materiais sustent&aacute;veis. As jaquetas Bomber Puffball, por exemplo, foram feitas a partir de garrafas pl&aacute;sticas recicladas. Indignada com o uso de plumas, tend&ecirc;ncia que vem se renovando nos &uacute;ltimos anos, a estilista disse ao WWD. &ldquo;Para mim, j&aacute; era f-king time de pararmos de matar animais por moda. Cerca de 1 bilh&atilde;o e meio de p&aacute;ssaros s&atilde;o mortos por causa da moda todos os anos.&rdquo;&nbsp;
O jeans azul, item b&aacute;sico, &eacute; um dos vil&otilde;es do meio ambiente. Al&eacute;m de normalmente consumir muita &aacute;gua, desde a planta&ccedil;&atilde;o at&eacute; o beneficiamento, os produtores contam com o corante &iacute;ndigo, a &uacute;nica mol&eacute;cula conhecida por fornecer a cor espec&iacute;fica. Embora o &iacute;ndigo em si seja naturalmente derivado de uma planta, a crescente demanda deu origem &agrave; popular vers&atilde;o sint&eacute;tica. Como n&atilde;o se dissolve na &aacute;gua, precisa ser alterada com produtos qu&iacute;micos agressivos para ent&atilde;o tingir a roupa. Pesquisadores na Dinamarca divulgaram, no in&iacute;cio deste ano, uma alternativa amig&aacute;vel: enzima. Ainda assim, &eacute; s&oacute; o come&ccedil;o. Outro problema s&eacute;rio s&atilde;o as sobras e o descarte.

Desde que assumiu a dire&ccedil;&atilde;o criativa da marca, h&aacute; quatro anos, Glenn Martens vem se concentrando em pr&aacute;ticas sustent&aacute;veis na Diesel. Al&eacute;m de utilizar cada vez menos &aacute;gua nos processos de lavagem e tingimento e do foco no jeans regenerativo e reciclado, para o ver&atilde;o 2025 ele criou para o cen&aacute;rio um casulo azul feito de quase 15 mil quilos de res&iacute;duos de denim triturados, material que no p&oacute;s-desfile ser&aacute; reutilizado e ressignificado, como para o segmento automotivo. Em vez de trilha sonora convencional, uma narra&ccedil;&atilde;o contava a hist&oacute;ria do denim. Na cole&ccedil;&atilde;o, pe&ccedil;as artesanais feitas de sobras de fios de jeans ganharam destaque.
Na Issey Miyake, o diretor criativo Satoshi Kondo fez release e roupas da s&eacute;rie kamiko modeladas em alfaiataria com fibras de hemp, que n&atilde;o exige pesticidas nem herbicidas para crescer saud&aacute;vel e forte. Fios de c&acirc;nhamo tamb&eacute;m vieram misturados com l&atilde; e mohair, al&eacute;m de pe&ccedil;as feitas em 100% hemp. O cen&aacute;rio montado no Parc Floral de Paris teve assentos feitos de cilindros de folhas de papel reciclado comprimidas, subproduto da plissagem do ic&ocirc;nico tecido do projeto Pleats, Please!. J&aacute; para Rei Kawakubo, mente brilhante por tr&aacute;s da Comme des Gar&ccedil;ons, uma &uacute;nica frase &eacute; capaz de descrever seu ver&atilde;o 2025, intitulado Futuro Incerto. Ela diz: &ldquo;Confrontar um mundo cheio de incertezas com ar e transpar&ecirc;ncia pode significar um tipo de esperan&ccedil;a&rdquo;. Fica o convite para cada um tirar suas conclus&otilde;es, a partir da pr&oacute;pria viv&ecirc;ncia, experi&ecirc;ncias e valores. O que pode significar se esconder ou se cercar de um escudo. &Eacute; uma cole&ccedil;&atilde;o abstrata, muito pr&oacute;xima da arte contempor&acirc;nea.

Sustentabilidade e crise econ&ocirc;mica se cruzaram na passarela da Vetements. Abordando a necessidade de repensar o que a moda significa em um mundo em que os sistemas antigos est&atilde;o desmoronando, Guram Gvasalia prop&ocirc;s uma cole&ccedil;&atilde;o baseada no ethos de &ldquo;fazer o novo a partir do velho&rdquo;, retrabalhando pe&ccedil;as existentes. A cole&ccedil;&atilde;o fala de um futuro em que os consumidores n&atilde;o t&ecirc;m mais o desejo, ou os meios, para participar do consumo de luxo. Em vez disso, eles adotam uma mentalidade DIY, criando pe&ccedil;as &uacute;nicas e conceituais a partir do que resta.
Bottega Veneta e Miu Miu abordaram outra crise contempor&acirc;nea: fake news. O diretor criativo da primeira, Matthieu Blazy, optou pelo lado l&uacute;dico &ndash; como uma crian&ccedil;a olha o mundo &ndash; para falar do poder da sinceridade sobre o da estrat&eacute;gia. &ldquo;Quando crian&ccedil;a, existe a aventura do dia a dia &ndash; h&aacute; uma sensa&ccedil;&atilde;o de que tudo pode acontecer, por mais fant&aacute;stico que seja, e n&atilde;o estamos t&atilde;o limitados por expectativas e conven&ccedil;&otilde;es. A porta est&aacute; aberta para a possibilidade de realidades estranhas e maravilhosas, cen&aacute;rios imposs&iacute;veis que afastam a desilus&atilde;o&rdquo;, explicou sobre a cole&ccedil;&atilde;o repleta de silhuetas desproporcionais, destru&iacute;das, amassadas e refeitas. O tecido parece couro, o couro parece tecido. A l&atilde; merino foi tecida como um jacquard imitando o denim lavado, enquanto a camisa listrada apresenta texturas irregulares e descontinuadas. Nos acess&oacute;rios, o descart&aacute;vel se torna precioso. Sacolas de supermercado viram bolsa.

J&aacute; Miuccia Prada, na Miu Miu, deu a deixa para a sua mensagem j&aacute; no convite: dois torr&otilde;es &ndash; a&ccedil;&uacute;car e sal levando para o projeto Salt Looks like Sugar, desenvolvido pela artista Goshka Macuga. Na cenografia da sala de desfile exibia um filme com imagens de uma gr&aacute;fica imprimindo exemplares de jornal que rodavam em um varal pelo teto do espa&ccedil;o. Era o The Truthless Times. A proposta foi trabalhar o conceito de verdade e representa&ccedil;&atilde;o convidando o espectador a entender o que &eacute; real no mundo de hoje. E essa verdade tem que ser encontrada por investiga&ccedil;&atilde;o individual em vez do caminho mais f&aacute;cil: o que est&aacute; dispon&iacute;vel em fontes comumente distribu&iacute;das e acess&iacute;veis em v&aacute;rios canais. O texto sobre a cole&ccedil;&atilde;o encoraja os convidados a refletirem de maneira cr&iacute;tica, argumentando que, no contexto da era p&oacute;s-verdade, em que os limites entre fato e fic&ccedil;&atilde;o est&atilde;o cada vez mais confusos, entender quem controla as narrativas relacionadas aos acontecimentos se torna mais cr&iacute;tico. Quest&otilde;es de verdade, desinforma&ccedil;&atilde;o e manipula&ccedil;&atilde;o est&atilde;o intrinsecamente ligadas a quest&otilde;es de poder, liberdade de express&atilde;o e representa&ccedil;&atilde;o.&nbsp;
Fendi, Moschino, Chanel, Louis Vuitton e Mugler &ndash; que est&aacute; celebrando seu 50&ordm; anivers&aacute;rio &ndash; e Valentino com Alessandro Michele &ndash; a grande estreia da temporada &ndash; refor&ccedil;aram seu DNA, revigorando a pr&oacute;pria hist&oacute;ria e seus s&iacute;mbolos. Na Louis Vuitton, uma passarela de ba&uacute;s que emergiu do ch&atilde;o. Michele enfatizou c&oacute;digos tradicionais da Valentino. Patrocinadora &uacute;nica de longa data e quem deu suporte para o projeto de restaura&ccedil;&atilde;o e remodela&ccedil;&atilde;o do Grand Palais, Chanel retornou ao ic&ocirc;nico espa&ccedil;o constru&iacute;do para a Exposi&ccedil;&atilde;o Universal de 1900. Ali, a equipe interna de estilo trabalhou em cima dos c&oacute;digos da marca, buscando acrescentar jovialidade, diversidade e delicadeza.

Verão 2025: os desfiles trazem a conexão entre mensagens e alertas

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