Alice Braga em entrevista exclusiva para a L'Officiel Brasil
Alice Braga sempre soube que queria atuar. “Eu cresci em um set de filmagem”, diz. “O que eu mais amei na vida foram as artes, e minha paixão por atuar vem daí.” O papel de destaque da atriz foi como Angélica, em “Cidade de Deus”, de Fernando Meirelles, indicado ao Oscar. Trata-se de um filme visceral, que retrata as ruas pulsantes e ensanguentadas de uma das favelas mais contraditórias do Rio de Janeiro.
O pôster do filme apresenta uma imagem estática de uma cena em que Braga se inclina para dar um beijo na bochecha de Buscapé (vivido por Alexandre Rodrigues), enquanto os dois se sentam à beira da praia, que se tornou uma imagem icônica. “Foi quando tudo deu certo”, pontua.
Desde então, Alice passou a estrelar várias produções notáveis de Hollywood, como “Eu sou a Lenda”, “Predadores” e “Elysium”. A atriz também participou de franquias de super-heróis. Depois de três anos de espera, o complemento de “X-Men, os Novos Mutantes”, finalmente, teve o seu lançamento anunciado, bem como o filme de anti-heróis da DC Comics, “O Esquadrão Suicida”, em que Braga interpreta a revolucionária sul-americana Sol Soria, que está programado para entrar em cartaz durante o verão.
O seu projeto mais recente está na série de Luca Guadagnino, “We Are Who We Are” uma história de amadurecimento que gira em torno de dois garotos americanos, que vivem em uma base militar em Chioggia, Itália. Ela interpreta Maggie Teixeira, uma médica que mora na base com a esposa Sarah, interpretada por Chloë Sevigny, e o filho de 14 anos, Fraser, feito por Jack Dylan Grazer. No típico estilo Guadagnino, a série é um estudo de personagem que investiga profundamente a vida e a psique dos adolescentes e adultos em torno dela. “[Luca] não permite que você siga o roteiro à risca. Ele dá espaço para sentir a cena”, diz Braga. “Ele está muito curioso sobre o subjetivismo de cada ser humano e, na minha opinião, é por isso que os seus filmes são tão brilhantes. Ele está curioso sobre o comportamento humano, e isso liberta o ator.”
L’OFFICIEL “Novos Mutantes” finalmente foi lançado – como você se sente com isso?
ALICE BRAGA Poder lançar o filme nesse momento foi emocionante. O que é interessante é que o filme gira em torno de jovens mutantes que estão presos em uma instalação. De certa forma, acho que muitos jovens podem se conectar com a ideia de estarem presos e ansiosos para explorar e descobrir quem são realmente. Sempre fui fã do universo X-Men e a base de fãs é muito especial – eles são leais e comprometidos com a paixão pelos quadrinhos.
L’OFF Seu personagem, Dra. Reyes, foi mentora para os jovens mutantes. Você trabalhou com jovens atores excelentes neste filme, como Maisie Williams e Anya Taylor-Joy. Como foi a experiência?
AB Acho que aprendi tanto com eles que nem posso dizer que foi uma mentoria [risos]. Senti-me sortuda em trabalhar com cada um deles porque eles são tão fundamentados, preparados e curiosos. Fiquei muito, muito impressionada com o quão talentosos são. Anya Taylor-Joy é uma força da natureza e Maisie Williams também. Todos eles são jovens atores poderosos. Na verdade, senti que estava aprendendo muito com o compromisso deles com o ofício. Ser de uma geração diferente, poder explorar esses personagens e o universo X-Men com eles foi emocionante.
L’OFF Como foi trabalhar com Luca Guadagnino em “We Are Who We Are” e compartilhar do seu mundo distinto e estilizado?
AB Foi maravilhoso! Sou amiga do Luca há anos. Eu vi o seu primeiro filme [I Am Love], em 2009, e desde então tenho acompanhado o seu trabalho. Sempre amo o que ele faz com os personagens, e foi uma honra participar dessa primeira vez que ele está dirigindo uma série limitada. Ele é um diretor único na maneira de contar histórias. É alguém que tira você da zona de conforto e cria novos caminhos e visões para cada personagem. Um programa como “We Are Who We Are” especificamente, centrado na juventude, é muito importante agora. É ótimo aprender com os jovens, com a sua liberdade e com a sua maneira de ver a vida. Com certeza foi um projeto especial e aprendi muito com o Luca como diretor.
L’OFF Você pode nos contar um pouco sobre a sua personagem, Maggie? O que mais te conquistou nela?
AB A primeira vez que falei com Luca, ele disse que Maggie era cheia de paixão, mas isso é mostrado nas fissuras da sua vida. Ela é a esposa e a zeladora, cuida desse menino e o ama. Ela não é a sua mãe biológica, mas sente como se fosse. É uma personagem interessante que vive através dos momentos. Maggie foi um papel lindo de se interpretar e, além da vontade de trabalhar com Luca, gostei da ideia de fazer alguém que é cheio de vida, mas não consegue explorar isso em seu coração.
L’OFF Maggie é complexa – ela é a rocha da família, mas também tem esse outro lado que ela mantém escondido. É algo com o qual você se identifica, ser uma pessoa sob os holofotes?
AB De certa forma, sinto que todos nós – é por isso que adoro o título do programa, “We Are Who We Are” –, temos detalhes e emoções que escondemos e que só aparecem em pequenos pedaços entre as rachaduras ou em certos momentos da vida. Algumas partes nós mantemos ocultas, algumas nós mostramos e muitas nem temos controle.
L’OFF Como você acha que um programa como esse teria influenciado você na juventude?
AB Acredito que teria sido lindo. Uma das coisas que me empolgou quando li o roteiro foi a forma especial como esses jovens adultos foram retratados. Às vezes, não mostramos as crianças com um ponto de vista curioso. Nós estabelecemos como ‘Oh, eles são adolescentes’ ou ‘eles são complicados’. Ter um show que mergulha em suas emoções e suas perguntas sobre o mundo é superpoderoso e importante. Se eu tivesse um programa assim quando era adolescente, acho que definitivamente o apreciaria. Espero que esse tipo de ação inspire as pessoas, não apenas as crianças que assistem, mas também os adultos. Acho que temos muito a aprender com os jovens, principalmente hoje com o mundo tão dividido e com tanto preconceito. Acho que é importante olharmos para os jovens e nos inspirarmos neles.
L’OFF Há muita inquietação no mundo entre Trump e Bolsonaro, e toda a desconfiança em torno dos militares, da polícia e das autoridades – como isso afetou a sua maneira de contar a história?
AB Foi interessante interpretar alguém do exército. Eu queria entender como funciona a estrutura militar, porque é uma sociedade particular; é uma forma de viver com mentalidade própria. Queria ser capaz de mostrar a humanidade por trás disso. Existem seres humanos reais com sentimentos, com corações, com paixões que vivem essa realidade e fiquei curiosa em saber como poderíamos retratar isso com autenticidade. Foi um desafio maravilhoso, especialmente hoje em dia com presidentes como Trump e Bolsonaro, que usam o exército e falam sobre o uso da força de forma tão específica. Foi bom poder mostrar o ponto de vista de dentro, focado no lado mais humano.
L’OFF Você filmou “O Esquadrão Suicida” ao mesmo tempo que gravava “We Are Who We Are”. Como foi transitar entre esses dois papéis tão diferentes?
AB Foi desafiador porque eram energias completamente distintas, não apenas do set, mas dos assuntos com os quais estávamos lidando e do material trabalhado. Mas como estava simultaneamente atuando com dois diretores incríveis [Luca Guadagnino, em “We Are Who We Are” e James Gunn, em “O Esquadrão Suicida”], foi um momento emocionante.
L’OFF Os filmes “Os Novos Mutantes” e “O Esquadrão Suicida” permitiram que você trabalhasse com Marvel e DC Comics. Há algo sobre quadrinhos e super-heróis que realmente te atraem?
AB Cresci lendo HQs. Meus pais sempre amaram filmes de arte como [Jean-Luc] Godard, o cinema europeu e o cinema brasileiro, mas havia um lado da minha mãe, especialmente, que era muito conectado a filmes de ação, super-heróis e quadrinhos. Eu vivi muito naquele mundo, então sou nerd [risos]. Juntar-se aos “Novos Mutantes” e poder participar do “Esquadrão Suicida” foram momentos gratificantes porque realizei um sonho de infância
Créditos:
FOTOS James White
CABELO Darine Sengseevong (com produtos Oribe)
BELEZA Karina Moore (com produtos Clarins)
STYLING Rafael Linares
ASSISTENTE DE STYLING Abby Orozco
AGÊNCIA Art Department