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Sylvia Earle é referência na luta pela preservação da vida marinha

Rainha das Marés! Incansável, Sylvia Earle é um verdadeiro tsunami na luta pela preservação da vida marinha

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Sylvia Earle curtindo o pôr-do-sol - Foto: Arquivo Pessoal.

Rainha das marés e incansável, Sylvia Earle é um verdadeiro tsunami na luta pela preservação da vida marinha. Com quase seis décadas dedicadas ao estudo dos oceanosa estadunidense vem ajudando a criar Pontos de Esperança espalhados pelos mares do mundo. Confira!

Ela tinha 3 anos quando foi “atropelada” por uma onda em uma praia de Nova Jersey, Estados Unidos. O que poderia ter se transformado em um trauma acabou sendo o despertar de uma longa, sólida e inspiradora história de amor. Aos 88 anos, e com quase seis décadas dedicadas à pesquisa, ao estudo e à proteção dos mares, Sylvia Earle é referência quando o assunto é a vida dos oceanos.

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Foto: Kip Evans / Divulgação.

Hoje, cuidar e proteger a vida marinha deixou de ser simples questão ecológica e entrou para a lista de principais problemas mundiais. “É uma ilusão pensar que poderíamos viver sem o oceano. Mesmo que você nunca veja ou toque o mar, ele toca você a cada respiração, a cada gota de água que você bebe”, diz Sylvia em entrevista exclusiva à L’OFFICIEL.

 

Uma verdadeira força da natureza, a oceanógrafa e bióloga marinha coleciona feitos em um ambiente majoritariamente masculino. Foi a primeira mulher a andar no fundo do mar a uma profundidade de mais de 300 metros; a única representante feminina em um grupo de 70 homens em uma expedição pelo Oceano Índico; a primeira mulher nomeada cientista-chefe da Administração Oceânica e Atmosférica Nacional (NOAA), um dos mais importantes órgãos para a ciência marinha do mundo.

 

Em 1970, liderou a primeira expedição a um laboratório subaquático composta só de mulheres; tornou-se a primeira mulher a ocupar o posto de exploradora residente da National Geographic Society, em 1998 – para citar apenas alguns dos seus feitos.

Ouvir Sylvia Earle falar sobre os oceanos nos remete às histórias do canto das sereias, que encantavam os marinheiros e os atraíam para as profundezas do mar. É impossível ficar imune à paixão que ela sente pela vida marinha – e é igualmente impossível não compartilhar sua preocupação e indignação com a exploração desse universo e a consequente catástrofe que se anuncia caso o cenário não mude.

 

Como forma de atuar contra isso, ela fundou, em 2009, a Mission Blue, organização que trabalha com comunidades locais para proteger a vida marinha e que, desde 2014, conta com o apoio da Rolex. “A motivação inicial foi para encontrar um lar para o conceito de Hope Spots [Pontos de Esperança] em todo o mundo, lugares que são de vital importância para a saúde do oceano”, explicou.

Descubra, a seguir, um pouco mais sobre essa mulher extraordinária, que encontrou nos oceanos um caminho para a vida na Terra.

 

L’OFFICIEL Você se dedica ao estudo dos mares há mais de seis décadas. Quais os principais aprendizados? 

SYLVIA EARLE Sabemos que o oceano governa o clima e o tempo, molda a química planetária, contém 97% da água da Terra, gera mais da metade do oxigênio da atmosfera, captura grande parte do dióxido de carbono lançado nela e propicia a vida no planeta. Mas também é verdade que mais de 90% dele ainda é desconhecido, nem sequer mapeado com o mesmo grau de precisão que temos para a Lua, Marte, ou mesmo Júpiter! Tem sido uma grande lição para mim sobre os nossos limites, como criaturas que respiram ar, entender e conhecer melhor onde realmente está a maior parte da vida na Terra. Sem oceano, não há vida.

 

L’O Quais as maiores diferenças que você tem percebido na vida marinha nas últimas décadas? 

SE Temos acompanhado a depredação dos oceanos de uma forma nunca vista antes. Metade dos recifes de coral, florestas de algas, manguezais e pântanos costeiros desapareceu, e cerca de 90% dos peixes mais populares nas mesas de todo o mundo desapareceram ou estão em sério declínio. Além disso, a química do oceano está mudando devido a resíduos terrestres que são deliberadamente descarregados no mar ou fluem das águas subterrâneas e dos rios. Mas também há mudanças positivas! Existem mais baleias e mais tartarugas hoje do que quando eu era criança, porque a maioria das nações as protege do perigo. Nos locais onde foram estabelecidas áreas protegidas, como os Hope Spots, os peixes e outras criaturas estão se recuperando.

 

L’O Hoje, o que é mais danoso para os oceanos? 

SE A utilização de tecnologias desenvolvidas para uso em tempos de guerra e que agora são aplicadas no transporte marítimo e a captura e comercialização da vida oceânica em escala industrial são os maiores predadores. Por exemplo: sonares desenvolvidos para localizar submarinos estão sendo usados para encontrar peixes. A navegação aprimorada permite retornar a locais precisos onde as espécies são abundantes. Além disso, novos materiais, como redes, linhas e armadilhas sintéticas, tornaram o equipamento de pesca mais barato e, portanto, praticamente descartável. O oceano está obstruído com redes descartadas, armadilhas e outros equipamentos que enredam e matam milhões de peixes, aves e outras criaturas todos os anos. Sem falar na pesca ilegal, que destrói milhões de animais todos os anos… Os plásticos e outros materiais sintéticos que, em geral, têm sido benéficos para a civilização humana, também se tornaram uma séria ameaça. O impacto dos micro e nanoplásticos é enorme. Alguns são tóxicos, e a maioria também atrai toxinas e bactérias com potencial para causar danos.

 

L’O Conte um pouco sobre a Mission Blue e as ações no Brasil. 

SE A ideia da organização é fazer uma exploração mais aprofundada do oceano, para que possamos entender melhor toda essa vastidão. Isso requer tecnologia para explorar e compreender o que existe e, sobretudo, para compartilhar esse conhecimento não apenas com os cientistas, mas com o público em geral. Queremos inspirar as pessoas a agirem, a tornarem uma área um Hope Spot, que pode ser um local que está em boas condições, para ser preservado, ou um que foi danificado ao longo do tempo mas que, com cuidado, pode ser restaurado. A grande vantagem desse trabalho é que se trata de uma abordagem comunitária; a comunidade local, que conhece os reais problemas e as necessidades, atua no trabalho de proteção e conservação da biodiversidade marinha. A Mission Blue trabalha em estreita colaboração com os agentes locais, fornecendo as ferramentas e o apoio necessários para acelerar os esforços de conservação, seja por meio de construção de coligações eficazes, seja ajudando na identificação de oportunidades de financiamento. Atualmente, contamos com mais de 150 Hope Spots ao redor do mundo, entre eles dois no Brasil: o Banco de Abrolhos, na Bahia, e as Ilhas Cagarras, no Rio de Janeiro.

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Orientando jovens voluntários na Ilha Long, Seychelles - Foto: Stefan Wlater / Divulgação.

L’O Desde seu envolvimento com a Mission Blue, em 2014, como a Rolex ajudou a atingir seus objetivos? 

SE Com o apoio da Rolex, a Mission Blue continua a expandir sua rede de Hope Spots para garantir o alcance dessa meta. A marca apoiou a Mission Blue no estabelecimento de mais de 130 Hope Spots e também nos permitiu liderar mais de 30 expedições. Além disso, foi por meio desse suporte que construímos nossa equipe de comunicação e desenvolvemos plataformas para construir a comunidade on-line. Em 2020, a Mission Blue ultrapassou 1 milhão de seguidores.

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A bordo do submersível Deep Sea em uma expedição em Galápagos - Foto: Franck Gazzola / Divulgação.

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