Marrocos: uma viagem inesquecível
Sai o entardecer e principia a noite. A mudança de luz que se dá no deserto, iluminado pontualmente pelas fogueiras acesas próximas às tendas, é expandida pela percepção do horizonte em 360 graus. A galope, o cavalo-árabe acelera a velocidade de suas passadas, aumentando o volume da batida dos cascos sobre as pedras e os cascalhos – esse é o único som que se ouve e a liberdade é desafiadora.
De passagem pelas aldeias berberes, o aceno de algumas crianças que jogam bola indica que ali vive um povo amistoso. Era a deixa que faltava para conhecer Marrakech, região do sudoeste do Marrocos habitada por quase 1 milhão de pessoas.
O ponto de partida foi o hotel Royal Mansour, com seus maravilhosos salões de festas e pratos elaborados pela equipe do chef Yannick Alléno, premiado com três estrelas no guia Michelin. Já no portão de entrada, a tradição da cultura local aparece estampada nos desenhos simétricos, que lembram os majestosos portões das cidades imperiais.
Passando pelo átrio, onde está a recepção, a planta do edifício principal reúne bares, inúmeros lounges, a biblioteca e os três restaurantes da casa – La Grande Table Marocaine, La Table e Le Jardin. A arquitetura de influência mourisca da Espanha e de Portugal, também com notas do norte da África, está registrada nos arcos e nos pátios, decorados por mestres-artesãos especializados na técnica tadelakt, que utiliza um tipo de reboco impermeável à base de cal prensado na superfície, e na criação dos azulejos zelliges, cuja combinação de cores e mosaicos de geometrias originais, montados e cozidos em várias etapas, compõe um rendilhado único.
Para chegar a uma das 53 acomodações, chamadas riads, os visitantes passam pelo jardim, assinado pelo paisagista espanhol Luis Vallejo, que se inspirou nos hortos tradicionais de Marrakech ao distribuir oliveiras, palmeiras e tamareiras por cerca de 15 mil m2. Na cobertura, com vista para o horizonte, o terraço traz confortáveis espreguiçadeiras e guarda-sóis para o descanso e uma pequena, mas deliciosa, piscina.
As instalações maiores possuem salas para o hammam. Conhecido também como banho turco, ele é um ritual de relaxamento e de purificação que combina esfoliação com sabão preto, vapores perfumados, água morna e piscina para revitalizar o corpo. O tratamento pode se estender por até 120 minutos.
Para a empresária brasileira Adriana Bittencourt, moradora da região há 14 anos, trata-se de um dos melhores spas do mundo. “É tudo reservado, exclusivo, feito para você. Quem experimenta se sente uma rainha.” Ela explica que o Royal Mansour foi construído pelo rei Mohammed VI para receber turistas do mundo inteiro, sobretudo do Catar, da Arábia Saudita e dos Emirados Árabes, que apreciam esse tipo de atendimento.
Não à toa, de acordo com representantes da Delegação Oficial de Turismo de Marrocos, mais de 45 mil brasileiros visitaram o país em 2017 – um aumento de 35% em relação ao ano anterior.
ESTRUTURAS LENDÁRIAS
Antenado com tradições marroquinas, o La Mamounia transpira intensidade. O que começou como um oásis protegido pelas muralhas de Marrakech no século 12 foi convertido em hotel-palácio pelo príncipe Al Mamoun e inaugurado em 1923.
A construção, que une os estilos árabe-andaluz e art déco, revela corredores entrelaçados pela beleza dos azulejos zelliges, de tons azuis, verdes e laranja, e pelas tramas dos arabescos esculpidos a mão, numa expressão máxima de elegância.
Tamanho charme despertou a atenção das celebridades, caso do diretor e ator britânico Charles Chaplin e da cantora francesa Edith Piaf. Alguns políticos encorparam a lista, do ex-presidente francês Charles de Gaulle ao ex-primeiro-ministro do Reino Unido sir Winston Churchill, que de tão assíduo acabou dando nome ao bar de jazz, chamado posteriormente de Le Churchill. Adriana recorda que se encantou com o espaço desde a primeira vez que esteve lá. “Íamos à boate, onde agora é o spa, e depois passávamos para o after hour no bar. A atmosfera, posso garantir, continua ótima.”
Hora de seguir adiante e conhecer a praça Jemaa el-Fna, cercada por encantadores de cobras e por vendedores de flores, barracas de sucos e de comida típica marroquina. Depois do entardecer, artistas e músicos se apresentam para aqueles que estão passeando ou apenas experimentando o tajine, um ensopado que leva carne e legumes. Um ponto obrigatório é o Herboriste du Paradis, tido como um paraíso da fitoterapia, que inclui em seu rol de itens temperos e chás de ervas, além de essências, óleos, cremes e o famoso sabão preto para o hammam.
O passeio de camelo no deserto ao pôr do sol, preparado pela Inara Camp, foi um dos pontos altos da viagem, seguido de apresentação de dança e de um típico jantar marroquino em uma das dez charmosas tendas.
INOVAÇÃO ANCESTRAL
Inaugurado em 2015 e localizado a dez minutos da Medina, o Mandarin Oriental é composto por 54 vilas e nove suítes. Para chegar a cada uma delas é preciso pegar uma carona ou ir de bicicleta. No meio do caminho, cenas mágicas e uma experiência sensorial encantadora, composta de rosas e outras plantas perfumadas.
Mais novo dos três complexos, o Mandarin Oriental integra a rede de hotéis e resorts Mandarin, inaugurada em Hong Kong no ano de 1963. Com 38 unidades, presentes em 21 países, incluindo a de Marrakech, aberta há três anos, o grupo se orgulha de investir no luxo superestrelado. A sede marroquina está localizada a dez minutos da Medina e tem as montanhas Atlas ao fundo.
A beleza, aliás, encontra morada em outro trecho do empreendimento. Literalmente. Com foco na terapia holística e no rejuvenescimento, o projeto do spa foi inspirado nas catedrais e nas mesquitas da comunidade espanhola de Andaluzia, repleto de sofisticados corredores revestidos de tijolos vermelhos.
Antes de partir, prove os sabores do Mandarin descritos pela culinária marroquina do Mes’Lalla, pelos pratos do chinês Ling Ling, chancelado pela marca de restaurantes Hakkasan, e pelo menu internacional do Le Salon Berbère. “Por lá, cada receita é uma experiência singular, a horta é biológica e os alimentos são 100% naturais”, indica Adriana. Fechando a conta, no Pool Garden tem-se um visual ao ar livre que amplia todos os prazeres à mesa. É, como diz a expressão, de comer com os olhos.
Dica importante: Para realmente conhecer Marrakech, o serviço de um guia é fundamental. Nessa viagem, todos os detalhes e roteiros foram organizados pela Maroc Luxury Travel. Meu inquieto e filósofo guia Hatim foi fundamental para tornar a viagem fascinante.