Provença e Riviera Francesa: rotas de acolhimento e tranquilidade
Seja no encanto campesino da Provença ou na delicadeza intimista da Riviera Francesa, essas rotas da Europa deixam claro que viver está em acolher a tranquilidade
Seja no encanto campesino da Provença ou na delicadeza intimista da Riviera Francesa, essas rotas da Europa deixam claro que viver está em acolher a tranquilidade. Confira!
Provença tem um ritmo próprio, quase em câmera lenta. Quadro a quadro, os movimentos suaves desse paraíso do sul da França revelam vilarejos, castelos, ciprestes, olivais e as praias da Côte d’Azur e dos Alpes. Destacados pelo clima ensolarado do verão e pelos ares do Mar Mediterrâneo, os piqueniques, os passeios de bicicleta e o aperol – aperitivo feito de laranja, genciana, ruibarbo e quinquina – são aproveitados por moradores e por turistas, que saboreiam sem cerimônia os pratos típicos e os vinhos desenvolvidos por produtores locais. Em minha passagem pela área, estive em quatro dos hotéis do grupo Beaumier, os três primeiros na região da Provença e o último na Riviera. Todos com a filosofia de criar experiências e estimular os hóspedes a aproveitarem a natureza e a cultura da região.
Em uma casa de campo provençal do século 18 está o Le Galinier, o ponto de partida de minha viagem, um verdadeiro cenário de conto de fadas. O terreno de três hectares localizado na vila de Lourmarin, conhecida como uma das mais belas aldeias da França, próxima da cadeia de montanhas de Luberon, tem jardim de flores e de árvores centenárias, uma convidativa piscina cercada por espreguiçadeiras, pequenos lagos e jardins coloridos e perfumados entre bancos escondidos entre as trepadeiras. Cada um dos ambientes teve a decoração escolhida para que se tenha a sensação de estar em casa e na companhia dos amigos. Ao chegar fui recebida de braços abertos pela anfitriã que logo me conduziu casa adentro. De um lado a sala de estar e do outro uma charmosa cozinha aberta envolta por uma grande mesa de madeira decorada com candelabros e vasos floridos. Os quartos, intimistas e delicados, possuem uma estética chique. Cada um dos ambientes teve a decoração escolhida para que se tenha a sensação de estar em casa e na companhia dos amigos. Foi ao lado deles que provei as receitas preparadas pela chef francesa Minou Sabahi, especialista no uso natural dos alimentos e de flores comestíveis. O jantar foi à luz de velas no jardim na frente do casarão, entre a brisa fresca e a lua cheia me deliciei com os bolinhos de flor de abobrinha e recheio de ricota, salsinha, alho e raspas de limão, servidos com azeite de manjericão, sabayon e salada de abobrinha crua. O creme de berinjela com tomate, alho confitado, pães crocantes de azeitona e cerejas marinadas com coentro, entre outros pratos, foram harmonizados com os melhores vinhos da região.
Depois, segui para o Le Moulin, distante cinco minutos do Galinier. No coração do mesmo vilarejo, o antigo moinho de azeite do século 18 foi transformado em um hotel butique de luxo e exclusivo, preparado para receber com autenticidade, mantendo as características originais da construção, interior moderno e refrescante, repleto de livros, cadeiras de vime e p pôsteres de Picasso que enfeitam as paredes. A fachada de pedras cercada por tílias, cujas árvores presentes por toda a Provença são apreciadas por herbalistas em razão de seus benefícios calmantes e cicatrizantes, guarda um visual antigo e romântico, que fica ainda mais interessante com as mesas e as cadeiras dispostas na calçada, próximas da porta de entrada. Portões secretos me levaram à piscina, pequena, mas proporcional ao tamanho do hotel que se orgulha de estar dentro do coração pulsante da vila de Lourmarin. Os 35 dormitórios contam com dimensões diversas, entre 16 e 56 metros quadrados, e foram revestidos com painéis de gesso bruto, azulejos de terracota e detalhes de sisal. Junto à lareira, no salão de hóspedes, nos terraços ou no pátio, em qualquer estação do ano, todo o conjunto é ideal para aproveitar a tranquilidade dessa aldeia francesa contemporânea.
Em uma dessas tardes almocei, e me joguei pelas ruas de paralelepípedo da vila cor de mel, me perdi entre as pequenas praças charmosas, galerias de arte e cafés, em um deles me sentei e degustei com os moradores locais um delicioso pastis – um drinque local à base de anis, açúcar e alcaçuz. Uma aventura guiada foi a pedida do dia seguinte ao lado da adorável Géraldine Coureaud, também chamada de Madame Voyage, que me levou a campos de lavanda e de papoula e em uma incursão pelo Château Turcan, celebrado pelas vinhas belíssimas que se abrem por 150 mil metros quadrados e pelas gerações de enólogos que vêm desenvolvendo rótulos de alta qualidade há mais de um século com o cultivo sustentável da uva. Parte dessa história, por sinal, está à disposição dos visitantes que desejam conhecer o Le Musée Des Arts Et Des Metiers Du Vin, organizado em uma estrutura de 1.300 metros quadrados e acervo de 3 mil peças, dentre as quais veem-se prensas de até 17 toneladas que datam do fim da Idade Média, ferramentas do século 18 e equipamentos utilizados para aprimorar o produto final, como multímetros, microscópios e ebuliômetros. Outro programa delicioso é ir de bike conhecer o Castelo de Lourmarin, e, em um dos seus jardins, fazer um piquenique embaixo de suas árvores centenárias.
No último endereço da rede Beaumier na Provença, em um trecho formidável da comuna de Bonnieux, está outro hotel da rede chamado de Capelongue, onde seus horizontes de natureza são preenchidos por abetos, musgos e prados estendidos até onde a vista alcança. Como meus anfitriões lembraram, o passado agrícola desse endereço deixou de herança as árvores frutíferas e as demais espécies, caso do plátano, da tamargueira e do carvalho, que conferem mais suntuosidade aos jardins até os dias de hoje. Caminhar pelas alamedas é uma festa para o olfato, frequentemente despertado pelo aroma do alecrim, das amendoeiras e dos jasmins.
OS MOVIMENTOS SUAVES DESSE paraíso DO sul da França REVELAM VILAREJOS, CASTELOS, CIPRESTES, OLIVAIS E AS PRAIAS DA Côte d’Azur E DOS Alpes.
Aproveitei minha visita por lá e jantei no restaurante da casa, o La Bastide, dono de uma estrela do guia Michelin, publicação que avalia os melhores hotéis e restaurantes do mundo por sua excelência gastronômica e de serviço. Tive o privilégio de me deliciar com as sugestões vegetarianas e com a seleção dos vinhos. Protegida pela sombra de árvores centenárias pude degustar ervilhas e couve-flor cremosa com ruibarbo; aspargos Mallemort com risoto e emulsão de sálvia; e aipo crocante com trufa negra e molho blanquette de legumes.
Saindo da Provença com destino à Riviera Francesa, na comuna de Saint-Raphäel, entrei no Les Roches Rouges, esse maciço branco que deixa de lado o estilo casa de campo para abraçar de vez o charme costeiro de Cannes, de Saint- -Tropez e do Mediterrâneo. Projetado durante a década de 1950 e reaberto em 2017, o edifício de linhas modernistas recorre às paletas claras também no interior dos 44 quartos, entrecortadas por móveis, obras de arte e peças de decoração de cores quentes e vibrantes, em tons de laranja, ocre, azul-celeste e amarelo-limão, celebrando, aliás, a geografia do balneário, um cenário ideal para se reconectar com o essencial e com a natureza. A luz natural é um elemento à parte, que mostra muito mais desse paraíso litorâneo e serve de abrigo para a leitura da tarde na varanda, para os banhos de sol e para os passeios de barco que contornam a costa de Esterel e navegam por Corniche d’Or e por Ile d’Or. Por lá, sempre as três cores – ocre, azul e branco – fazem uma delicada homenagem ao mar do sul da França e a luz do sol e as rochas vermelhas do entorno.
O cuidado com o bem-estar é igualmente estimulado nas aulas de ioga, partidas de petanca, modalidade esportiva próxima da bocha, massagens ao ar livre e no mergulho na piscina de água salgada escavada dentro de um rochedo – pode ser o som das ondas e das gaivotas, o cheiro da maresia, o contato da pele com os sais minerais, ou mesmo a impressão de que se está em um pedaço do mar feito somente para você, mas a sensação que fica ao fim dessa experiência é de relaxamento, como se toda a sua energia tivesse sido trocada. Para aqueles que preferem uma atividade mais intensa é possível exercitar o corpo na outra piscina, fazer trilhas, andar de caiaque ou praticar mountain bike, mas em minha opinião achei que a atmosfera do hotel quase incentiva o hóspede a realmente não fazer nada, e simplesmente relaxar. Organizados pelo chef José Bailly, os almoços e os jantares do restaurante La Plage têm um ritmo simples e atemporal, em que tudo parece fazer parte de uma dança, dos sabores que se completam ao atendimento dos garçons. Já no Récif, os peixes e os mariscos frescos trazidos por pescadores do entorno são realçados pela combinação de temperos da cozinha contemporânea, fechando com maestria esses dias de descoberta por alguns dos recantos mais deslumbrantes da França.