Sallisa Rosa expõe Topografia da Memória na Galeria Praça, São Paulo
Para mergulhar mais fundo no rico universo de Sallisa Rosa, conversamos com ela sobre suas inspirações, referências e sobre a Topografia da memória
O ato de trabalhar a terra, retirada diretamente da natureza, com toda a memória que ela traz, e transformá-la em arte utilizando as próprias mãos e histórias.
Este é o ponto de partida de Topografia da memória, instalação criada pela artista plástica brasileira Sallisa Rosa, exposta na Galeria Praça, na Pina Contemporânea, em São Paulo. Natural de Goiás, ela vive e trabalha no Rio de Janeiro, e atualmente está fazendo residência artística na Rijksakademie, em Amsterdã. Usa a arte como caminho a partir de experiências intuitivas ligadas à ficção, ao território e à natureza. Tem interesse especial na criação de instalações de grandes formatos em espaços públicos e institucionais, utilizando como matéria-prima a terra em diversas materialidades, como plantio, barro e cerâmica. Topografia conta com mais de 100 peças de argila moldadas à mão, refletindo uma paisagem imaginária. A montagem revela o interesse da artista em criar espaços imersivos que acolhem o silêncio em meio ao caos da metrópole.
O curador da mostra, Thiago de Paula Souza, explica: “Em Topografia da memória, Rosa desenvolve a noção de ‘programação da memória’. Cada uma das esculturas é uma expressão única das memórias de Rosa. A instalação espelha um ambiente subterrâneo, banhado por luzes em tons terrosos, onde os visitantes encontram interações entre as histórias gravadas nos objetos de cerâmica e as memórias incorporadas em cada grão de solo dentro da obra”. As criações de Sallisa já reverberam para além das fronteiras brasileiras. Ela teve sua primeira exposição individual no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro em 2021. A partir daí, seu trabalho foi incluído em coletivas na SNAP, em Xangai (2023); no Visual Arts Center, no Texas (2022); no Théâtre de L'Usine, em Genebra (2022); e na Royal Academy of Arts, em Londres (2021).
Para mergulhar mais fundo no rico universo de Sallisa Rosa, conversamos com ela sobre suas inspirações, referências e sobre a Topografia da memória, instalação em destaque na Pina Contemporânea até 27 de julho.
L'OFFICIEL Como surgiu e qual foi a inspiração para essa instalação?
Sallisa Rosa Foi um trabalho com muitas etapas, bem longo. A começar pela coleta do material diretamente na natureza. Nunca comprei argila em uma loja. No caso da Topografia da memória foi na região de Itaboraí, no Rio de Janeiro. É difícil trabalhar com esse material porque vem com muita pedrinha, matéria orgânica, lixo. A queima foi feita à lenha, o que envolve também coletar os galhos, e o processo leva três dias. Todas as peças foram moldadas à mão, na técnica acordelado. São mais de 100 obras. Tem totens que saem do chão, com referência à estalagmite, que tem de 40 cm a 1,20 m de altura, e esferas que ficam flutuando e medem de 10 a 60 cm de diâmetro. Ficamos o ano de 2023 inteiro trabalhando nessa instalação que é uma continuação da minha pesquisa sobre memória. Já tinha mostrado um pouco dela no MAM Rio. A instalação compõe uma paisagem fictícia. Enquanto moldava as peças, intencionei, reprogramei e enviei memórias para essa argila. Com a queima, elas foram cristalizadas e transformadas em cerâmica. A terra é a protagonista e a mediadora dessa instalação.
L'O De que forma Topografia da memória está ligada a suas experiências de vida e à cultura do Brasil?
SR Minha produção artística é atravessada por minha história, localização geográfica, contexto, geração, etc. Ao mesmo tempo, prefiro ter um cuidado sobre representação. Ainda que minha obra tenha esses atravessamentos, não posso representar além da minha própria singularidade e subjetividade.
L'O Atualmente, você está vivendo fora do Brasil. Como está sendo essa experiência?
SR Estou fazendo uma residência artística em Amsterdã. Tem sido um desafio para mim o processo de adaptação aqui, mas é interessante essa distância do meu contexto. Tenho aprendido bastante. Também estou aproveitando esse período para focar e aprofundar mais nas minhas pesquisas e processos artísticos.