Dulce María: uma entrevista com a atriz buena-onda e sem rótulos
Dulce María é a nossa convidada especial para a entrevista de estreia do nosso segundo ano da nossa série "Parle L’Officiel". Mãe de primeira viagem ao mesmo tempo que dá seus primeiros passos como artista independente, a cantora e atriz mexicana contou tudo sobre este novo momento de vida e carreira. E você pode conferir a conversa aqui em texto e vídeo.
Na minha carreira como repórter, já entrevistei diversas grandes celebridades. Mas uma coisa que chama a atenção sobre Dulce María é o carinho e a lealdade que seus fãs demonstram sempre. Qualquer menção sobre ela na internet resulta em uma chuva de amor. E isso, claro, não é à toa. Na uma hora que passei com Dulce dentro e fora da gravação, posso dizer que é uma das pessoas mais simpáticas e verdadeiras que eu já conheci.
Começou sua carreira quando pequena, assim como as irmãs que volta e meia também faziam comerciais e novelas, sempre acompanhadas da mãe para os testes e trabalhos. “Não me dava conta que era de fato uma carreira, achava que era algo que estava fazendo e que eventualmente teria uma carreira ‘normal’. E aí percebi que não, que realmente poderia fazer disso a minha vida”, lembra Dulce, “foi realmente aos 15 anos, quando entrei no grupo Jeans, que entendi que eu estava me dedicando a isso, que era o que me dava acesso, dinheiro e trabalho. Era algo a ser levado a sério”.
Conquistou sua fama internacional por interpretar Roberta Pardo Rey na novela Rebelde que se tornou uma febre entre adolescentes no mundo todo em 2004. Na época, já tinha quase 15 anos de carreira, o que a ajudou a lidar de uma forma saudável com a grande exposição que surgiu de um dia para o outro.“Ninguém me deu nada de presente. Já trabalhava desde os 5 anos, então eu valorizava todas as coisas boas que aconteciam para mim. Cada concerto, cada conquista, todo este boom que surgiu com Rebelde, eu sei o valor que isso tem. Mas, claro, nunca é normal. Não era fácil assimilar o que se passava. Porque ao mesmo tempo, eu estava trabalhando todos os dias na novela e nos finais de semana com o grupo musical. Não tinha tempo para processar nada. Estávamos em inércia para seguir em frente. Acho que só consegui digerir tudo que vivemos quando acabou”, lembra.
Foi graças ao sucesso da série que pela primeira vez pôde cruzar fronteiras com o seu trabalho, sendo o Brasil, foi o primeiro país em que se apresentou onde o público não falava espanhol, “me apaixonei”. De todas as experiências, ela destaca a visita a uma churrascaria em Porto-Alegre como uma de suas favoritas (o que deixo aqui destacado, pois é minha responsabilidade como gaucha). Mas de fato, o que realmente surpreendeu Dulce foi o carinho do público que recebeu durante sua visita. “Chegar a tantos países e ver que no final, todos se conectam com as mesmas emoções, seja amor, desilusão, solidão, com a rebeldia ou com a ideia de lutar pelos sonhos. Sem importar com a cultura ou país todos nos conectamos com isso. Para mim, isso foi algo muito bonito”, reflete.
A relação com o público é algo que sempre a motivou, “porque você consegue chegar em alguém, tocar corações e de alguma forma ajudar e contribuir para a vida deles”. Ela também se beneficia da troca “há anjos que chegaram em minha vida para mudá-la… sempre houveram pessoas que me marcaram na mente ou no coração pelas suas histórias que chegavam a mim”. Quando Rebelde estava em seu auge, o contato com os fãs não era fácil, Dulce recebia cartas e trocava histórias com seus admiradores quando os encontrava em shows. Com o passar dos anos, as redes sociais permitiram a ela “reconectar com gente que sempre me apoiou muito. Que hoje tem profissões e trabalhos diferentes e vivem em diferentes partes do mundo. Mas que cresceram comigo e acompanharam minha carreira”.
No entanto, há desafios únicos na relação com o público durante a longa carreira. “Obviamente, não sou a mesma pessoa de quando tinha 18 anos, agora que tenho 36. Já se passaram 18 anos. Eu mudei, evolui e essa é a ideia. Há pessoas que esperam que você seja a mesma que era naquela época, o que seria terrível”, explica. Da mesma forma que alguns fãs acompanharam suas mudanças e seguem com ela até hoje, “há pessoas que a gente perde no caminho, como também acontece com as nossas amizades. A gente cresce e às vezes os caminhos se separam. Pode ser que um dia voltamos a nos encontrar no caminho”, reflete.
Uma das principais mudanças em sua carreira foi se desvincular de qualquer grande estúdio para lançar o álbum Origen de forma independente, o que lhe deu liberdade sair do estilo estabelecido por Rebelde e criar do seu jeito sem a pressão por resultados comerciais, “levo na minha música parte das minhas raizes e tradições, da minha cultura”. Dulce Maria ainda tem dificuldade de se ver como uma representante do México para o mundo. Por sorte, tem um forte exemplo dentro da própria família, a artista Frida Kahlo é sua tia-avó. “Ela simplesmente era. Sem se auto-rotular, era autêntica. E isso é o que eu tento resgatar. O transformar a dor, os medos e os desafios em arte”.
Kahlo se tornou um forte exemplo da cultura mexicana e também é um símbolo feminista. E Dulce María acaba levando as duas bandeiras também em uma versão mais pop e com suavidade. Para ela, “Nós [mulheres] podemos ser qualquer coisa, ser livres e ser felizes. Mas isso sem um discurso de ódio, sem rótulos e sem machucar ninguém. A ideia é empoderar para que você seja você mesma. E tenha liberdade para fazer o que faz você feliz”.
Além de poder levar as suas mensagens e dar a sua cara ao projeto, a música também permitiu que ela tenha mais controle do seu tempo, algo que se tornou muito importante no início de 2020, quando descobriu que estava grávida da filha Maria Paula um mês após o começo da pandemia, “a minha vida mudou, pela pandemia e pela bebê, porque foi tudo ao mesmo tempo”, lembra, “é uma experiência única. Vemos de fora como algo tão normal, mas é uma conquista que nunca poderia ter no meu trabalho. Não sei, é um amor imenso. Faz com que você possa, não sei se mover montanhas, mas muda completamente as suas prioridades”.
As gravações em estúdio a permitiram estar mais em casa sem perder o espaço para criar e colaborar com outros artistas. Na nova fase, Dulce María participou de gravações com Priscilla Alcântara, Rebecca e até se aventurou no funk brasileiro junto a Kevin O Chris. Porém, a que guarda com mais carinho é a participação de Marília Mendonça em Origen. Na nossa entrevista em vídeo você pode ouvir todas essas histórias.
Mesmo mantendo-se ativa, Dulce María, explica que sua gravidez foi um momento muito difícil, por isso aprendeu a não romantizar nem a gravidez nem a maternidade, “cada mulher é diferente. É muito duro julgar uma mulher grávida. Ou dar como fato: mas a fulana cantava até uns oito meses de gravidez. Eu não conseguia fazer nada. Estava paralisada. Tinha medo pelo bebê. Será que eu sobrevivo ao parto? Sem contar a pandemia. Eram muitas questões”, destaca, “mas aprendi que não podia fugir, porque mais importante que tudo isso é o ser que está crescendo dentro de mim. Acho que a maternidade te dá um poder, uma força. Mesmo que você sinta que já não consegue mais, você pode, porque ali está o seu bebê que precisa de você”.
Este jeito pé no chão e humilde de Dulce são parte de sua essência. Ela acredita que isso vem de sua base como a criação, os limites e valores que aprendeu com a família. No entanto tem uma parte espiritual bastante forte, sua conexão com Deus é algo que lhe ajuda a entender que tudo é temporário "às vezes você vai estar por cima e as vezes por baixo e tudo passa. Por isso é importante ser empático, respeitoso, agradecido e educado como toda a humanidade e com todo mundo”.
Das lições que leva destes anos todos de carreira para a vida é “não acreditar nas coisas muito boas que te dizem nem nas coisas muito ruins. Porque também tem gente que te insulta e te diz coisas que também podem afetar a sua vida”. Também destaca “ninguém é perfeito. Eu também me irrito, também estou aprendendo a colocar limites. Porque às vezes por ser buena onda (flexível) passam por cima de você, o que não é legal. Você tem que ter amor próprio, mas também ser humilde. Isso tudo, acho vem das pessoas que estão a sua volta e dos seus valores, sua formação e de sua fé”.