Letícia Spiller revela em entrevista: "[Atuar] é a profissão da doação"
Todo mundo conhece Letícia Spiller. Bom, pelo menos isso era o que eu pensava antes de passar uma hora conversando com ela para o nosso Parle L’Officiel. Mas já nos primeiros momentos, percebi que, apesar de termos a acompanhado nas telas e nos palcos por décadas, o que todo mundo conhece, na verdade, é apenas uma versão de Letícia Spiller. Há muito mais do que suas personagens e o que podemos assisti-la em entrevistas. “A Letícia é uma das pessoas que tem amor envolvido”, a frase eu roubei descaradamente da pessoa que nos apresentou - e é a mais pura verdade. Eu, sinceramente, espero fazer jus ao seu jeito e suas palavras neste texto, mas como sempre deixamos o vídeo para quem quer ouvir diretamente dela.
A beleza e talento, só são superados pela simpatia e energia única, perceptível até mesmo pela chamada em vídeo dando a sensação que nos conhecíamos há anos. E mais do que isso, a forma que fala de seus trabalhos e suas causas é realmente inspiradora. Há propósito e amor em praticamente tudo que faz. “Eu quero tocar o público de alguma maneira. Quero sensibilizar uma causa ou uma questão artisticamente. Porque eu acredito que arte não é palanque. Acho que através da arte a gente chega muito mais rápido às mensagens que a gente quer trazer”, explica.
Após quase 30 anos e contrato com a Rede Globo encerrado, Letícia se encontra em um novo momento de carreira. "Quando isso aconteceu, claro que eu fiquei um pouco emocionada. São muitos anos sendo abraçada e cuidada por uma empresa que eu acredito ser uma das melhores do Brasil e, porque não dizer, do mundo. Eu me orgulho de ter sido filha dessa casa. E me sinto assim ainda, sabe? Sinto que nós somos parceiros e vamos continuar essa parceria, independente de que caminhos eu for seguir agora”, conta. O novo momento é algo muito positivo, “atuo na TV, cinema, teatro. Produzo cinema e teatro. Então, isso para mim agora, ampliou. Vou poder escolher e dar prioridade a projetos, que já dava antes. Mas poderei colocá-los da minha maneira, na ordem que eu gostaria”.
Na televisão, teatro ou cinema, atuar para Letícia “é a profissão da disponibilidade. É uma grande doação”. Seja por emprestar suas emoções para contar uma história ou até passar por grandes transformações físicas que muitas vezes chocam o público. “Teve uma vez que eu raspei o cabelo com a navalha. Dessa vez foi até a família falando 'você tá louca', mas enfim, faz parte do nosso ofício…eu não me incomodo de fazer essa mudança, sabe. Mas tem que valer muito a pena”, explica.
Algumas são tão extremas que assustam até ela mesma, como foi o caso de Maura, no filme Tudo que Deus Criou, baseado em fatos reais. “É o filme mais humano que eu já fiz, com a estética realista mesmo. Não tinha nenhum glamour. Não tinha maquiagens, só uma lente de contato branca, porque ela era deficiente visual de nascença”, lembra, “foi a primeira vez que eu achei que eu estava esteticamente feia”.
A sua relação com as personagens é “um grande exercício de desapego”, ao mesmo tempo que está presente quando tem que atuar, sabe deixá-las no trabalho no final do expediente, “não levo o personagem para a cama, como diz Lulu Santos”, brinca. No entanto, o público muitas vezes não consegue separar tão facilmente, e nestes anos todos algumas se destacam mais do que outras, como sua personagem da novela Quatro por Quatro “tem gente que até hoje me chama de Babalu nas redes sociais ou na rua. É muito engraçado. Que bom que é ela e não a Maria Regina (de Suave Veneno)”, ri.
Outra personagem lembrada e amada por toda uma geração de baixinhos é a paquita, Pituxa Pastel. “Tudo o que eu vivi nesse tempo, eu nunca imaginei que pudesse viver”, comenta. O sucesso das paquitas, separado do Xou da Xuxa, foi algo totalmente inesperado. "A experiência de trabalho com a Xuxa e a Marlene naquela época, foi incrível, apesar de difícil. Porque eu era uma adolescente e queria fazer teatro com meus amigos, com a minha trupe. Queria namorar. Queria viver uma vida de adolescente. No entanto, eu tinha que trabalhar muito”. Letícia confessa que os primeiros meses foram tão puxados que ela se questionou muito e chegou a pensar em desistir algumas vezes.
Mas não poupa elogios sobre a eterna rainha dos baixinhos, “pude ter o melhor exemplo que eu poderia ter, quando eu era uma menina, sabe? Um exemplo digno. Uma mulher como ela, com simplicidade dela, a educação. A preocupação com o público. A consideração. A Xuxa sempre foi assim. Foi uma lição para mim. Eu fico até emocionada de falar dela, assim, porque ela me mostrou muitas coisas que eu gostaria de mostrar para a minha filha”.
O papel foi o primeiro passo de uma profissão que ela já sabia que queria seguir desde os 12 anos de idade. Em um sábado à tarde enquanto assistia televisão ouvi a chamada para a seleção para paquitas, “tinha alguém do meu lado, não lembro bem quem era. Mas eu virei para a pessoa e falei sou eu”, lembra, “vou pedir para a Virginia (esposa de um primo que morava no prédio) tirar umas fotos minhas e vou levar lá pessoalmente. Porque eu moro aqui no Rio de Janeiro. Posso ir até lá entregar”. Foi selecionada e ao chegar no teatro logo se deparou com a realidade da, "não imagina que essa brincadeira fosse tão séria”, ri.
De paquita à estrela de televisão e cinema, Letícia viveu diferentes fases da vida profissional e pessoal em frente ao público e entende que a exposição e curiosidade de seus fãs faz parte da sua escolha de ser atriz, “a gente depende desse carinho. A gente depende dessa interação também. Não que minha vida pessoal tenha haver com qualquer pessoa. Não é isso. Mas simplesmente o fato de sentir respeito pelo meu público e querer dar o melhor de mim”, explica, “eles querem ver como é essa relação com os filhos. Como é a relação com o amor, como é que você lida com essas emoções. Faz parte”.
E ela aproveita esta atenção para trazer à tona diferentes causas e organizações que ela apoia, “a gente que é artista, pode fazer muito, né? Depois que a gente tem consciência dessa ferramenta. Acho que ela é eterna. Não vai parar nunca. Eu não vou parar nunca de doar a minha imagem em prol de uma causa que eu acredito e que é importante das pessoas conhecerem. Então, eu peço a todos que vão conhecer o trabalho do ACNUR (Agência de Refugiados da ONU), vão conhecer o trabalho da Rede Postinho também”, fala emocionada.
Para o futuro próximo, Letícia tem um desejo simples: "não quero deixar de ser feliz. Isso para mim é o mais importante. Poder estar exercendo o que eu gosto de fazer, poder estar dançando, poder estar cantando, poder estar com saúde para cuidar dos meus filhos, para acompanhar a trajetória deles. Porque a verdade é essa, né? A gente, a partir do momento que a gente tem um filho, a gente o importante são os outros”. Seu foco é em ter uma vida com hábitos saudáveis, podendo comer um brigadeiro aqui e ali. E destaca também a causa do meio ambiente e a importância de cuidarmos deste planeta, “Eu não quero ir pra Marte, sinto muito. Quero viver neste planeta maravilhoso. … Imagina ter que fazer teatro de roupa espacial”, brinca.
Como ela mesma disse na nossa conversa “assim, nunca ninguém vai saber inteiramente como é a Letícia, porque não dá, só convivendo comigo, só tendo dois dedinhos de prosa”, que foi o que fizemos. Mas claro, no vídeo há muitas outras histórias para que vocês também tenham a possibilidade de conhecer um pouco mais da maravilhosa e inspiradora Letícia Spiller.
E aqui estão os links para quem quer saber mais sobre as ONGS que Letícia Spiller comentou durante a entrevista.
https://www.acnur.org/portugues/
https://www.redepostinho.org.br/
https://institutopequenosanjos.com.br/
Créditos:
Leticia usa: Silvio Cruz Atelier, joalheria Sara, By Segheto, Birman e Powerlook
Foto: Guilherme Lima
Styling: Samantha Szczerb
Beleza: Walter Lobato
Vídeo: Karen Sanoviz