Envelhecimento feminino é o foco de novas plataformas simbióticas
Lobas! Debater o que muda no corpo, na forma de pensar e como a sociedade reage ao envelhecimento feminino é o propósito de um negócio fundado por e para mulheres. Batemos um papo com Camila Faus, Fernanda Guerreiro e Adriana Rocha sobre a SHE_Talks e a SHE_Treats, plataformas simbióticas para pessoas na perimenopausa e menopausa.
Os millennials chegam aos 40 anos. Com o ciclo da vida atingindo a idade dos “enta”, historicamente tão temida, é hora de encarar mudanças normais e significativas do corpo e da psique. Há o choque com o etarismo, por exemplo, estimulado em diversas frentes, como pela vontade da geração seguinte, os Zs, de se afastarem de seus genitores. Para minimizar os efeitos desse turbilhão de emoções, Camila Faus e Fernanda Guerreiro, agora com uma nova sócia, Adriana Rocha, alimentam uma plataforma de informação e, mais recentemente, de consumo, focadas nessa nova geração de mulheres maduras.
L’OFFICIEL: Como foi o processo de criação desse projeto guiado pela maturidade?
SHE_TALKS: A SHE_Talks nasceu da vontade de falar sobre assuntos relevantes e que, na época, quase ninguém abordava (cinco anos atrás). O gatilho se deu quando percebemos que entendíamos pouco sobre as mudanças que estavam ocorrendo em nosso corpo. Depois de três anos gerando conteúdo, pensamos no que, além da informação, seria útil para essa mulher madura tão negligenciada historicamente. Foi assim que SHE_Treats, uma plataforma de saúde e bem-estar, nasceu. A ideia foi desenvolver então um suplemento premium, um basicão nada básico, como costumamos classificar, para oferecer algo “na prática”, respondendo a uma pergunta em comum: “O que a gente gostaria que tivesse no mercado para nossa faixa etária e ainda não tem?”. Assim nasceu o 40+, com cápsulas que ajudam a dar energia, disposição, imunidade e saúde para ossos, cabelo, pele e unhas para mulheres maduras. O desenvolvimento foi guiado por uma equipe multidisciplinar e teve a consultoria técnica da Patricia Valentini, ginecologista e mastologista com experiência de mais de 15 anos.
L’O: O que muda na vida de uma mulher a partir dos 40 anos?
SHE_TALKS: Elas começam a sentir alguns sintomas estranhos e muitas não entendem de onde eles vêm. Outras não sabem da existência da fase de oscilação hormonal, que deixa a gente se sentindo “louca”. Há solidão. Pode aparecer a insônia e as variações de humor. Também percebemos, em frente ao espelho e de forma mais latente, os primeiros sinais do tempo passando, de que estamos envelhecendo, e aí o próprio etarismo em si começa a ficar, também, mais latente.
L’O: Quais lacunas na comunicação com essas mulheres mais maduras vocês perceberam para entrar no segmento?
SHE_TALKS: A mulher madura, apesar de a gente já ter evoluído muito, ainda é inviabilizada. É ainda tratada como uma mulher que precisa estar sempre jovem para poder estar no mercado de trabalho, atuante. Então, na verdade, tudo o que queremos é uma comunicação voltada para a gente, com soluções, produtos e serviços pensados para nós, o que ainda é uma lacuna gigante.
L’O: O que muda socialmente para a mulher madura?
SHE_TALKS: A questão social mais complicada para essa mulher madura é que, cada vez mais, ela vai perdendo a sensação de pertencimento quando entrega a idade. Por exemplo, uma mulher madura, solteira, que quer sair à noite, aonde vai? Começa a pensar se pode, se deve, o que vão falar a respeito. O social, infelizmente, continua muito voltado ao público mais jovem. As famosas frases etaristas respondem bem a essa pergunta. Temos “você não tem mais idade para isso”, “tal roupa não fica bem”, “está se achando menininha”, “poderia ser a mãe dele”, “ela não se enxerga”, “está fazendo papel de ridícula”, e por aí vai. Gradualmente, minam nossa vida em sociedade. Essas convenções são muito complicadas. Por exemplo, a mulher solteira, após certa idade, onde ela cabe? Também é importante ressaltar que, além do preconceito etário, há o de gênero, o social e também sobre a carreira daquela mulher.
L’O: As mulheres são negligenciadas quando param de ovular?
SHE_TALKS: Totalmente. A gente ainda vive muito nessa narrativa de que a mulher vem ao mundo para dar prazer ao outro, gerar vida e servir. Então, quando paramos de ovular e não servimos mais para “procriar”, vem uma pergunta meio que de inconsciente coletivo: para que serve essa mulher agora? Felizmente, essa nossa geração de mulheres de 50 anos já é uma geração que está revertendo isso, mas esses frutos provavelmente só vão ser colhidos, de fato, daqui a três gerações.
L’O: O que vocês acham que a mulher precisa fazer, ao longo da vida, para se planejar para o amadurecimento?
SHE_TALKS: A gente não é preparada para isso, até porque moramos em um país etarista, onde envelhecer é feio e errado. Então, para que quero pensar no envelhecer? Eu não quero chegar a esse lugar! Só que a outra opção é falecer, né? Então a gente tem, sim, que se perguntar o que a gente quer ser quando envelhecer. Pensar na questão financeira, de carreira, de mercado de trabalho, de saúde, sobre aposentadoria. E isso precisa ser muito bem planejado. Quanto antes isso ocorrer, melhor será a transição.
L’O: Do contato com as leitoras/consumidoras, quais são os principais medos das mulheres ao chegar aos “enta” (40, 50, 60)?
SHE_TALKS: Talvez o maior medo seja o de não se sentirem mais pertencentes. Medo de não pertencer mais ao mercado de trabalho, de não poder mais estar em um relacionamento, de não pertencer ao grupo de mulheres interessantes. É sobre o poder, é sobre a beleza. Que nova beleza é essa que vem e que não está associada à juventude? A gente precisa pensar nisso. E acho que, cada vez mais, a comunidade serve para sabermos que não estamos sozinhas nessa.