Guo Pei é pura fantasia fashionista!
Considerada a primeira couturier chinesa, Guo Pei ganha retrospectiva em museu de arte americano. Suas criações dialogam com obras clássicas em um sonho de moda real.
Para escrever sobre Guo Pei, o mais fácil seria falar do “vestido-omelete” usado por Rihanna no Met Gala que virou meme e viralizou em 2015. Porém nada redutor de seu talento e importância no universo da moda. Afinal, o tal vestido, que hoje vive na galeria do Google Images como uma imagem pequena e predominantemente amarela, começou a ser feito dois anos antes, num processo 100% artesanal que consumiu 50 mil horas. Mas a “primeira-costureira” da China, como é conhecida, é bem maior que esta lembrança pop. A ponto de conquistar, menos de uma década depois, uma das maiores vitrines dedicadas a uma estilista, e bem na mesmíssima terra do showbizz. Neste mês de abril, o Palácio da Legião de Honra da Califórnia, em San Francisco, nos Estados Unidos, recebe para a exposição Guo Pei: A Fantasia da Alta-Costura. Até setembro, a grandiosa mostra ocupará todas as alas e galerias do museu americano, um belíssimo prédio construído em 1924, à semelhança de seu homônimo em Paris. Componente dos Fine Arts Museums de San Francisco, que também administra o Young Museum, no edifício de inspiração neoclássica estão em exposição permanente obras de Rembrandt, Monet ou Rubens, bem como inúmeras esculturas de Rodin. É neste ambiente que estarão mais de 80 vestidos desenhados por Guo Pei nas últimas duas décadas. Além de destaques das coleções de moda mais importantes da estilista, desfiladas nas passarelas de Pequim e Paris, a mostra inclui também criações nunca antes exibidas ao público.
Assim, seus desenhos opulentos e intrincados serão expostos dialogando com objetos de arte do museu. É interessante notar como a ambientação de um palácio fantástico combina com as diferentes vertentes presentes na moda de Guo Pei – referências históricas e iconográficas materializadas pela designer em suas criações encontram eco nos objetos expostos ao redor. Um dos exemplos é o vestido “Phoenix”, da coleção Legend of the Dragon (2012), exibido no Salon Doré. Outro é o majestoso conjunto “Da Jin” (“Ouro Magnífico”) bordado em ouro, que brilhou na coleção Samsara (2006) e agora ocupa o centro das atenções no salão dedicado a obras de arte barroca e rococó francesas e italianas. Vestidos da coleção (2017), inspirados na Abadia de St Gall, na Suíça, estão situados entre os ícones de santos e figuras sacras expostas na galeria medieval. E várias peças das coleções Encounter e Courtyard (ambas de 2016) estão intercaladas nas galerias de pintura e artes decorativas francesas e britânicas.
Mas é descendo as escadas para visitar os pavilhões temáticos de sua obra que se conhece melhor esta nativa de Pequim, nascida em 1967, e formada em 1986 pela escola de desenho industrial da cidade. São sete os espaços onde se dividem as coleções e referências a seu trabalho. Além do que se vê nas passarelas, os visitantes conhecem aqui suas peças de figurino para teatro e cinema (Guo Pei desenhou os modelos do personagem Chang’e para o filme da Netflix, de 2020, A Caminho da Lua) e o mundo botânico abordado em duas coleções (Garden of Soul, de 2015, e Elysium, de 2018).
Também é possível ver detalhes da coleção inspirada nos trajes imperiais chineses, foco de sua coleção East Palace (2019), apresentada no Grand Palais de Tóquio em Paris. E ainda das últimas coleções Himalaia (alta-costura primavera-verão 2020) e Universo Alternativo (2019- 2020). Como curiosidade, um destes pavilhões é dedicado a obras de ateliê, no qual é possível conhecer o trabalho dedicado dos artesãos habilidosos em técnicas ancestrais que ela emprega em suas intrincadas criações. Se estiver na Costa Oeste entre 16 de abril e 5 de setembro, planeje este passeio em que a arte da moda transforma o palácio das belas-artes numa fantasia fashionista em escala real.
