Ligações perigosas: entrevistamos os atores do clássico romance
A L’Officiel conversou com exclusividade com a dupla de atores para saber um pouco mais sobre a série
Ligações Perigosas é a nova série que todos deveriam estar assistindo - e digo isso sem exageros. De romance, vingança e muitos jogos de manipulação e sedução, a produção que estreou na Lionsgate+ no dia 06 de novembro, a cada episódio semanal, envolve e aguça a curiosidade do público.
Não é apenas uma coincidência que o título lhe pareça familiar, afinal, trata-se de uma história clássica que já serviu de inspiração para tantas outras produções, o romance de Pierre Choderlos de Laclos publicado em 1782, Les Liaisons Dangereuses. Nos anos 1980, a obra inspirou uma peça de teatro e um grande filme estrelado por Glenn Close e John Malkovich. No entanto, a nova adaptação propõe-se a não retratar o que já foi feito previamente, mas sim explorar a origem dos personagens de Valmont e a Marquesa de Merteuil - neste caso, chamada de Camille.
A série conta com um elenco de apoio de peso, entre eles Lesley Manville, Carice Van Houten, Michael McElhatton e a cantora Paloma Faith. No entanto, os atores que estrelam como Camille e Valmont são relativamente caras novas, Alice Englert e Nicholas Denton.
A L’Officiel conversou com exclusividade com a dupla de atores para saber um pouco mais sobre a série:
Essa é a primeira vez que a obra é adaptada para a televisão. Como foi trabalhar esta narrativa em um formato de série?
Nicholas Denton (ND): O que é ótimo deste formato é que a gente pode explorar esse prelúdio à obra original. São estes pontos de trauma que eles passam, ou a toxicidade que acaba tornando eles naquelas pessoas que a gente conhece bem do livro de Laclos ou do filme de Stephen Frears e a peça de Stephen Hampton.
Alice Englert (AE): Eu adoro isso, porque a gente sente que este é o momento que eles estão criando quem eles serão, então a gente consegue fazer isso também como atores criando os personagens.
O mais interessante da série é que não há ninguém que é herói ou vilão completamente. Como foi para vocês criarem seus personagens com todo este espectro e nuança?
AE: Além de amar o material em si, e suas várias versões, eu realmente me sinto afetada pela história, sempre ressoou comigo. Eu penso no podcast da Lena Duham e Alissa Bennet chamado The C-Word, em que elas desconstroem as fofocas sobre mulheres que foram chamadas de loucas. Sem desculpas nem nada, apenas a complexidade da vida. E eu amo histórias de mulheres que se comportam mal, então este foi o papel da vida, sabe? É como poder ter compaixão sem ter a restrição de ser querida no final. Eu gosto da Camille.
ND: Eu amo a Camille. E nós sabemos onde esses personagens acabam. O que achei interessante é o porquê eles são do jeito que são. Nós, como sociedade, somos fascinados com dramas de crime, assassinatos e tal. É curiosidade de entender como alguém que comete isso se torna assim. O que me dá esperanças é que queremos achar algo de bom em alguém que é ruim. Então como ator, eu sempre penso “eu sei que posso achar alguma coisa boa ali. Tem que ter”. E isso pode ser explorado conforme vamos andando na temporada.
Há uma frase icônica no primeiro episódio que é quase uma profecia: O seu amor vai se tornar o seu inimigo. Como foi atuar nesta dinâmica de amor e ódio?
AE: Foi extremamente divertido.
ND: O legal é que você não tem como saber para que lado vai, porque tudo pode ser interpretado das duas formas. Então a gente conseguia fazer várias coisas diferentes, porque há muitos elementos manipuladores e sedutores, de alguma forma.
AE: E na vida real, eu me sinto muito confortável com o Nicholas. Sei que estou segura com ele, o que nos permite ir mais profundamente e de uma forma mais louca com os personagens. Sinto que posso ser realmente má com ele em cena.
ND: A Alice é uma pessoa maravilhosa e também é uma excelente atriz. Aconteceu em várias cenas, quando ela faz algo muito maldoso e eu na hora fiquei meio chocado, mas também acho que é a coisa mais incrível que já vi. Lembro uma vez, quando terminamos de gravar uma cena, eu disse “nossa, essa foi forte. O que aconteceu?” e ela me respondeu “nem ideia”, como a coisa mais normal.
Outro ponto que devemos falar é sobre o figurino e maquiagem, que são perfeitos. O que mais surpreendeu vocês nesse sentido?
AE: Há um momento na história que eu tenho que usar o figurino de outra pessoa, e isso foi muito divertido. Porque realmente é quase supernatural. Acho que é a mesma coisa de fazer uma fantasia ou ficção científica. Porque o que vestimos informa quem o personagem é. Você tem que encontrar uma forma de ser natural por dentro para poder movimentar toda essa fortaleza que é construída por fora. Eu realmente amei a transformação.
ND: O comediante Bill Nye uma vez disse que deve-se encontrar a casualidade para atravessar da realidade para a cena. E isso é super difícil quase se está usando umas 20 camadas de roupa e maquiagem. E para mim, é aquela maquiagem branca, aquela grande peruca cor-de-rosa-morango-
AE: Ou reclamou. E acho que eles buscaram pessoas para o elenco que estavam no mesmo sentimento, de encontrar um pulso real na história. O que é muito divertido fazer.
E isso é importante para manter a tensão na história, pois os figurinos chegam a beirar o ridículo em algumas cenas. Foi difícil manter a seriedade nestas cenas?
AE: Eu acho que isso traz o senso de humor que a série precisa também. Aquela época era muito trágica, então você tem que levar o humor para o seu personagem também. Acho que essa fluidez contribui para deixar tudo mais sexy e emocionante.
E o que vocês aprenderam com os seus personagens?
ND: Aprendi até que ponto as pessoas vão quando tudo é tirado delas.
AE: Eu aprendi o quanto a dor pode cegar você. Você quer acreditar que ela vai fazer com que você tenha mais empatia pelas pessoas ao seu redor, mas às vezes a dor é tanta que realmente anula a sua capacidade de ver que estas pessoas estão sofrendo também. A gente vê mais na relação entre eles dois, mas também isso aparece na relação entre Camille e Victorie interpretada pela impecável Kosar Ali. E a gente gosta muito de explorar o amor e desgosto em um contexto de amizade também. Isso é tão importante. Se você contar uma história de amor, é melhor que haja uma amizade nela. Isso é amor. Se não é apenas tóxico.
Ligações Perigosas vai ao ar todo Domingo na Lionsgate+