Cultura

“Não se preocupe, querida” tem brasileiro na produção, saiba quem!

Entrevistamos com exclusividade o brasileiro Affonso Gonçalves, montador chefe - responsável pela edição geral do filme

não se preocupe, querida
Foto: Divulgacao Warner Bros

Muito se falou do que rolou por trás das câmeras de “Não Se Preocupe Querida”, o filme dirigido por Olivia Wilde estrelando Harry Styles e Florence Pugh. Mas o que poucos sabem, é que o filme teve um toque brasileiro e não foi o drama não. A produção contou com Affonso Gonçalves, renomado montador chefe de cinema - ou seja, a pessoa responsável pela edição geral do filme.

O brasileiro já esteve por trás de diversas grandes produções cinematográficas, tanto em longa-metragens como documentários, entre eles A Filha Perdida de Maggie Gyllenhaal, “Dark Waters - O Preço da Verdade” e  o documentário “Velvet Underground”, ambos de Todd Haynes. No caso de “Não se Preocupe Querida”, o filme chegou como um novo desafio, pois Affonso foi contratado quando a produção já estava quase finalizada. E cabia a ele, através da montagem do filme, se certificar que a história que a diretora havia vislumbrado estava sendo contada da melhor forma possível.

Para saber mais como foi este processo, a L’Officiel fez uma entrevista exclusiva com Affonso Gonçalves. Confira a conversa a seguir: 

Affonso Gonçalves
Foto: Getty Images

Qual foi o maior desafio para você em Não Se Preocupe Querida?

Tiveram outros montadores antes de eu chegar, eu que cheguei no fim da produção. Mas a gente mudou um pouco o filme. Você sabe, neste tipo de filme, a linguagem vem muito da montagem. Porque é uma coisa de memória, uma coisa de lembrança, de flashes que aparecem. Então é um grande prazer, mas também é complicado. Você trabalha essa coisa de que você não pode dar toda a informação ao público, mas você tem que deixar uns breadcrumbs, como eles falam aqui, umas migalhas — eu não sei se funciona em português falar em migalha, mas são pistas pelo caminho. Mas foi uma experiência incrível trabalhar com a Olivia. Ela é extremamente aberta a ideias, a colaborar, a fazer o filme ficar melhor.

O filme ainda tem uma coisa de três identidades visuais diferentes, uma para o bairro perfeito, outra para a realidade e ainda outra que é totalmente bizarra. Como foi traduzir isso para uma narrativa coerente?

É complicado no sentido de você ter que saber como usar, quando usar e quanto usar, isso é o importante. A linguagem do filme vai bem nessa coisa, que tem que ter um contraste daquele mundo idílico para o mundo que não é assim. A vida dela — não quero dar muito spoiler, mas — a realidade dela não é a realidade que você está... a experiência dela naquela realidade não é a experiência dela na verdade mesmo. Então, você tem que passar isso, ser específico o que corre com a imagem. Eles filmaram muitas coisas diferentes. Com certeza foi trabalhoso. Mas ter a chance de trabalhar aquele material das danças ou aquelas imagens mais horríveis, foi sensacional.

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E como foi a troca com a Olivia Wilde, visto também que este é o seu segundo longa-metragem e você já é um veterano na indústria?

A gente se deu extremamente bem. Eu me senti imediatamente confortável trabalhando com ela. Acho que as pessoas talvez não saibam, ou talvez não querem saber isso, mas ela é extremamente preparada. Ela sabe muito de cinema, ela é uma diretora muito inteligente da linguagem de cinema. Ela vai fundo nas coisas que ela usa, na sabedoria dela de não apenas em como contar a história, mas a forma e o jeito que ela faz isso. Ela faz coisas que você não espera, não joga de forma segura… E tem outra coisa também, essa é a segunda vez que eu trabalho com uma diretora que é também atriz. E isso faz diferença. Essa sabedoria de entender o set, de saber a linguagem do outro lado, na frente das câmeras. Faz diferença tanto para experiência que eu tive com a Olívia, quanto para experiência que eu tive com a Maggie. É uma coisa que para o meu aprendizado, acho muito interessante, muito rica a experiência de trabalhar com alguém que tem essa sabedoria.

Você tem que cortar cenas que deram muito trabalho para fazer. Como você lida com isso? Há algum apego emocional?

Você não pode ser emocional. Tem que ser uma coisa muito mais intelectual, quando você tira uma cena. Porque se emocionalmente você acha que funciona, é difícil você tirar. Você aprende. É mais difícil para os diretores. E ainda mais para os diretores que são roteiristas. Em geral, eles têm um certo apego às cenas, às coisas. Mas é uma coisa que você vai fazendo e aprendendo a lidar. "Vou ter que cortar essa cena que é incrível, que eu adoro, mas não funciona no filme”.

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Não se preocupe,querida

Teve alguma cena em Não Se Preocupe Querida que foi difícil para você tirar?

É curioso, porque quando eu cheguei, a Olivia já tinha tirado muita coisa. Haviam umas quatro, cinco cenas que ela tinha tirado, mas que sentia falta. Meu trabalho foi colocar de volta as cenas. A cena de quando elas estão na piscina, por exemplo, no começo do filme, era uma cena que quando eu cheguei não tinha no filme. E tinha cenas que ela sentia que ficava faltando, alguma coisa que ela não conseguia conectar com o filme tão bem. Então foi curioso, porque o meu trabalho em geral é cortar, nesse sentido foi adicionar algumas cenas do filme.

Aqui no Brasil, a gente sempre escuta falar sobre os talentos na frente das câmeras, mas pouco sabemos de brasileiros, como você, que são extremamente bem sucedidos no cinema por trás das câmeras. Como você vê a abertura de Hollywood para talentos estrangeiros nesse lado mais técnico?

Eu acho que é aberto, acho que tem espaço. acho que eles não veem você como sendo uma pessoa de fora. Eles veem, eles olham seu talento e a sua capacidade. E nós brasileiros, o nosso talento é tão grande que eu acho que tem espaço para gente aqui. Por exemplo, o Adriano Goldman (Diretor de Fotografia), é um talento sensacional, ele já ganhou Emmy. Tem muito trabalho hoje em dia também, porque não só a qualidade de Hollywood no cinema, o nível da televisão é muito alto hoje em dia. Quando eu comecei há anos atrás, só havia filme, televisão não era vista de uma maneira com tanto gosto como é hoje em dia. E é cada vez mais a quantidade de trabalho que tem. É difícil, não é fácil você entrar aqui. Mas o talento de onde quer que seja, eles recebem de braços abertos aqui.

“Não Se Preocupe Querida” está disponível para assistir na plataforma de streaming HBO Max.

Não se preocupe, querida - Olivia Wilde

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