Nino Cerruti: confira a biografia de um ícone fashion
Estilo é a mistura de cultura e arte! Máxima de Nino Cerruti dá o tom na biografia do estilista italiano morto no ano passado e que foi mentor de Giorgio Armani.
Quando o filme Bonnie & Clyde – Uma rajada de balas estreou em 1967, a atriz Faye Dunaway causou furor na tela grande esbanjando ousadia a bordo de looks charmosos assinados por Nino Cerruti, enquanto ela e o namorado recriavam as peripécias da dupla romântica de bandidos que aterrorizou o interior dos Estados Unidos, na década de 1930. Os looks de Cerruti para a atriz incluíam peças em alfaiataria e tricôs e acessórios, como boinas.
Falecido em janeiro do ano passado, o estilista italiano que também foi mentor de Giorgio Armani tem sua trajetória contada no livro Nino Cerruti: Fashion Icon, lançado pela editora teNeues. Com biografia, fotos e croquis, a publicação joga luz sobre a história de um importante estilista que andava, há tempos, fora dos holofotes.
Dono de um DNA elegante e informal em suas criações, para ele estilo significava misturar cultura e arte. É dele a primeira jaqueta masculina desconstruída, nos anos 1970. Nascido em 25 de setembro de 1930 na cidade de Biella, na Itália, ele sonhava em ser jornalista, mas aos 20 anos acabou abandonando os estudos para assumir o comando da fábrica têxtil familiar, o Lanificio Fratelli Cerruti, depois da morte de seu pai – ele voltaria sua atenção à tecelagem nos anos 2000, após deixar o comando da marca própria.
Cerruti começou a ganhar notoriedade em 1957, quando apresentou em Milão a sua primeira coleção, chamada Hitman. No fim da década seguinte, fundou a marca Flying Cross, em colaboração com o alfaiate Osvaldo Testa, e abriu a primeira butique Cerruti 1881, em Paris, inicialmente investindo na linha masculina e, depois, na feminina. Foi quando contratou o jovem Giorgio Armani para a equipe de estilo. Os dois trabalharam juntos até 1975, quando Armani criou sua própria marca.
“É com grande tristeza que tomo conhecimento da morte de Nino Cerruti. Embora ao longo dos anos tenhamos nos visto menos, sempre o considerei uma das pessoas que tiveram uma influência real e positiva na minha vida. Com ele aprendi não só o gosto pela suavidade da alfaiataria, mas também a importância de uma visão abrangente, como designer e empreendedor. O sr. Nino era um observador atento, tinha uma curiosidade real e a capacidade de ousar. Sua maneira gentil de ser autoritário fará falta”, disse Armani ao WWD por ocasião da morte do colega, que faleceu aos 91 anos em um hospital de Vercelli, na região de Piemonte, onde havia sido submetido a uma cirurgia no quadril.
Sua presença em Hollywood continuou nos anos 1980 e 90, assinando roupas para filmes como Instinto selvagem e Uma linda mulher. Dentro e fora das telas, suas criações eram escolhidas por nomes como Michael Douglas, Jack Nicholson, Tom Hanks, Bruce Willis, Sharon Stone, Julia Roberts, Robert Redford, Harrison Ford, Al Pacino e Jean-Paul Belmondo. Ainda assim, era o primeiro a usar as roupas à medida que ficavam prontas nos ateliês. “Sempre vesti a mesma pessoa: eu mesmo”, confidenciou certa vez. Para ele, uma roupa só existe quando alguém a usa. Foram pensatas como essa e o curso incompleto de Filosofia que lhe renderam o apelido de “estilista filósofo”.
No guarda-roupa feminino, seu forte eram as calças em um período em que elas estavam ganhando espaço nas ruas. Em 1968, ano da rebelião estudantil na Europa, levou para a passarela os dois sexos vestidos da mesma forma. Sua modelagem impecável e alta qualidade chamaram a atenção de Gabrielle Chanel, que chegou a encomendar peças no sistema private label. “Naquela época era uma escolha corajosa, porque em alguns restaurantes proibiam a entrada de mulheres vestindo calças”, disse o estilista.
Aos poucos, a Cerruti ampliou seu raio de atuação, incluindo perfumes, relógios, calçados e joias. Em 1994, ele se tornou o designer oficial da Scuderia Ferrari e após dois anos convidou o estilista Narciso Rodriguez para o cargo de diretor criativo da Cerruti 1881. O norte-americano ficou apenas um ano na função, até ser substituído por Peter Speliopoulos, ex-DKNY.
Em outubro de 2000, Nino Cerruti vendeu 51% de sua empresa para a Fin.Part, grupo italiano que, em poucos meses, comprou o restante da empresa e o expulsou, então com 71 anos, que não se conformava com o formato industrial que a grife estava ganhando. Após declarar falência em 2005, o grupo vendeu a marca para o fundo de investimento americano MatlinPatterson; em 2011 ela se tornou parte do grupo chinês Trinity. A coleção para o verão 2002 marcou o fim da era Nino Cerruti, ainda que o estilista tenha continuado a acompanhar os desfiles da primeira fila.
