Cultura

Novos tempos: A história de sucesso da Luiza Trajano, dona do Magalu

Empresária tem conquistado espaço no universo dos negócios, com um discurso de mudanças poderoso e urgente
Luiza Trajano
Luiza Trajano

A voz mais ouvida no Brasil em 2020 foi a da empresária Luiza Trajano. Nascida no interior paulista, na cidade de Franca, há exatos 69 anos, ela conquista cada vez mais espaço graças a sua forma de administrar com humanismo e sensibilidade. Depois de lançar projetos de proteção à mulher, a dona do Magazine Luiza – uma das cinco empresas mais valiosas do país, estimada em mais de R$ 5 bilhões – sacode o mercado com o anúncio de programas de formação de CEO voltados exclusivamente à população negra, apontando o caminho para a concorrência seguir: sem diversidade e respeito o Brasil seguirá sendo um país desigual e atrasado. Luiza realmente tem muito o que falar – e nós devemos ouvi-la.

L’OFFICIEL A pandemia acentuou o “distanciamento social” no Brasil em seu sentido mais literal. Como a senhora encara a crise sanitária e as demandas que surgiram com ela?

LUIZA TRAJANO Todos nós sabíamos da grande desigualdade social, mas a pandemia a escancarou de uma forma cruel. A principal demanda que surgiu, e que precisamos resolver, é justamente esta. Programas do governo vieram em forma do auxílio emergencial, e as doações de empresas e famílias foram fundamentais. No entanto, mais do que nunca, é preciso haver geração de emprego e uma renda mínima para essa população.

L’OFF A senhora acredita que os governantes do mundo repensarão algumas ações coletivas depois do episódio da Covid-19?

LT Espero que sim. Existe muito a ser feito justamente para diminuir essa desigualdade, além de grandes investimentos visando à geração de empregos e à ampliação de atendimento em saúde e educação como forma de acelerar a inclusão social.

L’OFF As lojas físicas precisarão ser reestruturadas? Acredita que elas ficarão mais fortes?

LT A força está na junção do físico com o digital. As lojas físicas estão atravessando profunda transformação. Elas não deixarão de existir, mas estão passando por uma adequação.

Luiza Trajano
Foto Arquivo Revista L’Officiel Brasil #78

L’OFF Como o comércio online pode ajudar os pequenos produtores? E como o Magalu se posicionou diante dessa nova realidade de mercado?

LT Um ano antes da pandemia fiz uma série de vídeos nas minhas redes sociais falando sobre o digital e alertando que mesmo os pequenos deveriam estar presentes neste ambiente para vendas. O Magalu sempre teve a preocupação de que o digital não é um aplicativo ou site, e sim uma cultura, e investimos nisso desde a década de 1990, quando criamos as Lojas Eletrônicas, antes mesmo de existir internet, que nada mais eram do que uma loja virtual, sem produtos. Com a pandemia, nós criamos o Parceiro Magalu para auxiliar os pequenos empresários.

L’OFF Pode contar mais sobre o programa “Parceiro Magalu”?

LT Já tínhamos o nosso marketplace, mas com a pandemia criamos um sistema que possibilitou, sem burocracia e com muita rapidez, que os pequenos empresários e autônomos, que não tinham nenhum tipo de venda on-line, utilizassem a plataforma do Magalu para fazer suas vendas, já que tiveram que, de uma hora para outra, fechar suas lojas físicas. A dotamos um valor de comissionamento muito abaixo de mercado e garantimos a sobrevivência de milhares de pequenos negócios.

Luiza Trajano
Foto Arquivo Revista L’Officiel Brasil #78

L’OFF Recentemente o Magazine Luiza apresentou um programa para trainee especialmente voltado para pessoas pretas. Pode falar mais sobre isso?

LT Foi um programa realizado para corrigir uma distorção dentro da nossa empresa. Prezamos pela diversidade, verificamos a falta de líderes negros e entendemos que o trainee é uma porta de entrada para novos líderes em qualquer empresa. Por isso, resolvemos fazer uma ação afirmativa para corrigir essa falha. Muitos falaram em racismo reverso, o que não existe. Nosso país tem uma dívida racial gigantesca, e qualquer ação afirmativa para promover o acesso que sempre foi negado por meio de um racismo estrutural, seja por cotas ou programas específicos, deveria ser praticado por toda a sociedade.

L’OFF E sobre o Grupo Mulheres do Brasil, como surgiu a ideia e quais são os resultados dele?

LT O Grupo nasceu de maneira orgânica em 2014, quando reunimos cerca de 40 mulheres de todos os segmentos e classes para uma reunião em Brasília.

Foi uma troca de experiência tão rica que decidimos continuar com as reuniões e ampliar a participação de mulheres para trabalhar em causas concretas para a sociedade civil. Hoje, somos mais de 75 mil mulheres em todo o Brasil e em vários núcleos de brasileiras que moram no exterior, conectadas em dezenas de comitês de trabalho que realizam ações práticas em áreas como saúde, educação, igualdade racial, empreendedorismo e em muitos outros segmentos. Queremos ampliar cada vez mais essa participação, e qualquer mulher pode participar e se engajar em algumas das causas em que possa contribuir. Para conhecer, é só entrar no site www.mulheresdobrasil.org.br

L’OFF Qual é a sua mensagem para 2021?
LT Atravessamos um ano que mexeu profundamente com o que temos de mais valioso em nossa vida, que é a saúde, e esperamos que 2021 seja de recuperação em todos os aspectos, especialmente na economia e nos empregos.

"Matéria publicada originalmente na Revista L'Officiel Brasil #78

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