Casa de Criadores: Nalimo dá voz ao seu povo!
Para a edição N50 da Casa de Criadores, Nalimo trouxe história para a passarela. Confira todos os detalhes da coleção!
Vez ou outra a moda tem aqueles momentos em que você sabe que está vendo a história com h maiúsculo acontecer ao vivo na passarela. Dentro do contexto brasileiro dos últimos quinhentos e tantos anos — e especialmente do Brasil atual, com o genocídio indígena e a guerra velada na Amazônia — a primeira apresentação presencial da Nalimo, que abriu a Casa de Criadores, foi um desses. @molina.ela, a criadora por trás da marca, tem uma missão muito clara pela frente: descendente de povos originários desta terra, ela se coloca como ponta de lança da necessidade de trazer, mostrar e esfregar na cara do sistema de moda a importância criativa e de vida dos seus pares, que historicamente ganharam zero espaço dentro dessas estruturas. “Por décadas a gente viu a moda se apropriar dessas culturas sem dar o devido protagonismo às pessoas nativas”, explica. A solução, ainda que óbvia, só aconteceu nesta noite, pelas suas mãos: dar presença a essa galera, com seus rostos e identidades únicas, sem exotificação. Com um casting quase que totalmente de pessoas originárias — e aqui incluem-se músicos, médica, artistas, transexuais — Molina mostra sua moda provando que o esforço coletivo é essencial. Sua alfaiataria de tecidos naturais, silhuetas confortáveis e belas tramas manuais ajuda a dar esse peso. Como ela mesma diz, ela é uma indígena que faz moda — e não vai cair na caricatura que algum desavisado pode esperar. Os acessórios trazem um mix de técnicas ancestrais de povos espalhados pelo território que sempre foi deles. Guajajara, Guarani, Krenak, Huni Kuin, Pankararu, tantos outros nomes que a moda sempre ignorou, estavam presentes — e ali, com pés descalços pintados de vermelho pisando na passarela, começa uma nova cronologia.