Louis Vuitton e seus espaços livres
Não há mundo invertido que force Nicolas Ghesquière a mudar de direção. Ainda refletindo sobre a realidade que virou de cabeça para baixo no último ano, o designer levou a coleção Cruise 2022 da Louis Vuitton para ser desfilada nos arredores de Paris — especificamente em Cergy, onde fica a “Axe Majeur”, obra monumental do artista plástico israelense Dani Karavan que se estende por três quilómetros e mescla ambientes como imensas colunas e passagens espelhadas. Uma escolha tímida, em comparação com os costumeiros destinos dos desfiles de Cruise da maison, mas nem por isso menos imponente.
Nas suas criações, Karavan primava em construir espaços que conversavam com o ambiente em que estavam inseridas, sem criar conflitos arquitetônicos. Filosofia que se encaixa nesta coleção da Vuitton, com os códigos esportivos que Ghesquiére trabalha bem e transitam perfeitamente no seu universo particular. O estilista vai dos shapes esculturais dos maxicasacos com mangas importantes às saias emplumadas e ao militarismo poético sem criar ruídos. Mas preste atenção que parte da história real está no styling, uma vontade de sobreposições e de voltar a vestir tudo o que não pudemos no tal mundo pós-pandêmico. Liberdade que surge também nas mangas que esvoaçam feito capas, prontas para uma possível volta do trottoir parisien.