SPFW 58: Angela Brito fala sobre o encontro entre culturas

Cabo-verdiana radicada no Rio de Janeiro há três décadas, Angela Brito (@angelabritobrand) retorna ao seu país anualmente. Da sua última visita – entre dezembro de 2023 e março deste ano –, gerou a coleção apresentada neste sábado no SPFW. Intitulada “Crioula”, fala sobre a cultura que resulta do encontro entre o mundo europeu e o africano. “O povo cabo-verdiano é considerado crioulo e nossa língua nativa é o crioulo. A mestiçagem cultural deu origem a uma nova identidade. A língua que a gente fala em Cabo Verde, por exemplo, é uma mistura de francês, inglês, português, espanhol, uolofe. A gente brinca que se procurar acha até chinês”, contou a estilista no backstage, antes do desfile. “Queria falar dessa essência crioula, que vários autores chamam de criolização. Acho que mesmo no Brasil há uma identidade crioula no sentido da mistura e da criação de uma nova identidade, mas que muita vezes é vista como uma identidade diluída, já que várias coisas remetem a outras coisas”, acrescenta. Na coleção se traduz em volumes surgindo em lugares inesperados, como em laterais de saias, sobre os seios ou nas costas. Segundo a estilista, são a tradução de elementos agregados à nova identidade. “São camadas que você vai acumulando ao longo do tempo. Se olhar com calma talvez o resultado seja ainda mais interessante”, explica. Nesse mesmo sentido ela escolheu trabalhar com o avesso da técnica capitonê, que resultou em textura interessante. Como a mulher crioula que trabalha no campo não carrega bolsa e por isso cria maneiras de carregar coisas anexadas ao corpo, as peças ganharam bolsos-bolsas. Bonitas sobreposições também vieram forte, traduzindo as camadas agregadas à cultura miscigenada. Entre os tecidos, Angela segue utilizando o “pánu di téra”, tecido tradicional de Cabo Verde originalmente em preto e branco que ela acrescenta colorido, além de náilon com aspecto de couro, linho, algodão, seda e couríssimo. Pela primeira vez, a estilista assinou o styling do desfile. “Como uma mulher crioula, eu precisava trazer alguns signos que somente eu saberia, como as luvas usadas na colheita de feijão e milho e os óculos, que na coleção resultaram em parceria com a @rayban.