SPFW n53: Misci reforça potência matriarcal em nova coleção
Com um casting todo filho e filha de mãe solo, Misci reforça potência matriarcal em nova coleção apresentada na SPFW n53
Já pensou em como você se relaciona com a sua pátria? Infelizmente, já estamos mais do que acostumados a tratar o Brasil — principalmente nos últimos anos — como um padrasto cruel. A Misci se propõe, nesta temporada, a discutir esse olhar. Em busca da “nossa Eva primordial”, Airon Martin parte do princípio que este país, na sua essência, não é pai mas mãe. E mãe solo, das batalhadoras que fazem tudo por seus filhos. Por isso troca a palavra pátria por mátria, reforçando a potência matriarcal destas plagas. Ele, que vem de família maioritariamente feminina, fez questão de montar casting totalmente dedicado ao assunto — todo mundo ali é filho e filha de mãe solo, ou tem esse papel assumido para si, de Carol Trentini a Duda Beat e Ana Carolina Apocalypse. Firmando-se no cenário, e já de olho em crescer suas vendas para fora destas fronteiras, a Misci quer solidificar sua moda com calma. Sublinha formas e tecidos, que vieram do primeiro desfile, materializando essa estética que fala do Brasil real mas com um filtro estético muito próprio. Dentro da profusão de tons terrosos e azuis celestes, Airon tem suas cartas na mão e sabe agradar os olhares já conquistados — seja com a alfaiaria sóbria e cheia de texturas preciosas, seja com os recortes sinuosos que rendem uma sensualidade sutil para ambos os gêneros (e que abrem espaço para detalhes graciosos como a sobreposição de tops que deixa um dos seios à mostra, sinalizando a mãe que está sempre pronta para nutrir suas crias). Olhe bem também para os jacquards construídos a partir de imagens de satélite dos desmatamentos na Amazônia — estética construída a partir de terrível realidade política. Em anos de graves eleições, a Misci ajuda a salientar que é hora de virar nossa antena, enquanto nação, para possibilidades mais afáveis.