SPFW N55: Apartamento 03 traz força e delicadeza para sua coleção

Já há algum tempo, o estilista Luiz Claudio Silva vem incluindo questões sobre inclusão em seu trabalho, com lugar de fala e muita sensibilidade. Para o desfile de hoje no @spfw, o designer mineiro mais uma vez escalou um casting totalmente inclusivo para levar à passarela uma coleção forte e delicada ao mesmo tempo. Batizada de “Sobre Silva, Vários Silva”, Luiz Claudio, ele mesmo um Silva, resgatou a obra do pintor Estevão Roberto Silva, filho de pais escravizados e o primeiro artista negro formado pela Academia Imperial de Belas Artes do Rio de Janeiro, no século 19. Especialista em natureza-morta, Estevão era dono de um talento ímpar. Suas telas eram tão realistas que, diziam, pássaros estavam sempre pelo seu ateliê, atraídos por flores e outros animais em suas telas. 

Foi imaginando essa cena que o estilista criou os últimos looks do desfile. Também os mais elaborados, eram peças em camadas levíssimas decoradas com pássaros bordados e recortados. O feito à mão, que é sempre rico em suas coleções, veio com requinte em plissados sinuosos ou tradicionais, flores de tecido e paetês pincelados. Conversando com L’OFFICIEL no backstage pouco antes do show, o estilista comentou sobre o apagamento de personalidades na história brasileira. 

Foi nesse sentido que a estampa floral transitou entre o real e o borrado. “Poucos sabem sobre a existência de Estevão”, conta ele, que estudou sobre o artista na universidade. Foi no intuito de, metaforicamente, jogar luz sobre a importância do pintor e sua obra que esta foi uma coleção luminosa, rica em brilhos de várias cores. Criar uma coleção com viés crítico não é para qualquer um. Luiz Claudio não somente encarou o desafio como o fez com poesia e emoção. Bravo!