Comfort Food: os alimentos afetam nosso humor?
Pesquisamos o que a ciência já descobriu a respeito da relação íntima que temos com a comida e ainda elegemos alguns pratos para um completo deleite
As chamadas “comfort food”, ou “comidas reconfortantes” (em tradução livre), podem ser classificadas como alimentos nostálgicos, indulgentes, convenientes e de conforto físico, como um ótimo chá de camomila com bolachinhas antes de ir para cama. Tantas vezes associadas a memórias positivas, segundo descobertas científicas, essas refeições ou snacks variam conforme idade e gênero. Homens tendem a preferir alimentos quentes e substanciais, como carnes e sopas. As mulheres são mais adeptas ao chocolate e ao sorvete. Jovens preferem lanches, em comparação com pessoas acima de 55 anos. Esses alimentos, na prática, desempenham um papel significativo na regulação emocional e de bem-estar psicológico, porém, ainda sem muitas evidências empíricas. Entretanto, em casos clínicos de pacientes com anorexia, tiveram o papel de estimular a ingestão oral e melhorar a qualidade de vida ao evocar memórias positivas e sentimentos de cuidado.
A chef Greta Guedes, da Quichiki, é uma dessas cozinheiras de mão cheia que transformou comfort food em negócio. Formada pelo Senac e pela francesa Le Cordon Bleu, desde a infância partilhava momentos entre panelas com sua avó. A conexão “comfort” também se baseia no artesanal. “Isso garante um grande diferencial de mercado: cada pedido é único, feito especialmente com ingredientes frescos e de qualidade”, afirma.
Bolos com a cara da primavera? Essa é a ideia da culinarista Deborah Gaiotto, outra entusiasta dos sabores reconfortantes. Em sua carreira, são 18 anos trabalhando com flores comestíveis para atender nomes da alta gastronomia brasileira. Essa paixão a fez confeiteira, que usa a natureza para incrementar sabores, indo muito além da decoração. São bolos de alecrim com lavanda, com geleia de rosas, de jasmim ou capim-cidreira. Opção leve e ótima para acompanhar aquela pausa estratégica de final de dia.
Em uma sociedade que voltou a se alimentar restritivamente, para alcançar padrões de beleza nada saudáveis, comer pode ser um ato revolucionário.
Porção de bem-estar
Algumas opções para ativar o modo “comfort food” em casa e no restaurante, do café da manhã ao jantar.
1 - Conversar com amigos em um restaurante nas alturas já é uma experiência interessante por si só. Visualizar imensos prédios iluminados degustando um bolinho cremoso e quente é melhor ainda. O croquete de cordeiro do Seen, no topo do Tivoli Mofarrej, no coração de São Paulo, conta com mostarda dijon, manga, curry e mel. Só de lembrar já acalma.
2 - Já que iniciamos nossa lista com uma “comfort food with a view” paulistana, que tal se manter nas alturas, observando as belezas de Madri em uma brasserie descolada, ao lado da turística Porta do Sol? Ela é a Dani, com assinatura do estrelado chef Dani García. O ambiente, no histórico prédio que abriga o Hotel Four Seasons, é repleto de plantas, lindo mobiliário e clientes descolados. Pelos locais, ganhou o título de “comfort food” que harmoniza majestosamente com uma boa taça de vinho: do gaspacho a um ótimo prato de ravioli.
3 - Pão pode ser considerado uma comida reconfortante? Com certeza. Caminhando entre a farta seleção gastronômica de Dubai, dentro do Atlantis The Royal, você é convidado a entrar no restaurante Ariana 's pelo perfume das especiarias e ambiente de rica decoração persa. Destaque para as pastas servidas como entrada ou pratos para compartilhar, acompanhadas pelo clássico pão lavash, de origem armênia. Ele é produzido na hora, em um forno arredondado que é a sensação do salão, inclusive alvo de muitas fotos e vídeos. Abra o caminho do paladar para iogurtes, azeitonas, berinjelas e carnes muito bem temperadas.
4 - Quem cresceu em São Paulo se acostumou a ouvir “jantar no Fasano” e pensar em sofisticação e bons ingredientes. A história de uma das famílias mais conhecidas do país, atualmente, também pode fazer parte da sua cozinha. Para quem não conhece, o Emporio Fasano, que fica nos Jardins, mas também atua com um ótimo canal de vendas online, é casa de comidinhas afetivas. Uma dica: compre as massas, como o farto macarrão conchiglioni, base para diversos molhos, principalmente os mais encorpados. Ouse e arrase!
5 - Fechando nossa seleção de delícias, não podemos deixar de lado um astro do café da manhã de hotel, o ovo beneditino. Cada estabelecimento possui seu toque para o prato que preenche a manhã, mas a opção do tradicional brunch do Terraço Jardins, dentro do Renaissance, é uma ótima escolha para aquele final de semana preguiçoso. O detalhe que faz toda a diferença: gema aveludada, clara perfeita e sem resquício de vinagre, usado comumente na preparação pochê, e uma base crocante que completa a experiência entre texturas tão distintas.
Faça em casa: receita de quiche de gorgonzola com figos verdes
cedida pela chef Greta Guedes, da Quichiki
Rendimento: até seis porções
Nível de dificuldade: médio
Tempo de preparo: 60 minutos
Ingredientes
Massa
200 gramas de farinha
150 gramas de manteiga
1 ovo
Água até dar o ponto
Recheio
100 gramas de creme de leite fresco
100 gramas de ricota
3 ovos
80 gramas de gorgonzola
4 figos verdes em calda, para finalizar
Modo de preparo
Amasse a farinha com a manteiga e junte o ovo. Vá colocando água até dar ponto. Abra a massa e use-a para forrar uma assadeira de fundo falso de 23 cm. Com exceção dos figos, bata todos os ingredientes do recheio no liquidificador. Coloque sobre a massa. Leve ao forno em 180 graus, por 30 minutos. Após esse tempo, retire com cuidado e espere esfriar. Finalize com os figos por cima. Corte e sirva.
Fotos: Divulgação, Ricardo D’Angelo e Pexels.
Wansink, B., Cheney, M., & Chan, N. (2003). Exploring comfort food preferences across age and gender. Physiology & Behavior, 79, 739-747.
Locher, J., Yoels, W., Maurer, D., & Ells, J. (2005). Comfort Foods: An Exploratory Journey Into The Social and Emotional Significance of Food. Food and Foodways, 13, 273 - 297.
Wood, P., & Vogen, B. (1998). Feeding the anorectic client: comfort foods and happy hour.. Geriatric nursing, 19 4, 192-4 .