Arte: Maxwell Alexandre traz reflexões sobre a sociedade moderna
Novo poder! Aos 33 anos, Maxwell Alexandre traz para a arte elementos da cultura periférica e provoca reflexões sobre a sociedade moderna.
Selecionado pelo prêmio SAM Art Project, que reúne artistas do mundo inteiro em uma coletiva badalada no Palais de Tokyo, em Paris, o carioca Maxwell Alexandre criou uma obra à qual deu o nome de “New Power”. A exposição esteve em cartaz no início de 2022, e o trabalho foi descrito como uma cartografia caótica que aponta para a complexidade da vida na orla fluminense. As pinturas de “New Power” traziam corpos negros em diversas situações, muitas delas de racismo e violência, misturadas a referências simbólicas pop e contemporâneas, como Power Rangers, Jay-Z, Beyoncé e Marielle Franco. Mas o que “New Power” queria dizer ao mundo? “A arte é parda!”, responde Maxwell, nascido e criado na Rocinha, vencedor do prêmio Pipa, em 2020, e hoje com obras em coleções da Pinacoteca do Estado de São Paulo, Masp, MAM-RJ e Museu de Arte do Rio. Educado em uma família evangélica, na maior favela do Rio de Janeiro, o artista fez do próprio entorno um material capaz de abastecer a necessidade artística, que ele garante ser vital. “Não procuro transmitir mensagem, isso é coisa de publicitário. Faço arte por necessidade, se não fizer, morro”, diz. Graduado em design pela PUC-Rio, em 2016, ele começou a despontar na cena contemporânea recém-formado, quando participou da coletiva “Carpintaria para Todos”, na galeria Carpintaria, em 2017, ano também da sua primeira individual, “Laje só Existe com Gente”, realizada na Rocinha Surfe Escola, no Complexo Esportivo da comunidade. No ano seguinte, o nome de Maxwell já ganharia ares internacionais com a coletiva na Art Berlin Fair e uma residência em Londres para, na volta, expor no Masp, na mostra “Histórias Afro-Atlânticas”.
A ancestralidade, o racismo e o próprio dia a dia servem de base para sua produção. As experiências pessoais engrossam o caldo da pintura e da performance de Maxwell, que incorpora às obras os códigos da periferia para colocar a cultura negra num lugar de destaque. “Ancestralidade, cotidiano e afrodescendência sempre estiveram presentes na arte contemporânea brasileira. O que vem mudando são os agentes, os autores, os artistas e, consequentemente, a maneira como esses temas são abordados, ganhando mais propriedade e complexidade.” Ter crescido na Rocinha e pertencer a um cotidiano que oscila entre violência e resistência foram fundamentais para a sua formação. A arte – ele entende –, é intrínseca ao desenvolvimento humano independentemente do meio e do cerceamento imposto pela sociedade. “Soltar pipa é a mesma coisa que pintar”, afirma.
Quando começou a dar contorno aos seus quadros, Maxwell tinha como grandes influências o esporte, o militarismo e cristianismo. Hoje, ele reserva o lugar (de inspiração) para Caetano Veloso e para o rapper americano Playboi Carti. Neste universo, a prática do autorretrato ganha destaque em muitas pinturas e tem um sentido existencial. “Tudo está guardado em mim. Sou a medida de todas as coisas”, diz Maxwell, que descreve o próprio estilo como o de um “atacante”. Para aproximar o público da arte e evitar o encastelamento de suas obras em galerias e museus, o carioca construiu, em São Cristóvão, na zona Norte do Rio, o Pavilhão Maxwell Alexandre, um centro de convivência, com mostras apresentadas de maneira a idealizar um clima intimista e nada elitista. Estar fora do circuito oficial e institucional da arte ajuda até mesmo no processo de criação. “O pavilhão é a capela exclusiva do artista, uma tentativa de curar e exibir, em tempo real, minhas elaborações e interesses. É onde congrego toda mitologia ainda em desenvolvimento em mim. Trabalhos inacabados poderão ser apresentados sem tanta tensão comercial e burocracias que reivindicam o objeto de arte pronta, segura e imaculada”, explica. “Entendo que meu Pavilhão é o lugar do risco, de mostrar vulnerabilidade, trabalhos ainda em fases imaturas, duvidosas e constrangedoras.” É, também, o espaço no qual Maxwell Alexandre pode ser imprevisível, frágil e intenso, uma combinação que pode alimentar a imaginação.