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Cérebro humano: o órgão está encolhendo? Entenda o mistério

O cérebro humano atualmente está 13% menor que o do Homo Sapiens que viveu há 100 mil anos

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Foto: Freepik

Ao longo da história, o cérebro humano foi considerado o principal diferencial entre nossa espécie e outras. A capacidade de pensamento e inovação permitiu ao ser humano alcançar feitos notáveis, como a arte e a exploração espacial. Embora nossos cérebros sejam maiores em comparação a animais de tamanho semelhante, estudos revelam que o tamanho médio do cérebro humano tem diminuído nos últimos 100 mil anos, uma reversão surpreendente da tendência de expansão cerebral observada em outros animais!

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Foto: Freepik

Pesquisas recentes, como a de Ian Tattersall, paleoantropólogo e curador emérito do Museu Americano de História Natural na cidade de Nova York, destacam que o crescimento cerebral ocorreu independentemente em várias espécies de hominídeos ao longo do tempo, mas essa tendência mudou drasticamente com a chegada dos humanos modernos: “Temos crânios com formatos muito peculiares, por isso os primeiros humanos são muito fáceis de reconhecer – e os primeiros têm cérebros extremamente grandes”, diz Tattersall.” Os crânios dos humanos contemporâneos são consideravelmente menores em comparação com os de seus ancestrais que viveram durante a última era glacial.

 

Tattersall propõe que a diminuição do tamanho do cérebro começou há cerca de 100 mil anos, coincidindo com a transição para um estilo de pensamento mais simbólico, impulsionado pelo desenvolvimento da linguagem. Essa mudança permitiu uma reorganização mais eficiente das vias neurais, resultando em cérebros menores, mas mais eficazes energeticamente, capazes de realizar tarefas cognitivas complexas.

 

“Ao que parece, provavelmente os nossos antepassados processaram a informação por uma espécie de força bruta, e a inteligência, neste contexto, foi dimensionada de acordo com o tamanho do cérebro. Portanto, quanto maior for o seu cérebro, mais você aproveitou dele”, diz Tattersall. “Mas a nossa maneira de pensar é diferente. Desconstruímos o mundo que nos rodeia em um vocabulário de símbolos abstratos, e remontamos esses símbolos para fazer perguntas como 'E se?'

 

"Esse tipo de pensamento simbólico deve ter exigido um conjunto muito mais complexo de conexões dentro do cérebro do que estava presente anteriormente. Minha sugestão é que ter essas conexões extras permitiu que o cérebro funcionasse de uma forma muito mais eficiente em termos energéticos."

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Foto: Unsplash

No entanto, há discordâncias entre os pesquisadores sobre a causa dessa diminuição cerebral. Enquanto Tattersall associa o declínio à linguagem e à evolução do pensamento simbólico, outros, como Jeff Morgan Stibel, sugerem que as mudanças climáticas desempenharam um papel fundamental. Stibel correlaciona a diminuição do tamanho do cérebro humano com períodos de aquecimento global, argumentando que cérebros menores poderiam ter sido uma adaptação para dissipar melhor o calor em climas mais quentes. Essas teorias têm implicações importantes para entender a evolução humana e podem lançar luz sobre como os seres humanos podem continuar a se adaptar em face das mudanças ambientais.

 

“Adoro essa teoria, acho realmente brilhante”, diz o cientista cognitivo Jeff Morgan Stibel, do Museu de História Natural da Califórnia.

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Foto: Getty Images

"Mas não vimos dados que mostrem que houve um declínio já há 100 mil anos que não tenha resultado, em algum momento, em uma reversão, onde o tamanho do cérebro começou a aumentar novamente. Houve declínios naquela época. Mas e seguida, o cérebro voltou a crescer. Ou seja, os dados ainda não correspondem a essa hipótese."

 

Stibel acredita que as mudanças climáticas, e não a linguagem, poderiam explicar nossos cérebros menores. Em um estudo de 2023, ele analisou os crânios de 298 Homo sapiens nos últimos 50 mil anos. Ele descobriu que os cérebros humanos têm diminuído há cerca de 17 mil anos – desde o fim da última era glacial. Quando examinou cuidadosamente o registo climático, o pesquisador descobriu que a diminuição do tamanho do cérebro estava correlacionada a períodos de aquecimento da Terra.

 

“O que vimos foi que, quanto mais quente o clima, menor é o tamanho do cérebro dos humanos. E quanto mais frio, maior é o cérebro”, diz Stibel.

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Cérebros menores poderiam ter permitido que os humanos esfriassem rapidamente. É sabido que os humanos em climas quentes desenvolveram corpos mais magros e mais altos para maximizar a perda de calor. É possível que nossos cérebros tenham evoluído de maneira semelhante.

 

“Hoje em dia, se fizer calor, podemos vestir uma camiseta, pular na piscina ou ligar o ar condicionado, mas há 15 mil anos essas opções não estavam disponíveis para nós”, diz Stibel.

 

“O cérebro é o maior consumidor de energia de todos os órgãos, pois pesa cerca de 2% da nossa massa corporal, mas consome mais de 20% da nossa energia metabólica em repouso. Provavelmente também deveria se adaptar ao clima. Nossa teoria é que cérebros menores dissipam melhor o calor e também têm uma produção de calor reduzida."

 

A descoberta sugere que o rápido aquecimento do planeta atual pode fazer com que o nosso cérebro encolha ainda mais.

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