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Duda Breda, o fotógrafo que está mudando a visão do mundo

O fotografo trabalha em projetos que nos levam a questionarmos diversos da vida
Duda Breda-fotógrafo
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A arte tem o poder de transformar, e Duda Breda é um nome que está ganhando cada vez mais destaque na fotografia, trabalhando em projetos que nos levam a questionarmos diversos aspectos da vida, abraçarmos melhor os outros e a nós mesmos. Não existe um modo de classificar seu trabalho - porque está em constante mutação. De retratos a fotos da arquitetura e décor, Duda mergulha nas diversas possibilidades que este universo pode dar, focando constantemente em uma redefinição do que pode ser considerado belo.

“Atualmente esse é o meu maior questionamento como artista: o que, de fato, é beleza?” revela o fotógrafo. Mas, a cada novo projeto, Breda surpreende e nos leva a ter uma nova visão de mundo, trazendo em suas imagens o que seria a beleza clássica, a neoclássica, masculina. 

 

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Entre seus trabalhos, Duda já participou de diversos projetos voltados para a comunidade LGBTQI+, entre eles o “Todos Contra o Tráfico de Pessoas”, idealizado pelo Ministério Público do Trabalho, que retratou mulheres transexuais e travestis inseridas no mercado de trabalho formal. Confira uma entrevista exclusiva com o fotógrafo e conheça mais seu trabalho

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Fotos: Duda Breda

 

1 - Qual foi o projeto mais gratificante que você participou? E qual você gostou mais de fazer?

O projeto “Todos Contra o Tráfico de Pessoas” idealizado pelo Ministério Público me levou a lugares e pessoas que muito provavelmente não teria conhecido. Foi um mês e meio fotografando mulheres Trans e travestis inseridas efetivamente no mercado de trabalho. Foi um projeto mais amplo do que o retrato em si: ouvir suas histórias, os percalços de ser trans em um país transfóbico e misógino; ver essas mulheres ocupando locais com empenho e muita luta me ajudou a ver um pouco mais além da minha bolha de privilégios Foi um trabalho muito gratificante para mim, como fotógrafo, e também muito necessário e atual diante dos tempos obscuros que vivemos. 

Meu primeiro trabalho sobre o masculino chamado Kalos Kagathos é o meu trabalho favorito. Nele pude navegar sobre minha vulnerabilidade, revisitar os meus próprios dilemas sobre ser um homem gay e, também, refletir sobre as marcas de uma culpa cristã na minha trajetória pessoal.

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Foto: Duda Breda

2 - Como funciona seu processo criativo? (Conta um pouco sobre sua pesquisa, brainstorm, etc)

Meu processo criativo é baseado principalmente na busca e conexão de referências. Grande parte dos meus projetos tem como o debate o masculino e suas representações. Minha pesquisa se concentra essencialmente em temas artísticos que retratam o masculino em diferentes cenários, contextos e eras, de Rodin a Mapplethorpe. 

Em um trabalho recente, chamado Glyptothek, tive como ponto de partida a observação de esculturas neoclássicas para retratar o sofrimento masculino. 

Atualmente estou focado em literaturas que explicam e debatem a masculinidade tóxica e a utilização do machismo como um mecanismo de opressão e sofrimento ao próprio homem, me permitindo assim trazer o falocentrismo com teor crítico mais apurado.

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Foto: Duda Breda

3 - Quais serão seus próximos projetos? Pudemos notar que você já atuou em diversos trabalhos em prol  da desmistificação da comunidade LGBTQIA+, quais são os próximos passos nessa jornada?

Meu próximo projeto autoral se chamará “Retorno”. A ideia primária deste trabalho é o resgate de memórias e vivências pessoais que impactaram na formação da minha sexualidade. Pretendo utilizar, além da fotografia, colagens, esculturas e xilogravuras para revisitar a minha transição de criança para um adolescente gay. Abordar a problemática desta evolução e buscar compreender o impacto dos ambientes social, familiar e religioso na minha trajetória são os principais desafios deste projeto. 

 

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Foto: Duda Breda

4 - Quanto ao seu trabalho fotografando arquitetura, o que você busca retratar em suas fotos? Quais são suas preferências e, que estilo de design te atrai mais (e fica melhor em fotos?)

Na fotografia de arquitetura, busco retratar com acurácia a beleza do paralelismo das formas da construção. Compreender o projeto arquitetônico e o arquiteto responsável são passos fundamentais para que minha imagem possa transmitir o que seus idealizadores aspiravam como forma e ideia. 

Quando ainda cursava fotografia, eu me especializei em fotografia de arquitetura justamente porque exigia de mim uma maior dedicação no aprendizado de técnicas mais específicas. Isso, então, me permitiria extrapolar o uso dessas técnicas para outros projetos fotográficos, tais como o estudo do corpo: ossos, protuberâncias, músculos e veias. Eu compreendo a superfície corpórea como um fachada, à semelhança de uma edificação, que pode refletir algo além da mera forma exterior.

Meu estilo favorito é a arquitetura com linhas retas, concreto, vidro e madeira, a arquitetura brasileira contemporânea no geral, como Arthur Casas, Kogan e Weinfeld.

5 - Você tem um questionamento constante sobre qual a definição de beleza. Já chegou em alguma conclusão? E o que você consideraria belo? 

Confesso que ainda não cheguei a uma definição absoluta de beleza, e talvez não chegue. Na verdade, alguns questionamentos, para mim, serão sempre inconclusivos, e possivelmente permanecerão como um dilema que nutre ideias para novos projetos. É angustiante mas ao mesmo tempo, de forma bem ambígua, reconfortante, pois terei sempre um tema de pesquisa.

 Sobre o belo, eu o vejo de duas formas: o belo-clássico, com suas regras de terços e proporções áureas, e o belo-não-clássico, esse mesmo belo que se encontra em tudo e todos, talvez mais difícil de ser notado porém como uma obrigação a quem, como eu, não acredita que não exista nada além do belo.

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6 - O que você busca transmitir com o seu trabalho?

Busco retratar principalmente alguma sensibilidade, a expressão de algo que me é incerto, uma busca eterna do autoconhecimento. Tento guardar o olhar que registra a delicadeza e a dificuldade de existir, seja numa aparente força corpórea ou na retidão séria das linhas e das formas.

7 - Qual a importância da fotografia na sua vida? 

A fotografia me permite materializar meus sentimentos em imagens. Às vezes eu compreendo o meu equipamento fotográfico como uma extensão de mim, algo intrínseco que me possibilita navegar por este mundo incerto. 

Meu primeiro contato mais profundo com a câmera fotográfica foi em 2009 quando fiz um curso sobre o olhar fotográfico com a Claudia Jaguaribe. Esses 6 meses em contato com minha câmera compacta que tinha época foram fundamentais pra eu começar a entender que seria esse meu objetivo como profissional, me tornar um fotógrafo artista, ou um artista que fotografa. Na época eu ainda cursava Relações Internacionais na ESPM em São Paulo, e não passou pela minha cabeça que 6 anos depois eu abandonaria o mercado corporativo e meu trainee em uma consultoria em gestão para seguir carreira como fotógrafo profissional, e não apenas como um passatempo. Foi pelos próximos dois anos e meio, de 2015 a 2018, que fiz meu bacharelado em fotografia e vídeo em Miami e de lá pra cá minha câmera fotográfica, como objeto dos meus trabalhos, me possibilita materializar meus sentidos em imagens.

8 - Se você tivesse que fazer um itinerário de locais para fotografar, quais seriam? 

São Paulo seria o ponto de partida, seguida de Paraty e das cidades históricas de Minas -  e terminaria com um belo clichê, Paris, à la Cartier-Bresson. 

9 - Como você acredita que a arte pode ser objeto de transformação entre minorias no mundo?

A arte existe para que possamos com ela questionar o status quo, não à toa ela sempre está presente nos meios mais progressistas. Eu vejo atualmente, principalmente quando fundações e institutos como IMS, Itau Cultural entre outros, priorizam artistas negros, periféricos, homens e mulheres Trans, indígenas e quilombolas, no suporte e ajuda a disseminação do trabalho desses artistas que têm dificuldades muito maiores para galgarem sucesso com seus trabalhos e projetos. A arte por si só já é um objeto de transformação, mas a representatividade de minorias em um cenário artístico predominantemente branco-privilegiado faz da arte algo mais inclusivo e com chances maiores de se tornar universal e consequentemente transformadora.

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