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Fabrício Boliveira fala sobre amadurecimento profissional e pessoal

Ao interpretar o seu primeiro protagonista após 20 anos de carreira, o ator Fabrício Boliveira fala sobre amadurecimento profissional e pessoal

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Fabrício Boliveira - Foto: Divulgação

Em sua estreia como protagonista na novela “Volta por Cima”, em exibição na Rede Globo, Fabrício Boliveira traz à tela a vida de Jão, um fiscal de ônibus do subúrbio do Rio de Janeiro. O intérprete, que já é conhecido por seu talento e versatilidade, assume o desafio de representar uma figura que carrega as nuances do cotidiano e das tradições do carioca da gema. “Olhar para a vida dessas pessoas e revelar a beleza e a riqueza que existem ali é uma honra. O Jão é multifacetado: um homem com características e pensamentos que não se limitam a uma função”, diz, destacando seu empenho em fugir das representações superficiais para incorporar humanidade aos seus personagens.

 

Enquanto emociona o público na novela, Fabrício também revisita um capítulo importante de sua carreira com a reprise de “Sinhá Moça”, ficção exibida em 2006, quando ele tinha 26 anos, e interpretava o escravo Bastião, um papel importante, mas que encara com olhar analítico. “Acredito que há uma grande crítica à novela em relação a algumas representações e imagens que não são mais relevantes hoje. Penso que, atualmente, não faz sentido  produzir uma trama ambientada no período da colonização do país e da escravidão do povo negro, contando essas histórias sob a perspectiva branca. Esse tipo de trabalho não tem mais propó sito”, afirma o ator.

A trajetória de Boliveira é repleta de papéis desafiadores. Desde o seu start profissional, aos 20 anos, em “Capitães de Areia”, em 2002, ele tem se dedicado à dramaturgia. De lá para cá foram inúmeros trabalhos na televisão, no teatro e no cinema, mas um papel em particular chama a sua atenção. No filme “Breve Miragem de Sol” (2019), dirigido por Eryk Rocha, o ator chegou a engordar 14 quilos para viver um taxista. “Achava importante que ele tivesse um ar ágil. Andei de trem e morei na zona Norte do Rio, observando a realidade dessas pessoas para dar vida ao Pau lo”, relembra. Ele detalha que busca construir seus personagens a partir de memórias pessoais e vivências, explorando também a literatura e traçando paralelos com filmes e histórias reais.

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Fabrício Boliveira - Foto: Divulgação

Essa profundidade também é vista em seu trabalho atual, no qual ele afirma ter muita semelhança com os longas da década  de 1970. “Tem um pouco a ver com ‘O Homem que Virou Suco’ (1981), mas também tem elementos sacados do rico falido (‘Grey Garden’, 2009), além de referências da peça ‘Sonho de Uma Noite de Verão’ (1590). Sempre busco nesses lugares mais informações para construir essa ‘mixagem’”, revela.

 

São esses os personagens que propõem reflexões no processo de autoconhecimento de Fabrício, que sabe, inclusive, da importância dos papéis que ele interpreta, mesmo não gostando da palavra representatividade. “Quero que mais pessoas negras ocupem os lugares que elas quiserem. Não gosto da palavra ‘representatividade’; prefiro pensar que cada pessoa se representa.” Em busca de fortalecer essa presença, ele criou os cursos “Elenco Negro” e “Cinema do Futuro”, ambos para gerar uma arte mais inclusiva. “Nós temos mais de 700 inscritos e a ideia é expandir pelo Brasil e alcançar jovens em situação de vulnerabilidade social. Faz parte da minha missão como profissional”, afirma ele, que está compro  metido em abrir portas para as novas gerações de artistas negros. Apaixonado pela sétima arte, Boliveira também vê, através das telas, uma oportunidade de reflexão e questionamento social. “Para mim, o cinema é algo quase sagrado. É nele que há um tempo para vislumbrar, pensar e meditar sobre o outro. O cinema permite explorar temas universais como o mito do herói, em um ritmo que a televisão e o teatro não oferecem.”

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Fabrício Boliveira - Foto: Divulgação

Atualmente, Fabrício está envolvido em diversos projetos, incluindo sua estreia como coprodutor de “Jardim do Silêncio”, uma colaboração entre Brasil e Itália. O longa-metragem deve seguir para alguns festivais brasileiros. “Também dirigi um filme em plano-sequência intitulado “Antígona, não Nasci Para o Ódio, Nasci Para o Amor”, que está quase pronto e deve estrear no próximo ano. Além disso, há uma animação chamada “Malês”, prevista para 2025. O cinema realmente oferece um tipo de conhecimento único”, conclui. @FABRICIOBOLIVEIRA

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