Gustavo Vaz e L'Officiel Hommes Brasil em um bate papo exclusivo
Atuação, dramaturgia, direção e locução. Parece difícil pensar em alguém que domine todas estas áreas excepcionalmente. Porém, Gustavo Vaz é o nome que podemos colocar bem à frente como a resposta deste questionamento.
Com 36 anos bem vividos, 17 deles são de grande bagagem profissional, que resultam em experiências inesquecíveis e importantes prêmios — como de Melhor Ator no Prêmio Shell e no Prêmio Cesgranrio, e de Melhor Ator Coadjuvante no Prêmio Botequim Cultural e Prêmio Cenym.
Ao falarmos sobre cinema, o ator já marcou presença em “Divórcio", em 2017, e em "Maria Do Caritó", em 2019. Na TV, em 2018 esteve em "O Doutrinador" no Canal Space, e faz parte da série "Aruanas", da Rede Globo. Sem parar por aí, atualmente ele está na série "Coisa Mais Linda", na Netflix, e, também, na série "Os Homens São De Marte E É Pra Lá Que Eu Vou", ao lado de Mônica Martelli, no GNT.
Além da TV e das telonas, ele cultiva o talento de direção e dramaturgia, comandando o grupo paulistano, ExCompanhia de Teatro. Em 2020 criou a websérie “Se Eu Estivesse Aí” em parceria com o Gshow e foi um dos dramaturgos e diretores de “ExReality", apresentada junto ao Teatro Porto Seguro.
Ainda que a pandemia tenha bagunçado planos, em 2021 Gustavo estará em "Depois A Louca Sou Eu" e no novo filme de Sérgio Rezende, “O Jardim Secreto de Mariana”. Com previsão de estreia para o segundo semestre deste ano, "A Voz de Iara", espetáculo solo autobiográfico que escreve e atua, assim como o lançamento de seu primeiro romance, “Como Não Morrer De Uma Só Vez”.
Mergulhando em seu processo criativo, vivências e ideias, Gustavo Vaz conversa exclusivamente com a L'Officiel Hommes Brasil e conta tudo sobre seus próximos passos. Confira!
1 - A pandemia fez com que olhássemos para tudo a nossa volta de uma forma diferente. Qual impacto toda essa transformação irá trazer na sua forma de viver e ver o mundo?
Minha vida e a maneira como me expresso enquanto artista já foram profundamente transformadas pela pandemia. Muitos processo internos, de amadurecimento, de crescimento e consequentemente também sobre dores e medos, que evitava ou adiava por conta dos trabalhos, ou outros compromissos, foram colocados sem escapatória à minha frente. Tem sido muito rico vivenciar isso tudo. Tenho fortalecido minhas redes de afeto constantemente, mesmo à distância, e descoberto, a cada dia, o que realmente me faz feliz e me deixa em paz comigo mesmo. A escrita invadiu minha vida nos últimos meses, a partir de uma escolha consciente, e tem sido uma experiência maravilhosa, que reverbera no ator e no artista que sou. Ainda assim, sinto uma saudade enorme dos palcos e dos sets. Não vejo a hora de isso tudo acabar e poder colocar o que venho aprendendo e sentido dentro de uma relação presencial com o mundo e com as pessoas no meu trabalho de ator.
2 - Você está envolvido em duas produções em 2021: “Depois a Louca Sou Eu”, dirigido pela Julia Rezende, e “O Jardim Secreto de Mariana”, dirigido pelo Sergio Rezende. Conte um pouco mais sobre esses projetos e sobre seus personagens?
Depois a Louca foi rodado no início de 2019 mas só pode ser lançado neste ano, por conta da pandemia. A trama gira em torno da Dani, uma personagem inspirada no livro homônimo da Tati Bernardi, que tenta aprender a viver dentro de um universo permeado por angústias e crises de ansiedade e depressão. Eu faço o Gilberto, um psicanalista ansioso e seu par romântico. Ele é como um espelho, um duplo da Dani; sentem dores parecidas, se relacionam como o mundo de maneiras semelhantes. Nesse encontro de angústias, o amor brota entre os dois, apesar da dificuldade que ambos têm em lidar com esse sentimento tão forte. Acho que o filme é um abraço carinhoso nas pessoas ao falar de ansiedade e depressão de forma tão cuidadosa e bem humorada.
Já O Jardim Secreto de Mariana deve ser lançado ainda neste ano. Eu protagonizo o filme ao lado da Andreia Horta e tenho um carinho muito grande por este trabalho. Filmamos em pouco tempo, cerca de quatro semanas, entre Inhotim e Nova Friburgo, mas, apesar disso, foi o suficiente para que me apaixonasse pelo projeto. Na trama, eu interpreto o João, um homem que perdeu o grande amor da sua vida e que, durante o filme, nos leva numa jornada sobre o perdão e a dor ao tentar recuperar o que deixou escapar. O personagem precisa encarar sua masculinidade e seus erros do passado para reencontrar a possibilidade de amar. É um filme muito delicado. Vi algumas partes da montagem e achei tudo muito bonito.
3 - Qual foi o trabalho que mais marcou sua carreira e, por quais motivos ele é especial?
No teatro, Tom na Fazenda foi, sem dúvida, o espetáculo mais importante na minha trajetória. Além dos prêmios que me trouxe, vivi experiências inesquecíveis, dentro e fora do palco. Viajamos pelo Brasil inteiro e para o exterior, e tivemos retornos muito, muito bonitos do público. Espero que possamos voltar em breve com esse trabalho.
No audiovisual, acho que Coisa Mais Linda foi meu trabalho mais relevante, não só pelo reconhecimento que me trouxe, mas também por ter me trazido um personagem tão complexo e por, principalmente, ter podido desenvolvê-lo ao longo de duas temporadas.
4 - Como funciona seu processo criativo?
Procuro sempre respeitar as intuições iniciais e somar a isso muita pesquisa prática e teórica. Mas cada processo funciona de um jeito, pede uma abordagem diferente. Por exemplo, para fazer o Augusto, em Coisa Mais Linda, fui a um espaço feminista, mediado por psicólogos e profissionais da justiça, criado para a recuperação de homens enquadrados na Lei Maria da Penha. No Depois a Louca, confiei muito no que o roteiro me dava, senti que tudo estava ali, ao mesmo tempo que busquei referências de personagens de alguns filmes. Em Tom na Fazenda, assisti muitos documentários, além de termos trocado inúmeras histórias pessoais durante os ensaios. O que se repete, em todos os processos, é tentar traduzir o que absorvo a partir das ferramentas e das vivências que carrego em mim. E sempre busco encontrar nos personagens que me chegam suas sombras e contrastes, para que leve até as pessoas do público alguém que acreditem ser possível existir.
5 - O que você busca transmitir com o seu trabalho?
Tem uma história do Yoshi Oida, que eu acho linda. Ele nos conta sobre uma peça em que atuava onde precisava apontar a lua, numa determinada cena. O que importava ali, não era sua performance, ou maneira belíssima como seu corpo se posicionava e apontava para ela, mas sim, se o público conseguia enxergá-la. Acho que é sobre isso. Tentar, a cada trabalho, fazer as pessoas enxergarem, através de mim, algo que vá além de mim mesmo.
6 - Você é um artista multitalentoso! Porém, se precisasse escolher entre ser ator, dramaturgo, diretor ou locutor qual escolheria para passar a vida fazendo?
Passaria a vida sem conseguir escolher.
7 - A pandemia e as questões no nosso país se tornaram um verdadeiro enredo de terror. Como diretor, você pretende criar algo baseado nesses momentos que estamos vivendo?
Tudo que tenho criado tem sido influenciado pela pandemia. Se Eu Estivesse Aí, por exemplo, era uma série que falava sobre um casal que vivia uma crise durante o isolamento social. ExReality, era uma experiência performática da minha companhia, a ExCompanhia de Teatro, um reality show em busca do sentido da vida que durava nove dias seguidos. O livro que estou escrevendo, fala sobre nossa relação com a morte. E o próximo trabalho do meu grupo vai também tratar de algo relacionado ao que estamos vivendo. Nós artistas somos antenas do nosso tempo e, olharmos para o presente, acabamos sempre apontando para algo no futuro.