Hommes

O existencialismo contemporâneo de Andrey Rossi

A geração millennial lida com novas perspectivas e questões filosóficas, e muitas delas transportadas para o universo das artes plásticas
Andrey Rossi
Andrey Rossi

Esta  pode parecer uma história do início do século XX, porém nosso protagonista, Andrey Rossi, é do XXI. Crescido em uma marcenaria, quando pequeno ajudava o pai e aproveitava para catar os restos de madeira e construir os próprios brinquedos. Nasceu em 1987 em Porto Ferreira, região do interior de São Paulo famosa pela cerâmica, cresceu na era da internet e de outras modernidades, mas gostava de usar as mãos para fabricar artefatos de encaixe e que tivessem alguma montagem. A curiosidade de como as formas combinam e dialogam acabou em uma pintura pontuada por questões existenciais que refletem a própria geração do artista. A matéria prima de Rossi? O ser humano! A morte e o mundo animal, os elementos que o fazem refletir sobre o dever da humanidade.

 

 “As questões que permeiam todo o meu trabalho têm uma relação com corpo e com o ser humano, que carrega todo esse peso da vida. Falo sobre questões que relacionam vida e morte. E as imagens que crio estão sempre carregando esse peso, o peso da vida, porque viver é uma carga pesada”, explica.
 

Na visão do artista, o preço pago pelo homem ao mergulhar na tecnologia foi o afastamento do mundo animal e a incompreensão de sua própria origem. Resultado: uma angústia existencial e descomunal. 

Andrey Rossi

Em algumas telas, homens e mulheres aparecem mesclados a animais diversos como um aviso. “O ser humano se tornou algo que não é um animal, é outra coisa que não sei o que é. Só o nascimento e a morte têm uma relação mais intrínseca com a origem animal. No restante, o ser humano está cada vez mais distante de sua origem. É uma inquietação existencial mesmo sobre o que é ser humano hoje, que não é o mesmo de um século atrás.” 

Andrey Rossi

A dor, a melancolia, o desamparo e o sentimento de abandono estão nas caras e nos corpos pintados por Rossi.  Às vezes, são apenas pedaços de corpos, quase sempre acoplados a outros bichos. Um tronco humano pode ganhar uma cabeça de touro, outro vem com patas, a morte está sempre presente e os tons de marrom e cinza dominam, enquanto uma luz sombria compõe a atmosfera impressa nas pinturas. Outras vezes, a figura aparece confinada a espaços claustrofóbicos.

Depois de duas individuais na Oma Galeria, no ABC paulista, ele agora prepara exposição para a Galeria de Babel, que tem entre os artistas representados nomes como David LaChapelle e Steve McCurry. São duas individuais, uma em Nova York e outra em São Paulo. Em todas as obras, a mesma preocupação existencial, uma aflição que o artista acredita ser geracional: “Acho que faz parte da minha geração, porque a relação do homem para com o mundo está se alterando rapidamente. É algo muito relacionado ao século e ao tempo. E quando falo também sobre a morte, é uma morte meio ambivalente, ela morre para gerar uma vida”, pontua. 

Posts recomendados