Joias

Dama das cores! Uma entrevista exclusiva com a diretora criativa de joias da Bvlgari

Com 40 anos de casa, Lucia Silvestri fala sobre a sua carreira absolutamente brilhante
Lucia Silvestri
Lucia Silvestri

Lucia conta que desenvolver joias para Bvlgari foi, e ainda é, uma experiência maravilhosa. Mesmo antes de começar a trabalhar na label, ela conheceu a família Bvlgari porque o seu pai trabalhava com eles. E então, teve acesso direto a esse mundo precioso, aprendendo a qualidade das pedras com mentores como Paolo e Nicola Bulgari. Em 2013, foi promovida a diretora executiva de criações em joalheria, gerenciando também o centro de design onde todas as ideias ganham vida, carregadas de beleza, senso estético, leveza e contemporaneidade. Em entrevista exclusiva à L’Officiel, ela fala do poder das gemas e das cores e também das transformações no mundo da alta joalheria.

Bvlgari
Foto: Divulgação

L’OFFICIEL Você sempre sonhou trabalhar com alta joalheria?
LUCIA SILVESTRI Quando comecei na Bvlgari, senti-me uma pessoa de sorte, já que iniciei na melhor empresa de joias do mercado, na qual o nível das gemas é altíssimo. E a família Bulgari, que já conhecia, foi a melhor professora do mundo (os irmãos me deram aulas pessoalmente). Todos os dias eram especiais e trabalhar com joias sempre foi mágico para mim. É, de fato, um mundo extraordinário. E depois de 40 anos, precisamente, sinto a mesma paixão e curiosidade da estreia, o que é fundamental.

L’OFF O que você acha que mudou na Bvlgari e no mundo das joias do dia em que começou até agora?
LS Posso dizer que, mesmo trabalhando na Bvlgari por 40 anos, é como se tivesse mudado de empresa várias vezes. Quando entrei, ela era uma empresa familiar, passou a ser europeia e mais tarde internacional. São mudanças consideráveis. Em relação às gemas, também tudo mudou. Uma vez, entrei no escritório do senhor Bulgari, e lá me deparei com uma grande mesa repleta de grandes pedras preciosas: diamantes, esmeraldas e rubis. Fiquei muito impressionada, foi paixão à primeira vista. Há mais ou menos quatro décadas, encontrar essas pedras era relativamente fácil. Hoje, é impossível. Tudo cresceu exponencialmente: a raridade, a demanda e a competição. Agora, o meu desafio é encontrar rubis, safiras e pedras semipreciosas, como a tanzanita. As coleções são maiores, é importante misturá-las em uma mesma peça. As tonalidades fazem parte do DNA da Bvlgari. Na verdade, não gosto de usar o termo pedras semipreciosas, porque nossas pedras têm uma qualidade excepcional, o que as tornam preciosas de fato. Às vezes, o seu preço é o mesmo de uma safira. Amo encontrar novas combinações. Há dois anos, comecei a compor peças com água-marinha, dois tons de azul ou verde lembrando o mar.

Bvlgari
Foto: Divulgação

L’OFF Como é o seu processo de criação?
LS O primeiro passo é brincar com as pedras em relação à montagem e ao mix de cores. Depois, peço à equipe de designers para desenhar minhas ideias junto com as deles. Discutimos todos sobre o produto final. É um longo processo para a alta joalheria. Porém, com os diamantes é diferente: tudo começa pelo design das peças.

L’OFF Você é muito ligada às cores. Se tivesse que trabalhar somente com diamantes seria muito difícil?
LS Não, claro que gosto de diamantes – “the girl’s best friend”. Mas é verdade que preciso pontuá-los com cores, preciso delas.

L’OFF Quando era criança, você era do tipo de garota que gostava de brincar com as joias da mãe?
LS Não. Na verdade, quando era criança, o meu sonho era ser fashion designer. Minha mãe trabalhava com alfaiataria. Conversávamos sobre design, matérias-primas. Foi aí que descobri o meu talento para as cores.

L’OFF O que você acha do uso de joias durante o dia, comportamento que se tem tornado comum nos últimos dez anos?
LS Posso falar sobre como uso as joias. Escolho as peças que vou usar no dia logo de manhã – e elas me acompanham até a noite, não troco. Minha sugestão é usá-las à vontade. Pedras coloridas podem ser usadas facilmente a qualquer momento.

L’OFF Qual é a sua pedra favorita?
LS Essa é uma pergunta difícil, mas a minha pedra do coração é a safira.

L’OFF Você se lembra dos detalhes da sua primeira coleção para Bvlgari?
LS Lembro que, na época, ainda não era diretora de criação. A coleção que mudou a minha carreira se chama “Flora”. Por volta de 2008, tive a sorte de encontrar um grande lote de safiras, no Sri Lanka. O senhor Bulgari me deixou livre para experimentar composições com as pedras. Em um dia apenas, minha mesa ficou repleta de flores de safira. E ele me disse, ao ver a mesa: “Você fez um ótimo trabalho, podemos chamar os designers e criar uma coleção chamada ‘Flora’”. Assim, comecei a me envolver com a criação.

L’OFF Dizem que as pedras têm energia. Quais pedras para você trazem esse tipo de força?
LS As pedras em geral me trazem positividade. Ao tocá-las me sinto melhor, mais tranquila. Há vida dentro das pedras, posso ver várias coisas dentro delas. As pedras falam comigo. Uso muitas vezes um colar de ametistas. Quando estou ansiosa, procuro tocá-las e logo fico bem. Para mim, as pedras são vida, emoção.

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Foto: Divulgação

L’OFF Roma é muito importante para Bvlgari. A cidade influencia sua inspiração? Como?
LS Em Roma, tiro fotos de todos os lugares. Fui recentemente ao Vaticano – cada esquina tem algo diferente. Descubro novidades todos os dias na arquitetura, nos monumentos... Mas o que é realmente especial em Roma são as cores, os azuis do céu, o pôr do sol.

L’OFF Como você fez as coleções Serpenti, a B. Zero 1 Rock, coleções icônicas da Bvlgari?
LS Foi um desafio, trabalhamos muito para trazer contemporaneidade. De tempos em tempos, a equipe se reúne para modernizar, sem alterar o DNA da coleção. Criamos a ideia da serpente sedutora, a pele. A última foi a B. Zero 1 Rock. Muito rock’n’roll salpicado de tachas.

L’OFF O que pode ser considerado timeless nas joias de hoje, em termos de design, pedras e cores?
LS A Bvlgari é timeless. Você pode reconhecer a marca nas peças e usá-las por toda a vida, completando diferentes looks. O “Poncho” é um modelo incrível – o colar que veste a mulher. Fizemos em branco e depois em cores, bem no estilo Cleópatra. Depois, foi a vez da coleção Jannah, da qual tenho muito orgulho. Ela nasceu com a participação de Sheika Fatima, pessoa com quem tive uma conexão instantânea. Fomos apresentadas em seu palácio, em Abu Dhabi. Ela é muito simples e gentil, logo começamos a conversar. Ela queria criar algo especial para a sua avó, tendo como inspiração os mosaicos da mesquita Sheik Zaued, de seu avô. Fui até a mesquita com a equipe de designers e tiramos várias fotos. Pensei que as flores podiam representar o seu desejo. Fizemos alguns desenhos e mostramos a ela. “Vocês acertaram, posso ver a mesquita, posso ver a Bvlgari”, exclamou. Daí nasceu toda uma coleção. A peça principal foi para a sua avó.

L’OFF A coleção Cinemagia, lançada no ano passado, é bem divertida. Hoje a alta joalheria deve agradar a todas as idades?
LS Sim, claro, a Cinemagia faz muito sucesso em Roma. Grandes divas serviram de inspiração para mim: Elizabeth Taylor, Sofia Loren, Gina Lollobrigida, enfim o cinema como um todo. Cinemagia lembra a época da Dolce Vita, onde tudo era colorido, alegre e o cinema tinha uma grande importância aqui em Roma.

L’OFF E das novas gerações, quem são suas musas?
LS Lily Aldrigde, Zendaya e Naomi Scott, que atuou no filme As Panteras, de 2019. Elas também fizeram parte da última campanha da Bvlgari, todas elas representam muito bem a marca.

L’OFF O que você acredita que mudou na relação das mulheres com as joias?
LS Antes era um acessório, agora é fundamental. Hoje, a joia serve para personalizar a roupa. A personalidade de quem usa é comunicada por meio da joia.

L’OFF E a sua peça preferida, qual é?
LS É o sautoir da Elizabeth Taylor. Seu cabochon (almofada) de safira, originária de Myanmar (Birmânia), tem uma cor perfeita. O senhor Bulgari ficou meia hora de portas fechadas apenas observando essa safira, quando ela chegou. Se olhar dentro dela, vai ver o reflexo das profundezas do oceano.

Créditos:
Entrevista RENATA BROSINA
Tradução CLAUDIA LEVRON
Texto KARINA HOLLO

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