Juliana Pereira, managing director da Montblanc no Brasil &ndash; e primeira brasileira a ocupar esse cargo &ndash; em entrevista exclusiva a L&rsquo;Officiel Brasil

<a href="https://www.revistalofficiel.com.br/moda/l-officiel-116-confira-os-destaques-da-edicao-de-outubro">Juliana Pereira</a>, managing director da <a href="https://www.revistalofficiel.com.br/hommes/montblanc-amplia-seus-limites-com-o-iced-sea-0-oxygen-deep-4810">Montblanc</a> no Brasil &ndash; e primeira brasileira a ocupar esse cargo &ndash; fala sobre sua trajet&oacute;ria no <a href="https://www.revistalofficiel.com.br/moda/savoir-faire-em-essencia-estrategias-dos-grandes-grupos-de-luxo">mercado de luxo</a> e da import&acirc;ncia de contar hist&oacute;rias. Confira!

Se h&aacute; 20 anos voc&ecirc; perguntasse a Juliana Pereira se ela imaginava que seria a brasileira no posto de managing director da Montblanc no Brasil, ela provavelmente diria n&atilde;o. &ldquo;Minha ideia n&atilde;o era atuar no mercado de luxo&hellip; O plano inicial era trabalhar com letras, com palavras, ser escritora&rdquo;, conta ela, que se formou em Letras, na USP, e come&ccedil;ou a fazer tradu&ccedil;&otilde;es para se manter. &ldquo;Esse era o meu plano infal&iacute;vel, aos 17 anos. E a&iacute; a vida foi acontecendo.&rdquo; Juliana dava aulas de ingl&ecirc;s para crian&ccedil;as e adolescentes, tinha facilidade com l&iacute;nguas. E foi o que a levou a trabalhar no universo de alimentos e vinhos importados. &ldquo;Entrei no departamento de compras e importa&ccedil;&atilde;o da Expand e tinha contato direto com os fornecedores de alimentos premium do Emp&oacute;rio Santa Maria&rdquo;, conta ela. Nascia ali uma paix&atilde;o pela gastronomia e pela enocultura. Juliana ent&atilde;o abandonou a segunda faculdade, de Tradu&ccedil;&atilde;o, e se manteve s&oacute; em Letras. &ldquo;O plano ainda era escrever, mas fui me apaixonando demais por vinho e passei a estudar. A Expand na &eacute;poca tinha um programa chamado Wine Education. A ideia era democratizar o vinho &ndash; e deu supercerto&rdquo;, lembra. Em dez anos de casa, al&eacute;m dos cursos internos de aperfei&ccedil;oamento, fazia degusta&ccedil;&otilde;es verticais com os produtores e os acompanhava nas viagens que eles faziam ao Brasil. &ldquo;E, assim, fui para um lado que era menos t&eacute;cnico, de compra, e mais de relacionamento, de gest&atilde;o de produto. Tive a oportunidade de crescer nessa &aacute;rea, muito ligada no Velho Mundo. Na &eacute;poca, a comunidade europeia estava muito focada nos Brics, e o Brasil estava no auge.&rdquo; Surgiu uma oportunidade de ir para a It&aacute;lia, a fim de desenvolver projetos de fomento das marcas europeias de vinho para o Brasil, e em um m&ecirc;s ela estava morando l&aacute;. &ldquo;Foram quase tr&ecirc;s anos e meio. Eu morava em um vilarejo de 5 mil habitantes chamado Montebello Vicentino, perto de Verona. O escrit&oacute;rio era em um pr&eacute;dio de tr&ecirc;s andares &ndash; e eu morava no primeiro andar. Para quem saiu de S&atilde;o Paulo, essa pausa foi um abre-olhos: havia outra forma de existir, em outro ritmo. Essa &eacute;poca na It&aacute;lia me ensinou muito isso: o &oacute;cio criativo &eacute; necess&aacute;rio. Voc&ecirc; precisa de pausas para poder ser mais ativo, mais criativo. Nessa &eacute;poca eu estava bem focada em vinho, um produto que tem muito a ver com prazer, com socializa&ccedil;&atilde;o, com celebra&ccedil;&atilde;o. Aqui nas Am&eacute;ricas, ele &eacute; uma bebida alco&oacute;lica, enquanto na Europa &eacute; um alimento. &Eacute; um produto apaixonante, n&atilde;o &agrave; toa se tornou meu hobby.&rdquo;

Morando l&aacute;, fez &oacute;timos amigos. Mas resolveu voltar, ainda a convite da Expand, para assumir o marketing, a comunica&ccedil;&atilde;o e a ger&ecirc;ncia de produtos. &ldquo;Eu sa&iacute; de casa cedo, aos 18 anos. Meu pai &eacute; de Pernambuco e a fam&iacute;lia da minha m&atilde;e &eacute; do interior de S&atilde;o Paulo. J&aacute; tinha uma experi&ecirc;ncia em Nova York para estudar. Eu queria voltar e fazer a minha hist&oacute;ria no Brasil.&rdquo;
Depois de dez anos no segmento de vinhos, Juliana decidiu sair da zona de conforto. &ldquo;Sou uma pessoa de ciclos longos. Mas era hora de mudar. E, ent&atilde;o, fui chamada por um ex-colega de Expand para uma vaga na Montblanc. Mas ela era muito ligada a planejamento, compras e supply. A&iacute; eu pensei bem: &eacute; essa a marca, esse, o segmento, mas essa n&atilde;o &eacute; a posi&ccedil;&atilde;o. Disse n&atilde;o, e em uns seis meses, at&eacute; menos, surgiu uma vaga de marketing.&rdquo; Isso foi h&aacute; 13 anos. A seguir, ela conta mais sobre a hist&oacute;ria que vem escrevendo na Montblanc, hoje como CEO da marca no Brasil.

L&rsquo;OFFICIEL: Voc&ecirc; disse ser uma pessoa de ciclos longos. Como analisa sua trajet&oacute;ria na Montblanc?&nbsp;
JULIANA PEREIRA Desde a minha entrada at&eacute; a compra da subsidi&aacute;ria, de dois em dois anos, eu tive uma grande mudan&ccedil;a dentro da mesma empresa. N&atilde;o senti esse tempo passar. Em 2017, inquieta, me dediquei a fazer o e-commerce da Montblanc no Brasil. Foi um &oacute;timo timing, a gente n&atilde;o sabia da pandemia, mas&hellip; Foi o primeiro e-com da Richemont no Brasil. O grupo toma muito cuidado ao entrar em projetos novos, principalmente de tecnologia. E a&iacute; foi! Veio a pandemia, e conseguimos ser bem resilientes, ter um m&eacute;todo de venda remoto, n&atilde;o ficamos um dia na verdade sem faturar. E nossos vendedores da loja conseguiam fazer venda assistida pelo site. Ent&atilde;o eles tamb&eacute;m n&atilde;o ficaram sem trabalhar e sem faturar. Depois, outras marcas do grupo fizeram tamb&eacute;m. Eu tenho orgulho disso, porque, se o grupo cresce, nosso neg&oacute;cio cresce. E, de verdade, a Montblanc se reinventou nos &uacute;ltimos 15 anos. Ela era uma marca de instrumentos de escrita e se tornou uma marca de estilo de vida, de lifestyle. E n&atilde;o s&oacute; com discurso, storytelling, mas com produtos, com uma entrega de valor. N&atilde;o s&oacute; diversificando a forma que a gente se relaciona com o cliente &ndash; seja em ter um e-commerce e ferramentas de omnichannel para facilitar o dia a dia e tudo, mas tamb&eacute;m com as escolhas que a marca tem feito.

L&rsquo;O Os instrumentos da escrita de novo na sua vida&hellip;&nbsp;
JP Sim! Temos levantado muito a bandeira da cultura da escrita, de quanto isso &eacute; parte da hist&oacute;ria da humanidade, quanto a nossa evolu&ccedil;&atilde;o como seres humanos, como comunidade, como humanidade, passa pela escrita. Muita gente ainda n&atilde;o sabe, mas a Montblanc &eacute; alem&atilde;. E a Montblanc Haus fica em Hamburgo, na frente da nossa sede. S&atilde;o 4 mil metros quadrados de experi&ecirc;ncia interativa e de homenagem &agrave; escrita, &agrave; palavra, em todas as suas formas. &Eacute; uma atra&ccedil;&atilde;o tur&iacute;stica aberta ao p&uacute;blico, porque a gente tamb&eacute;m tem essa miss&atilde;o de inspirar a escrita. Tanto que o nosso tagline &eacute; Inspire Writing. &Eacute; mais do que ter um produto para isso. &Eacute; inspirar para que as pessoas fa&ccedil;am isso, para que as pessoas continuem escrevendo &agrave; m&atilde;o e colocando um peda&ccedil;o de si naquele papel. Porque hoje em dia a gente est&aacute; sempre com pressa, correndo, manda uma mensagem, manda um &aacute;udio. A hora que voc&ecirc; para, pega uma caneta, um papel, escreve, que seja uma frase, uma palavra, tem um peda&ccedil;o seu ali.

L&rsquo;O Voc&ecirc; &eacute; a quinta mulher a assumir a dire&ccedil;&atilde;o da marca em um pa&iacute;s. Quais os desafios?
JP &Eacute; uma &aacute;rea muito competitiva. Mas quando voc&ecirc; demonstra que pode ser competitiva, mas com uma delicadeza ou com uma gentileza mesmo, isso pode incomodar ou passar certa fragilidade. Ent&atilde;o, em alguns momentos eu tenho que deixar um pouco de lado a Juliana gentil que eu sou no meu dia a dia e ser mais assertiva, mais clara, mais direta. Eu acho que tamb&eacute;m tem um ponto do ser latino-americano e de lidar com o europeu. Eles tamb&eacute;m s&atilde;o muito diretos, principalmente no mundo dos neg&oacute;cios. Aprendi a separar: aqui &eacute; trabalho, eu vou ser direta, clara, e vou entregar o que &eacute; esperado, mas sem perder a minha ess&ecirc;ncia, essa coisa da latinidade que &eacute; o nosso diferencial. Hoje, o servi&ccedil;o das nossas lojas, o atendimento do nosso p&uacute;blico, a gente tem a avalia&ccedil;&atilde;o mais alta do global. Tem essa coisa da pessoa, do humano, do trato. A dor e a del&iacute;cia de ser latino-americana. E a mulher, no mundo corporativo, tem que se provar mais.

L&rsquo;O Como &eacute; que voc&ecirc; lida com o tempo e com o passar dele?&nbsp;
JP Quanto mais experiente, mas eu lido melhor com o meu tempo, eu acho. Porque quando mais jovem eu lembro de estar sempre correndo, achando que eu n&atilde;o tinha tempo para nada. De um tempo para c&aacute;, tenho tido mais calma para fazer as coisas. Parei de fazer mil coisas ao mesmo tempo. Tenho meus momentos sem tela&hellip; E essa sabedoria veio para a carreira tamb&eacute;m. Descobri que a gente n&atilde;o faz nada sozinha. Reconhecer isso e estar de bem com isso, pedir ajuda, ter aliados, &eacute; maravilhoso. &Eacute; dividir um pouco esse peso. Voc&ecirc; precisa de aliados, de amigos, de amigas, da fam&iacute;lia, da parceria. Ter sua equipe e poder contar com as pessoas. Uma das coisas que me fizeram aceitar esse cargo rapidamente foi conhecer a equipe que eu teria. Isso me deixou muito mais segura. E voltando para o tempo: tem muito essa cultura do fa&ccedil;a na hora, resolva na hora e tal. Eu n&atilde;o sou a favor de procrastinar, mas eu n&atilde;o gosto de fazer as coisas muito no impulso. Gosto de ter o meu tempo para analisar a situa&ccedil;&atilde;o, mesmo que sejam cinco minutos. Olhar de outro &acirc;ngulo, pedir a opini&atilde;o de uma outra pessoa, sair para tomar um copo de &aacute;gua, um caf&eacute; e depois mandar um e-mail. Eu acho que isso j&aacute; me ajudou a tomar boas decis&otilde;es. Acho que o tempo, se a gente souber usar, pode ser nosso parceiro.

L&rsquo;O E o que gosta de fazer no seu tempo livre?&nbsp;
JP Um hobby meu, desde sempre, desde bem novinha, &eacute; fazer trilha. Estar no meio da natureza me tira dessa loucura do dia a dia. J&aacute; viajei o Brasil quase todo: Pantanal, Amaz&ocirc;nia, todas as Chapadas. O Brasil tem uma diversidade de p&aacute;ssaros que &eacute; incr&iacute;vel. E tem uma comunidade de birdwatching que &eacute; uma coisa, assim, bem de geek. As cores incr&iacute;veis, o canto, a liberdade de poder voar me d&aacute; uma paz, me tira da rotina do dia a dia. Sou uma birdwatcher amadora. Tenho at&eacute; bin&oacute;culo.
L&rsquo;O Um pouco birdwatching, um pouco mercado de luxo?&nbsp;
JP Acho que os opostos se equilibram e me p&otilde;em centrada. Eu sou uma profissional no mercado de luxo, mas n&atilde;o sou cliente-alvo. Eu acho que isso &eacute; muito importante para me manter no centro. Ele &eacute; uma parte da minha vida, mas n&atilde;o &eacute; a minha vida toda.

L&rsquo;O E para a gente fechar: quando voc&ecirc; ganhou seu primeiro rel&oacute;gio e a sua primeira caneta importante?&nbsp;
JP O rel&oacute;gio eu ganhei dos meus pais. Foi de formatura. Um Orient, de mostrador azulzinho, tenho at&eacute; hoje. Depois teve um superimportante para mim, que ganhei dos meus amigos da It&aacute;lia, um Tissot. E, claro, o meu Montblanc Boh&egrave;me, que me dei de presente e marca essa d&eacute;cada na empresa. E canetas? Quando fui para os Estados Unidos estudar, a gente n&atilde;o tinha WhatsApp. Tinha que escrever cartas para os meus pais, para os meus amigos. No dia em que eu cheguei l&aacute;, fui a uma Newark e tinha um quiosque de coisinha stationery &ndash; comprei uma caneta l&aacute;. De tinta roxa. Naquele ano, eu escrevi at&eacute; acabar a tinta daquela caneta. E, &oacute;bvio, a minha primeira Montblanc: escolhi uma que tinha um diamante, em comemora&ccedil;&atilde;o aos 100 anos da marca, lan&ccedil;ada em 2006, com a lapida&ccedil;&atilde;o do nosso emblema da estrela em forma de diamante. Comprei quando completei dez anos de carreira na Montblanc.

FOTOS: IGOR KALINOUSKI.
TEXTO: KARINA HOLLO.
STYLIST: MARCIO VICENTINI.
ASSISTENTE DE STYLIST: FLAMINIO VICENTINI.
MAKE: RAUL DE MELO.
ASSISTENTE DE MAKE: ELDER BERGAMO BOTTEON.
ASSISTENTE DE FOTOGRAFIA: VICTORIA CAVALCANTE.
PRODU&Ccedil;&Atilde;O EXECUTIVA: ALESSANDRA DELLA ROCCA.

Montblanc: Juliana Pereira fala sobre sua trajetória até a marca

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