Joias

Relendo Mapplethorpe: coleção e parceria inédita com Gaia Repossi

Relendo Mapplethorpe, nova coleção de joias únicas homenageia da uma face quase ignorada do lendário fotógrafo: seu feitiço pela construção de amuletos

Gaia Repossi
Gaia Repossi

Robert Mapplethorpe é um personagem de vários apostos. Uma das tantas vítimas da epidemia de HIV, o fotógrafo nova-iorquino deixou um legado de imagens em preto e branco que passeiam por naturezas-mortas delicadas a nus poéticos e fetichistas, sendo também um importante marcador – tanto como personagem quanto como artista – das subculturas homossexuais dos anos 1970 e 1980.

Contudo, o criador não trabalhou apenas com fotografia. Antes de se estabelecer com sua câmera Hasselblad, ele expressava emoções por meio de manualidades: com pequenas instalações e, principalmente, na construção de acessórios que encarava como esculturas vestíveis cheias de significados. Apesar de seus retratos, em que aparece sempre coberto de colares e outros badulaques, muita gente passa ao largo desse seu lado criativo. As peças, que a princípio eram feitas para sua mãe, viraram marca visual da fase “míticos” em que Mapplethorpe viveu no Chelsea Hotel ao lado da cantora Patti Smith, entre o fim dos anos 1960 e começo dos 1970. Eram, além de sua expressão de estilo, presentes afetuosos a amigos próximos e vendidos a poucos personagens – como Yves Saint Laurent e Marisa Berenson. Hoje, ganham destaque em mostras sobre a obra do fotógrafo, e os raros que restam em coleções particulares são disputados em leilões. 

Robert Mapplethorpe e Gaia Repossi
Robert Mapplethorpe e o modelo Jay Johnson usam acessórios criados pelo fotógrafo. Foto: Valerie Santiago

Depois de tantas décadas, esse imagético tão particular é retrabalhado em uma série de alta joalheria, que tem sua primeira fase lançada agora, com promessa de outra para 2022, resultado de uma parceria inédita da Robert Mapplethorpe Foundation com Gaia Repossi, bisneta do criador do ateliê francês Repossi, fundado nos anos 1920 e especializado na manufatura de joias únicas e feitas a mão. Fã do homenageado, Gaia teve o privilégio de passar três anos mergulhada no imenso acervo que é mantido pela fundação para criar o que ela classifica de “tributo a sua estética genial”.

A coleção, com oito peças, é uma releitura luxuosa de materiais banais. O artista não era dado a construir seus acessórios com elementos preciosos, muito pelo contrário. Tratando seus colares como amuletos especiais, fazia assemblages de itens que encontrava em lojas de segunda mão e mercados de pulgas – pequenas caveiras, dentes, dados, cruzes ou miçangas variadas. Patti, sua grande alma gêmea, que descreveu o relacionamento dos dois no livro Só Garotos, já contou como ficava de olho no restaurante do Chelsea Hotel para resgatar patas de lagostas e caranguejos para que ele as usasse como matéria-prima.

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Robert Mapplethorpe e Gaia Repossi
Duas criações da coleção sobre obras Untitled (White Cat) e Orchid. Fotos: Divulgação

Agora, a designer francesa refez uma dessas patas em um pingente de ouro branco, pendurado em um cordão na companhia de pérolas cobertas de rutênio ou cravejadas com diamantes. A maneira que Mapplethorpe usava seus colares, acumulados em quantidade sobre o peito, resulta em uma corrente de cinco voltas com diâmetros diferentes, também de ouro branco, com mais de 1.200 diamantes. Inspiradas não só nas peças originais, as joias também fazem referência ao trabalho fotográfico de Mapplethorpe – como no anel que relê a bandeira dos EUA, inspirado na clássica foto da modelo Lisa Lyon usando um vestido do estilista Jean-Charles de Castelbajac.

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